Economia

;Há muitas coisas boas acontecendo aqui;, diz O;Neill

Numa conversa com um grupo de jornalistas no final da tarde desta quinta-feira, em São Paulo, o secretário do Tesouro americano, Paul ONeill, manteve a tática de desviar-se de perguntas embaraçosas. Pela manhã, em Brasília, depois de se reunir com o presidente Fernando Henrique Cardoso e com o ministro da Fazenda, Pedro Malan, ONeill evitou […]

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Da Redação

Publicado em 9 de outubro de 2008 às 11h06.

Numa conversa com um grupo de jornalistas no final da tarde desta quinta-feira, em São Paulo, o secretário do Tesouro americano, Paul ONeill, manteve a tática de desviar-se de perguntas embaraçosas.

Pela manhã, em Brasília, depois de se reunir com o presidente Fernando Henrique Cardoso e com o ministro da Fazenda, Pedro Malan, ONeill evitou respostas diretas às perguntas que lhe foram dirigidas a respeito de suas opiniões controvertidas a respeito do Brasil.

Na entrevista em São Paulo, o secretário do Tesouro reagiu secamente quando uma jornalista da Rede Globo de Televisão quis saber se ele se sentia, pessoalmente, responsável pela forte desvalorização do real que se seguiu às recentes declarações que lhe foram atribuídas no sentido de que recursos fornecidos pelo FMI ao Brasil e a outros países latino-americanos poderiam parar em contas bancárias da Suíça. "Você ouviu exatamente o que eu disse?" indagou ONeill à jornalista, antes de dar assunto por encerrado. "Ouça as minhas declarações na televisão".

Outro jornalista lhe perguntou se não seria um desperdício de dinheiro do contribuinte americano ajudar o Brasil agora dada a possibilidade de o futuro presidente da República vir a reestruturar a dívida interna. "Você me coloca em desvantagem", respondeu ONeill, acrescentando que depois de jantar domingo à noite com o presidente do Banco Central, Armínio Fraga, assistiu a parte do debate com os candidatos na televisão.

"Não entendo português o suficiente para compreender o que eles discutiam, mas considero altamente inapropriado dar conselhos aos brasileiros sobre como devem exercer a democracia". Ante a insistência do jornalista, respondeu secamente: "Perguntas hipotéticas podem ser boas para você, mas não são muito boas para mim", disse.

Em seguida, ONeill esforçou-se para demonstrar que apóia a política econômica seguida pelo governo brasileiro. "Há muitas coisas boas acontecendo aqui", disse ele abanando uma série de cópias com indicadores do desempenho econômico do país que lhe foram fornecidas pelo ministro chefe da Casa Civil, Pedro Parente. Eis um resumo de suas declarações em São Paulo.

Sobre a possibilidade do recente socorro do Tesouro americano ao Uruguai sinalizar um maior empenho de Washington para apoiar as negociações do Brasil ora em andamento com o Fundo Monetário Internacional.

"O que fizemos foi participar de uma ação liderada pelo FMI e por bancos internacionais de desenvolvimento. Chegamos à conclusão, junto com funcionários do governo uruguaio, de que era necessário tomar uma decisão. O que os Estados Unidos fizeram foi repetir o que já fizeram dezenas de vezes no passado. Demos um empréstimo-ponte de modo a permitir aos uruguaios reabrirem seus bancos. Não se trata de uma ação inusitada e não muda nossa visão de que o FMI e de que os bancos de desenvolvimento internacionais deveriam ser os principais instrumentos nessas rodadas e que nós podemos desempenhar um papel como país-membro, mas que o processo de decisão deve ser tomado com o FMI".

Sobre o nível de apoio ao Brasil.

"O FMI e as autoridades brasileiras estão conversando entre si e, antes de deixar Washington, fui informado de que essas conversas estavam indo muito bem. Recebi a mesma informação das autoridades brasileiras. Estamos muito satisfeitos com isso. Queremos apoiar o FMI em seu esforço de negociar com o Brasil, que vem seguindo excelentes políticas. Na verdade, o ministro Pedro Parente se deu ao trabalho de me dar uma cópia de alguns indicadores exibidos durante o encontro. Talvez vocês queiram reproduzi-los se eu disser que são documentos secretos sobre a economia brasileira. O que esse documento mostra é que entre junho de 1994 até maio de 2002 não houve inflação relevante no Brasil. Antes disso, em março de 1989 -- e eu sabia disso como executivo com interesses de negócios no Brasil -- , a taxa mensal era de 78%. Essa é uma política que deu certo. Essa é uma boa notícia sobre o que os dirigentes brasileiros estão fazendo já há algum tempo. Não preciso defender esse ponto. Os fatos no Brasil falam por si só. Nossa política é consistente de apoio ao Brasil, especialmente quando produz esses resultados".

Sobre as declarações que lhe foram atribuídas na reunião anual do Forum Econômico Mundial em Nova York, no início do ano, no sentido de que a corrupção seria uma das culpadas pelas altas taxas de juros no Brasil.

"Não é verdade que eu tenha dito isso. Se você for verificar as transcrições de rádio ou televisão, perceberá que não foi esse o caso. O que eu disse no meu discurso no Forum Econômico Mundial foi que qualquer país do mundo pode ter maior vantagem se conseguir atrair um bom nível de investimento. Os juros pagos por um país constituem uma imposto sobre seus cidadãos. Portanto, se um país segue uma política que afugenta os investimentos devido a uma situação fiscal desequilibrada, as pessoas de mais baixa renda vão pagar por isso. Defendia a visão de que países de todo o mundo - não falava especificamente da América Latina -- farão um grande favor a seus cidadãos se seguirem políticas capazes de criar uma boa base para os investimentos".

Sobre o possível impacto que a assinatura amanhã, pelo presidente George W. Bush, do mandato para negociar a Alca pode ter sobre a política protecionista americana, sobretudo no setor siderúrgico.

"O presidente Bush sempre manifestou, inclusive durante a campanha presidencial, que o livre comércio é importante não só para os Estados Unidos, mas também para todo o mundo. Ele está muito feliz de poder assinar o mandato que lhe foi conferido pelo Congresso americano. Idealmente, se não houvesse barreiras comerciais internas, o mundo estaria bem melhor. Com relação específica ao aço, em janeiro de 2001, quando o presidente Bush tomou posse, conversamos sobre a situação dessa indústria e ele me incentivou a ir a OCDE, em Paris, e propor a convocação de todos países produtores de aço e suas siderúrgicas para examinar a situação do setor no mundo. Esperamos que os países e as companhias individualmente possam buscar um melhor equilíbrio entre procura e oferta. A capacidade de produção de aço hoje no mundo é 35% maior do que a demanda e a conseqüência disso são taxas de retorno negativas da indústria mundial nos últimos 40 anos. Esperamos que esses problemas possam ser resolvidos e que a indústria em todo o mundo volte a ser lucrativa. Certamente, há uma excelente capacidade de produção de aço no Brasil, que pode competir em qualquer nível. Espero que esses problemas possam ser resolvidos nas negociações no âmbito da Alca".

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