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Da Redação
Publicado em 23 de julho de 2009 às 08h48.
Desde a eclosão da crise global em setembro de 2008, a indústria automobilística mundial foi o segmento mais afetado pela escassez de crédito. As vendas despencaram em praticamente todos os países. Fora do sistema financeiro, o maior símbolo da crise foi a derrocada da General Motors, que chegou a pedir uma breve concordata. A empresa enfrentava dificuldades desde 2005, mas a concordata era considerada uma medida extrema para uma corporação que já foi símbolo de prosperidade econômica. Outras montadoras - como a Chrysler, a Ford e até mesmo a competente Toyota - anunciaram perdas bilionárias nos últimos meses. Especialistas, no entanto, já começam a ver a luz no fim do túnel.
Em estudo realizado pelo Banc of America Securities-Merrill Lynch, analistas afirmam que a retomada da indústria automobilística será reflexo da reestruturação das economias desenvolvidas. Nos Estados Unidos, a crise fez com que as montadoras pedissem ajuda ao governo para manter suas operações. A GM, por exemplo, até então a maior montadora do mundo, enxugou as operações, demitiu milhares de funcionários, fechou fábricas e vendeu unidades inteiras. A expectativa é de que a produção só retome os patamares pré-crise ao final de 2010.
Durante o ápice da crise, as vendas também caíram nos países emergentes, mas registraram uma forte recuperação recentemente. Os analistas do banco afirmam que 2010 vai marcar a retomada dos mercados emergentes e a China vai tomar o lugar dos Estados Unidos como o maior mercado automobilístico em número de veículos.
O relatório afirma que a recessão global será seguida por um período de um crescimento econômico mais lento do que o registrado nas últimas duas décadas. Além de políticas de incentivo dos governos, a corretora acredita que o setor automotivo também dependerá de inovações tecnológicas que favoreçam o consumo de mais veículos. "Um avanço na autonomia dos veículos, por exemplo, poderia impulsionar a demanda e a produção nos próximos anos", diz a Merrill Lynch.
Programas de incentivo
Para reverter as constantes quedas nas vendas de veículos registradas desde o fim de 2008, governos de vários países decidiram implementar incentivos fiscais para as montadoras. As medidas deram resultado. As vendas de veículos na Europa registraram uma retomada no segundo trimestre. O mercado alemão, especificamente, apresentou um crescimento mais acentuado: 33% em comparação ao mesmo período do ano passado. A região do euro registrou melhora em maio e junho.
O mercado americano se estabilizou no segundo trimestre do ano, com um crescimento de 1% comparado ao trimestre anterior, mas ainda assim 32% menor do que o mesmo período do ano passado. O Congresso dos Estados Unidos aprovou recentemente o programa Car Allowance Rebate System (Cars), que prevê incentivos ao consumo. O proprietário de um veículo tem acesso a crédito de 4.500 dólares na troca de um veículo antigo por um menos poluente. O programa de 1 bilhão de dólares entrará em funcionamento no próximo dia 24 de julho e terá duração de quatro meses.
O governo alemão também adotou medida semelhante, que deve durar até o final do ano. O programa do país paga 2.500 euros para compradores de carros novos que hoje possuem veículos com mais de nove anos de uso. Com um fundo estimado em 5 bilhões de euros, o pacote pode favorecer a compra de até 2 milhões de veículos.
No Japão, as vendas de automóveis caíram em abril e retomaram crescimento em junho - embora ainda estejam 14,5% menores do que no mesmo período do ano passado.
Emergentes também crescem
Menos afetados pela crise mundial, os países emergentes representam um bom indicador de retomada da indústria. Enquanto o mercado russo continua em colapso, a China registrou recorde de crescimento de 36,5% em abril comparado ao mesmo período de 2008.
Na Índia, o mercado vem se recuperando desde fevereiro e em junho cresceu 13,5% comparado ao mesmo período do ano anterior. No Brasil, as vendas estavam fracas, mas mostraram sinais de recuperação a partir de março. Em junho registrou crescimento de 17,2% em comparação ao mesmo período de 2008 e bateu o recorde histórico de vendas no mercado interno. Os consumidores correram para aproveitar o que poderia ter sido o último mês de IPI reduzido - ao final, o governo decidiu prorrogar o benefício até o final do ano.
Quando a recuperação será mais forte?
Analistas da corretora preveem um crescimento na produção nos Estados Unidos no quarto trimestre e um aumento nas vendas a partir do segundo semestre. Segundo John Murphy, analista do Merrill Lynch para o mercado americano, se os estoques voltarem aos níveis normais, a produção poderá crescer mais de 30% no quarto trimestre e 50% no primeiro trimestre de 2010 comparados aos níveis de hoje. Harald Hendrikse, analista do banco para o mercado europeu, calcula um crescimento de 30% na produção local no quarto trimestre do ano. O crescimento das vendas pode ter um impacto representativo no PIB dos países desenvolvidos. Sem contar os efeitos de outros setores, só a retomada de 30% da indústria automobilística pode levar a um crescimento de 4% no PIB da zona do euro.
A retomada sustentável dos mercados tem seu ponto principal na renda e financiamento. A fragilidade dos mercados depende menos de incentivos fiscais do que parece. Um dos principais motivos ainda é a baixa confiança do consumidor na indústria. Analistas acreditam que a situação continuará instável em 2010 por conta dessa baixa confiança, aliada ao desemprego e a renda em queda da população. Para a população de renda mais alta, que compra carros de maior valor, não haverá tanto impacto.
A recuperação do setor será significativa em 2011 por causa de três fatores principais: 1) condições de financiamento melhores; 2) estabilidade do mercado de trabalho nos Estados Unidos; e 3) recuperação da demanda.
Baseados nisso, especialistas preveem um cenário otimista para o período 2011-2012. As últimas análises apontam um retração de 8,6% para este ano, seguida de um crescimento de 4,9% em 2010, de 7,7% em 2011 e de 4% para 2012.
Os desafios para o longo prazo
Os novos padrões de consumo de combustíveis anunciados recentemente pelo presidente Barack Obama indicam que a inovação tecnológica seja um dos fatores determinantes para a indústria nos próximos anos. "A impressão é que a mudança nos padrões de consumo de combustíveis e os ainda baixos impostos sobre energia nos Estados Unidos são insuficientes para manter a retomada no curto prazo, mas podem ter efeito positivo nos próximos anos." Porém, os analistas acreditam que com o fim da recessão, políticas de incentivo à inovação e reposição de carros velhos por novos podem ser fortalecidas. "Inovação é a palavra de ordem para o futuro. Políticas ousadas são necessárias para revitalizar a indústria."