Inflação em alta vai na contramão da América Latina
Inflação continua acelerando no Brasil, quadro que não se repete na Colômbia, no Chile, no Peru ou no México, os novos quatro grandes da AL, na visão de especialistas
Da Redação
Publicado em 10 de fevereiro de 2013 às 09h20.
Brasília - Ao mesmo tempo em que o Banco Central informa que não se sente confortável com os índices de preços e a inflação oficial surpreende para cima, no Brasil, outros países da América Latina lidam com um cenário inverso, com inflação em queda e possibilidade de novos cortes de juros. A resistência da inflação nacional divide economistas ouvidos pelo Estado. Há quem atribua o comportamento dos preços brasileiros a erros do governo Dilma Rousseff, ao baixo desemprego e à crise financeira global.
Segundo o IBGE, o índice oficial de inflação foi de 0,86% em janeiro, o maior desde 2003. O número elevou a inflação em 12 meses dos 5,84%, em dezembro, para 6,15%, no mês passado. Ou seja: a inflação continua acelerando. Esse quadro não se repete na Colômbia, no Chile, no Peru ou no México, os novos quatro grandes da América Latina, na visão de especialistas.
Nenhum dos economistas ouvidos pelo Estado aposta em elevação dos juros como a melhor resposta para a alta recente da inflação. Nisso concordam com o Comitê de Política Monetária (Copom). Na ata da reunião de janeiro, o BC diagnosticou um "choque de oferta". Significa que faltam produtos para vender, por isso os preços sobem.
Crise
Na avaliação de Darwin Dib, economista-chefe da CM Capital Markets, os problemas de oferta se devem ao pessimismo. "A demanda na economia é influenciada por toda a população brasileira, mas a oferta é definida por algumas famílias. Esse grupo está assustado: olhe só o que está acontecendo lá fora."
Para André Perfeito, economista-chefe da Gradual Investimentos, alguns fatores explicam a diferença da inflação nos países. Um deles é a taxa de desemprego, que no Brasil baixou ao nível recorde de 4,6% em dezembro, menor que no Chile (6,1%), Colômbia (10,2%), Peru (5,6%) e no México (5%). Apesar de o BC brasileiro não ver um choque de demanda, o economista acredita que, com mais gente trabalhando, há maior procura por produtos e serviços. Isso acaba pressionando os preços mais no Brasil que em outros países da América Latina com taxas de desemprego mais elevadas.
Outro aspecto seria a reação ao excesso de medidas governamentais nos últimos meses, como cortes de impostos e dos juros e novos marcos regulatórios. "O governo pisa no acelerador e na embreagem ao mesmo tempo, o motor roda, mas a energia não chega no eixo e o carro não anda", diz Perfeito.
No Brasil, uma combinação de fatores explica a alta da inflação na visão de Carlos Pio, professor de Economia Política Internacional da Universidade de Brasília: "Demanda aquecida, baixa concorrência doméstica, protecionismo comercial e políticas sociais ou de rendas, incluindo política salarial, que descolem a variação dos rendimentos dos trabalhadores do ciclo econômico. Tudo isso está em vigor atualmente no Brasil".
Brasília - Ao mesmo tempo em que o Banco Central informa que não se sente confortável com os índices de preços e a inflação oficial surpreende para cima, no Brasil, outros países da América Latina lidam com um cenário inverso, com inflação em queda e possibilidade de novos cortes de juros. A resistência da inflação nacional divide economistas ouvidos pelo Estado. Há quem atribua o comportamento dos preços brasileiros a erros do governo Dilma Rousseff, ao baixo desemprego e à crise financeira global.
Segundo o IBGE, o índice oficial de inflação foi de 0,86% em janeiro, o maior desde 2003. O número elevou a inflação em 12 meses dos 5,84%, em dezembro, para 6,15%, no mês passado. Ou seja: a inflação continua acelerando. Esse quadro não se repete na Colômbia, no Chile, no Peru ou no México, os novos quatro grandes da América Latina, na visão de especialistas.
Nenhum dos economistas ouvidos pelo Estado aposta em elevação dos juros como a melhor resposta para a alta recente da inflação. Nisso concordam com o Comitê de Política Monetária (Copom). Na ata da reunião de janeiro, o BC diagnosticou um "choque de oferta". Significa que faltam produtos para vender, por isso os preços sobem.
Crise
Na avaliação de Darwin Dib, economista-chefe da CM Capital Markets, os problemas de oferta se devem ao pessimismo. "A demanda na economia é influenciada por toda a população brasileira, mas a oferta é definida por algumas famílias. Esse grupo está assustado: olhe só o que está acontecendo lá fora."
Para André Perfeito, economista-chefe da Gradual Investimentos, alguns fatores explicam a diferença da inflação nos países. Um deles é a taxa de desemprego, que no Brasil baixou ao nível recorde de 4,6% em dezembro, menor que no Chile (6,1%), Colômbia (10,2%), Peru (5,6%) e no México (5%). Apesar de o BC brasileiro não ver um choque de demanda, o economista acredita que, com mais gente trabalhando, há maior procura por produtos e serviços. Isso acaba pressionando os preços mais no Brasil que em outros países da América Latina com taxas de desemprego mais elevadas.
Outro aspecto seria a reação ao excesso de medidas governamentais nos últimos meses, como cortes de impostos e dos juros e novos marcos regulatórios. "O governo pisa no acelerador e na embreagem ao mesmo tempo, o motor roda, mas a energia não chega no eixo e o carro não anda", diz Perfeito.
No Brasil, uma combinação de fatores explica a alta da inflação na visão de Carlos Pio, professor de Economia Política Internacional da Universidade de Brasília: "Demanda aquecida, baixa concorrência doméstica, protecionismo comercial e políticas sociais ou de rendas, incluindo política salarial, que descolem a variação dos rendimentos dos trabalhadores do ciclo econômico. Tudo isso está em vigor atualmente no Brasil".