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Frustração com cessão onerosa fez dólar subir, diz Campos Neto

O presidente do BC ressaltou mais uma vez a importância de o Brasil ter taxas de juros longas em níveis baixos, para facilitar o investimento privado

Comissão de Assuntos Econômicos (CAE) realiza audiência pública com o presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, para discutir política monetária (Marcos Oliveira/Agência Senado)
AB

Agência Brasil

Publicado em 19 de novembro de 2019 às 11h43.

Última atualização em 19 de novembro de 2019 às 16h14.

A frustração com a entrada de dólares por meio do leilão da cessão onerosa levou à recente alta do dólar, afirmou o presidente do Banco Central (BC), Roberto Campos Neto , em audiência pública na Comissão de Assuntos Econômicos do Senado, nesta terça-feira (19).

O leilão da cessão onerosa (excedente do volume de petróleo e gás que a União cedeu à Petrobras) teve uma arrecadação de R$ 69,960 bilhões em bônus de assinatura. A previsão de arrecadação era de até R$ 106,5 bilhões.

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"Teve um movimento mais recente que foi a cessão onerosa. Alguns agentes esperavam uma entrada de recursos maior", disse Campos Neto, acrescentando que muitos agentes de mercado se "posicionaram para capturar o dólar caindo com essa entrada". Como isso não ocorreu, houve aumento do dólar. "Mais recententemente, de fato, teve uma frustração com cessão onerosa por agentes que tinham se posicionado para esse movimento. Como não ocorreu, houve uma saída de dólares. Mas nós estamos monitorando isso de perto", afirmou.

Campos Neto disse ainda que a alta do dólar é global, além de produzir efeito no país dos exportadores e importadores que "seguram o câmbio" ao deixar recursos no exterior.

Outro fator, disse Campos Neto, foi a decisão de empresas de antecipar pagamento de dívida no exterior para substituir por recursos no Brasil. Esse movimento foi impulsionado pela Petrobras que deve continuar a fazer "pré-pagamentos", afirmou o presidente do BC. "Esse movimento foi bastante puxado pela Petrobras que fez um volume grande e que, aparentemente, pelas declarações vai continuar fazendo", disse.

Segundo Campos Neto, as empresas preferem ter dívida local em vez de dívidas no exterior porque a exposição a moeda estrangeira cria risco adicional.

Com movimentos de saída de dólares do país maiores que as entradas, a moeda estrangeira fica mais cara.

Campos Neto acrescentou que a alta ocorreu em momento de "melhora de percepção de risco" no mercado e a desvalorização do real não influenciou a expectativa de inflação. "Geralmente quando a moeda desvalorizava vinha acompanhada de um aumento de percepção de Risco Brasil, a bolsa caía, o CDS [ Credit Default Swap - instrumento financeiro em que varia de acordo com o risco de crédito] piorava e não foi o aconteceu esse ano. A gente teve uma moeda que desvalorizou, mas com percepção de melhora, que se transforma em curva de juros mais baixa, bolsa mais alta. Veio acompanhada de melhora de percepção de risco. E isso não influenciou a expectativa de inflação", disse.

Campos Neto afirmou que o Banco Central está preparado para mudar sua atuação caso a alta do dólar afete a inflação.

Hoje, o dólar comercial já atingiu R$ 4,21. Ontem (18), em um dia de oscilações no mercado financeiro, a moeda norte-americana teve uma pequena alta e fechou no maior valor da história. O dólar comercial encerrou o dia de ontem vendido a R$ 4,206, com alta de R$ 0,013 (0,3%). Esse foi o maior valor nominal, sem considerar a inflação, desde a criação do real, em julho de 1994.

Nesta terça-feira (19), o BC cancelou leilões de swap cambial reverso (compra de dólares no mercado futuro) e de dólar à vista. Também foi cancelada oferta simultânea de dólar à vista e de contratos de swaps que seria realizada amanhã (20), devido ao feriado da Consciência Negra, em São Paulo. "Os volumes que seriam ofertados nesses dias serão distribuídos nos demais dias úteis do mês", disse o BC, em comunicado.

Inflação

Sobre a alta dos preços, Campos Neto disse que a inflação está bastante baixa e estável no curto, médio e longo prazo no país.,

"A inflação está bastante baixa e bastante estável tanto no curto, médio e longo prazo", disse aos senadores. Segundo Campos Neto, a inflação está baixa em todo o mundo. Além disso, ele citou que no Brasil há o efeito da estratégia do governo de estimular os investimentos privados, no lugar do público, e de ajuste nas contas públicas.

"O Brasil está se reinventando com dinheiro privado e o mercado tem finalmente a compreensão de que o governo tem um programa fiscal sério que vai atingir o equilíbrio das contas públicas", afirmou.

Campos Neto afirmou que os investimentos somente públicos são ineficientes. "O dinheiro público como máquina de crescimento bateu no muro", disse.

Cheque especial

O presidente do BC reafirmou que tem um projeto para redesenhar o cheque especial, considerado "um produto muito regressivo", com peso maior de juros sobre quem tem menor renda.

Campos Neto também afirmou que nos próximos dias será lançado um mutirão de renegociação de dívidas com os bancos. No início do mês, em audiência na Câmara dos Deputados, ele disse que está negociando a abertura de agências aos sábados ou após o horário normal de funcionamento para renegociar dívidas. Em troca pela renegociação, os clientes terão que fazer um curso de educação financeira.

 

 

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