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Investimentos no primeiro ano do governo Dilma não conseguem crescer

A contenção dos investimentos foi a saída que o governo encontrou para fazer um superavit primário maior diante das incertezas internacionais

Dilma pode estar gerando desconforto em certos setores de sua base de apoio parlamentar, aumentando os custos do gerenciamento de sua agenda (Roberto Stuckert Filho/PR)
DR

Da Redação

Publicado em 14 de novembro de 2011 às 17h31.

São Paulo - Os investimentos federais praticamente ficaram estáveis, com pequena retração, nos dez primeiros meses deste ano frente a 2010, mesmo se tratando de uma das principais bandeiras do atual governo, que tem defendido abertamente a necessidade de desembolsos para melhorar a infraestruturta do país.

Até outubro, foram aplicados R$ 35,1 bilhões neste ano, uma queda de 2,8% em relação ao mesmo período do ano passado, segundo dados do Sistema Integrado de Adminsitração Financeira (Siafi), ligado ao Ministério da Fazenda.

A cifra de agora representa menos de 1% do Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro. Recentemente, o secretário do Tesouro Nacional, Arno Augustin, havia reconhecido que o nível de investimento não estava satisfatório no país, mas que acreditava que neste ano ainda haveria aumento nos desembolsos.

Analistas ouvidos pela Reuters reforçam que a contenção dos investimentos foi a saída que o governo encontrou para fazer um superavit primário --economia para pagamento de juros-- maior diante das incertezas internacionais. Argumentam ainda que, até agora, o governo não deu nenhum sinal de medidas sustentáveis de readequação dos gastos, como a limitação do crescimento da despesa com pessoal.

"O governo precisava conter o crescimento dos gastos este ano. Como o gasto corrente é difícil de reescalonar, sobra para o investimento", afirmou o ex-secretário de Política Econômica do Ministério da Fazenda Júlio Gomes de Almeida.


O especialista em contas públicas Raul Velloso também não vê com bons olhos o atual comportamento das contas públicas do país. "O governo está usando o investimento como varíavel de ajuste", afirmou ele. "Nem o valor nem a qualidade do investimento está adequado. É só olhar a infraestrutura do país. Estão faltando obras, projeto e dinheiro."

Cortes nos ministérios

De toda a Esplanada, 14 ministérios e a Presidência da República registraram queda nos valores desembolsados nos dez meses desse ano. O mais afetado foi o Ministério do Esporte, que viu o valor aplicado cair 59%, para R$ 98,9 milhões até outubro. Logo em seguida vem Integração Nacional, com cortes de 50%, para R$ 1,9 bilhão.

Pastas responsáveis por programas importantes para o governo também contribuem para a tendência de queda dos investimentos. O Ministério das Cidades, por exemplo, investiu R$ 2,3 bilhões entre janeiro e outubro deste ano, contra R$ 3,9 bilhões no ano passado. Uma das explicações é que o programa Minha Casa Minha Vida não é contado como investimento, mas como subsídio.

O Tesouro Nacional estuda rever essa classificação para incluir a bandeira habitacional do governo Dilma dentro dos valores investidos. O governo prometeu que iria empenhar 80% do total das emendas individuais do Orçamento 2011 para agradar a deputados e senadores. A liberação deve ser a conta-gotas, para não acabar com o esforço fiscal de economizar R$ 39 bilhões no ano.

Numa conta hipotética, caso o governo liberasse os 80%, o que equivale a R$ 12 bilhões, o corte cairia para R$ 27 bilhões. O dinheiro das emendas vai entrar na execução do orçamento de 2012 como restos a pagar. Essa mesma lógica será adotada para os investimentos.
Investir para crescer.


É consenso que, para o Brasil continuar crescendo, os investimentos são imprescindíveis. Para o professor da Escola Trevisan de Negócios Alcides Leite, garantir uma expansão econômica de 5% ao ano exige uma taxa total de investimento de 25% do PIB, incluindo os valores federais, das empresas estatais e da iniciativa privada. Segundo ele, esse percentual hoje não chega a 19%.

"Para aumentar o volume de investimento, tem que aumentar o investimento público, que abre as condições para investimento privado, que depende de uma rodovia, aeroporto e energia elétrica", afirmou Leite, pregando que o governo diminua o gasto corrente e com juros da dívida.

Os especialistas apostam que, em 2012, com a aproximação da Copa do Mundo de 2014 e dos Jogos Olímpicos de 2016, no Rio de Janeiro, a taxa de investimento deve se expandir em relação aos anos anteriores.

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São Paulo - Os investimentos federais praticamente ficaram estáveis, com pequena retração, nos dez primeiros meses deste ano frente a 2010, mesmo se tratando de uma das principais bandeiras do atual governo, que tem defendido abertamente a necessidade de desembolsos para melhorar a infraestruturta do país.

Até outubro, foram aplicados R$ 35,1 bilhões neste ano, uma queda de 2,8% em relação ao mesmo período do ano passado, segundo dados do Sistema Integrado de Adminsitração Financeira (Siafi), ligado ao Ministério da Fazenda.

A cifra de agora representa menos de 1% do Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro. Recentemente, o secretário do Tesouro Nacional, Arno Augustin, havia reconhecido que o nível de investimento não estava satisfatório no país, mas que acreditava que neste ano ainda haveria aumento nos desembolsos.

Analistas ouvidos pela Reuters reforçam que a contenção dos investimentos foi a saída que o governo encontrou para fazer um superavit primário --economia para pagamento de juros-- maior diante das incertezas internacionais. Argumentam ainda que, até agora, o governo não deu nenhum sinal de medidas sustentáveis de readequação dos gastos, como a limitação do crescimento da despesa com pessoal.

"O governo precisava conter o crescimento dos gastos este ano. Como o gasto corrente é difícil de reescalonar, sobra para o investimento", afirmou o ex-secretário de Política Econômica do Ministério da Fazenda Júlio Gomes de Almeida.


O especialista em contas públicas Raul Velloso também não vê com bons olhos o atual comportamento das contas públicas do país. "O governo está usando o investimento como varíavel de ajuste", afirmou ele. "Nem o valor nem a qualidade do investimento está adequado. É só olhar a infraestrutura do país. Estão faltando obras, projeto e dinheiro."

Cortes nos ministérios

De toda a Esplanada, 14 ministérios e a Presidência da República registraram queda nos valores desembolsados nos dez meses desse ano. O mais afetado foi o Ministério do Esporte, que viu o valor aplicado cair 59%, para R$ 98,9 milhões até outubro. Logo em seguida vem Integração Nacional, com cortes de 50%, para R$ 1,9 bilhão.

Pastas responsáveis por programas importantes para o governo também contribuem para a tendência de queda dos investimentos. O Ministério das Cidades, por exemplo, investiu R$ 2,3 bilhões entre janeiro e outubro deste ano, contra R$ 3,9 bilhões no ano passado. Uma das explicações é que o programa Minha Casa Minha Vida não é contado como investimento, mas como subsídio.

O Tesouro Nacional estuda rever essa classificação para incluir a bandeira habitacional do governo Dilma dentro dos valores investidos. O governo prometeu que iria empenhar 80% do total das emendas individuais do Orçamento 2011 para agradar a deputados e senadores. A liberação deve ser a conta-gotas, para não acabar com o esforço fiscal de economizar R$ 39 bilhões no ano.

Numa conta hipotética, caso o governo liberasse os 80%, o que equivale a R$ 12 bilhões, o corte cairia para R$ 27 bilhões. O dinheiro das emendas vai entrar na execução do orçamento de 2012 como restos a pagar. Essa mesma lógica será adotada para os investimentos.
Investir para crescer.


É consenso que, para o Brasil continuar crescendo, os investimentos são imprescindíveis. Para o professor da Escola Trevisan de Negócios Alcides Leite, garantir uma expansão econômica de 5% ao ano exige uma taxa total de investimento de 25% do PIB, incluindo os valores federais, das empresas estatais e da iniciativa privada. Segundo ele, esse percentual hoje não chega a 19%.

"Para aumentar o volume de investimento, tem que aumentar o investimento público, que abre as condições para investimento privado, que depende de uma rodovia, aeroporto e energia elétrica", afirmou Leite, pregando que o governo diminua o gasto corrente e com juros da dívida.

Os especialistas apostam que, em 2012, com a aproximação da Copa do Mundo de 2014 e dos Jogos Olímpicos de 2016, no Rio de Janeiro, a taxa de investimento deve se expandir em relação aos anos anteriores.

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