Lara Resende: há um enorme terrorismo sobre dívida em 100% do PIB no país
Um dos formuladores do Plano Real participou do evento digital Brasa Talks nesta quarta-feira, no painel “Política Monetária: Uma Visão Alternativa ”
Ligia Tuon
Publicado em 25 de novembro de 2020 às 18h20.
Última atualização em 25 de novembro de 2020 às 19h17.
Era inimaginável no ao passado que a dívida pública federal sairia de 75% do produto interno bruto para quase 100% do PIB em tão pouco tempo. Isso porque o país vinha tentando reduzir, a duras penas, essa proporção, para tornar crível aos investidores sua responsabilidade fiscal.
É inegável que os esforços para reduzir essa proporção foram positivos, mas as preocupações em torno do salto que esse número teve no último ano, em razão da pandemia do coronavírus, têm sido um tanto exageradas, na opinião do economista André Lara Resende.
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"Eu escuto o tempo todo o pessoal dizendo que estamos à beira de uma crise fiscal, por causa da relação dívida-PIB chegando a 100%, o que considero um enorme terrorismo", disse ele, que foi um dos formuladores do Plano Real, durante o evento digital Brasa Talks nesta quarta-feira, 25, no painel “Política Monetária: Uma Visão Alternativa”.
"É óbvio que a dívida não pode ter uma trajetória explosiva, mas pode subir momentaneamente, desde que, no momento seguinte, haja uma perspectiva de que ela vai voltar a se estabilizar. É a credibilidade na solvência do Estado que ancora os preços", diz.
Lara Resende bate na tecla, ainda, de que as pessoas confundem dívida externa, em moeda estrangeira, com dívida interna, que é o caso da brasileira.
"Mas aí você pode me perguntar: A dívida não pode causar crise de confiança? Se a dívida é externa, de fato, o país não tem capacidade de emitir a moeda. É uma situação muito perigosa", diz. "Mas não é o caso do Brasil."
Durante a conversa, numa provocação à teoria moderna do dinheiro (MMT), o economista levanta a questão: a teoria de que o hiato do produto determina a inflação foi desmentida com os grandes eventos do século 21: "Com a crise financeira, o experimento dos BCs com o quantitative easing (QE ou flexibilização quantitativa) multiplicou a base monetária dos países em dez ou até 15 vezes. Isso não teve nenhum efeito sobre a inflação. Se havia alguma dúvida sobre o efeito da base monetária nos preços, foi totalmente desmentido", diz.
O painel trouxe essas e outras reflexões sobre o momento da economia global. Veja o vídeo completo: