Economia

Nova CPMF contraria promessas de Bolsonaro como candidato e presidente

Novo imposto sobre transações financeiras é um dos braços da reforma tributária preparada pelo governo, mas foi negado por presidente na campanha

Bolsonaro: "Ignorem essas notícias mal intencionadas. Querem criar pânico", disse o presidente em setembro do ano passado sobre a possível volta da CPMF (Adriano Machado/Reuters)

Bolsonaro: "Ignorem essas notícias mal intencionadas. Querem criar pânico", disse o presidente em setembro do ano passado sobre a possível volta da CPMF (Adriano Machado/Reuters)

Ligia Tuon

Ligia Tuon

Publicado em 11 de setembro de 2019 às 11h14.

Última atualização em 11 de setembro de 2019 às 12h38.

São Paulo — "Só hoje inventaram que o Paulo Guedes (o Paulo Guedes!!!) quer a volta da CPMF", tuitou Filipe Martins, atualmente assessor especial da presidência para assuntos internacionais, há um ano, durante a campanha presidencial.

As especulações surgiram após Guedes, então coordenador econômico da campanha, falar da ideia em uma reunião privada com investidores em São Paulo que vazou à imprensa em 19 de setembro de 2018.

Jair Bolsonaro passou então a negar a possibilidade de forma veemente: "Ignorem essas notícias mal intencionadas. Querem criar pânico", disse o então candidato.

Marcos Cintra, atual secretário da Receita Federal, é um defensor do imposto sobre transações financeiras há décadas e esteve na equipe de transição do governo.

Em novembro, sua defesa pública de um novo imposto nos moldes da CPMF foi desautorizada pelo presidente de forma indireta:

O presidente continuava negando essa possibilidade até poucos dias: “Essa ideia não dá, já falei para a equipe”, afirmou em almoço com jornalistas no quartel-general do Exército em Brasília no final de agosto. “A CPMF é um imposto muito carimbado, as pessoas não gostam”, completou.

Em 19 de julho, o presidente havia dito o seguinte em um café da manhã com jornalistas de agências internacionais: “Não criaremos nenhum novo imposto. A reforma (tributária) que está lá é do Parlamento, não é nossa”.

O ministro da Casa Civil, Onyx Lorenzoni, criticou em 2015 e 2016 a ideia de ressuscitar a CPMF levantada por Dilma Rousseff no início de seu segundo mandato.

Vale lembrar que o imposto, na época, não serviria para substituir nenhum outro e sim para auxiliar no equilíbrio do Orçamento via aumento de arrecadação, e que Onyx na época era deputado federal.

Nova CPMF

Ao contrário do que vinha afirmando Bolsonaro durante a campanha, porém, seu governo irá propor ao Congresso a volta de um imposto sobre transações financeiras.

A ideia é que a alíquota do novo tributo seja de 0,20% no débito e crédito financeiro e de 0,40% no saque e depósito em dinheiro.

Esse novo imposto substituiria gradualmente a contribuição previdenciária que hoje incide sobre a folha de pagamento do trabalhador registrado.

Vários economistas apontam que esse tipo de tributo não tem referências internacionais de sucesso e que, por ser de alíquota única, é regressivo, afetando os mais pobres de forma desproporcional.

Além disso, é um imposto cumulativo e que portanto oneraria mais setores com cadeias mais longas de produção, além de desestimular o uso do sistema financeiro.

“Os agentes econômicos passam a evitar quando podem o uso do sistema financeiro para evitar pagar o imposto”, escreve o economista Felipe Restrepo, que analisou impostos dessa natureza em trabalho publicado neste ano no Journal Of International Money and Finance, em e-mail para EXAME.

“E quando indivíduos e firmas fazem isso, as receitas caem, e os governos começam a sentir a necessidade de aumentar a alíquota para compensar o declínio na base”, completa.

A proposta enfrenta resistência política. O presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia, disse nesta terça-feira (10) que “a CPMF tem muito pouco apoio entre os que conhecem da questão tributária"

"Não sei se esse é o melhor caminho para resolver o custo da contratação da mão-de-obra. Entendemos qual é a preocupação do governo. O governo Dilma Rousseff fez uma desoneração forte da mão-de-obra e não deu certo. Acabou que brasileiros pagaram a conta. Acho que a intenção está correta, mas não sei se a fórmula é o melhor caminho”, completou.

A CPMF foi criada como um tributo temporário, vigorou no país de 1996 a 2007 e chegou a ter uma alíquota de 0,38% sobre operações. Apesar de ter como objetivo inicial arrecadar recursos para a saúde pública, ela acabou sendo usada também para outros fins.

Acompanhe tudo sobre:CPMFGoverno BolsonaroImpostosJair BolsonaroPaulo GuedesReforma tributária

Mais de Economia

Oi recebe proposta de empresa de tecnologia para venda de ativos de TV por assinatura

Em discurso de despedida, Pacheco diz não ter planos de ser ministro de Lula em 2025

Economia com pacote fiscal caiu até R$ 20 bilhões, estima Maílson da Nóbrega

Reforma tributária beneficia indústria, mas exceções e Custo Brasil limitam impacto, avalia o setor