Gregos protestam contra as medidas de austeridade do governo: os representantes dos trabalhadores se queixam da extinção dos convênios coletivos que englobam 600 mil trabalhadores. (Sakis Mitrolidis/AFP)
Da Redação
Publicado em 13 de junho de 2013 às 07h48.
Atenas - Os gregos saíram, mais uma vez, às ruas nesta quarta-feira durante uma nova greve geral, a primeira de 2013, contra as medidas de austeridade e a política do governo conservador de Antonis Samaras.
"Que saiam todos: o governo, o FMI e a troika! Com eles não há futuro para a Grécia", esbravejou Mihalis, um professor de 56 anos que está desempregado há dois e vive da pensão de sua mulher, Ada, de 60 anos.
Com cartazes contra as medidas de austeridade e gritando palavras de ordem contra o governo, milhares de pessoas - 40 mil segundo a polícia, 200 mil de acordo com os sindicatos - passaram pela Praça Syntagma no centro de Atenas.
Rula, uma mulher de 48 anos e também desempregada, considerou a greve insuficiente: "Deveríamos estar o dia todo na rua. Estão acabando com os direitos trabalhistas que conquistamos há mais de 100 anos. Estou muito decepcionada".
A greve teve participação massiva, segundo os sindicatos GSEE e ADEDY, que estimaram que 80% dos trabalhadores aderiram à convocação.
Foram convocados para a greve geral funcionários públicos, trabalhadores da área de saúde, advogados, engenheiros, professores, bancários e empregados dos portos e aeroportos, entre outras profissões, apesar de a greve não ser de 24 horas em todos os setores.
Nos aeroportos, por exemplo, há cancelamentos e atrasos.
Em hospitais e clínicas só funcionaram os serviços essenciais e os meios de transporte urbanos - exceto os trens urbanos - funcionaram durante o dia para permitir que os manifestantes chegassem até o centro da cidade.
Os meios de comunicação anteciparam a greve para a terça-feira para poder fazer a cobertura dos acontecimentos de hoje.
A convocação da greve tem como objetivo "repelir as medidas antissociais, ineficazes e contrárias aos trabalhadores por parte de um governo autoritário", segundo o manifesto dos sindicatos.
Apesar de não haver mais medidas de austeridade programadas - alguns membros do Executivo garantiram que não haverá novos cortes de salários e pensões neste ano - a piora na situação econômica da população provocou a resposta sindical.
Os representantes dos trabalhadores se queixam, além disso, da extinção dos convênios coletivos que englobam 600 mil trabalhadores por causa das medidas assinadas pelo governo com a troika (Comissão Europeia, Banco Central Europeu e Fundo Monetário Internacional), que chega a Atenas na próxima semana para revisar o cumprimento do programa de austeridade.
O presidente do sindicato GSEE, Yannis Panagopulos, denunciou que os "erros" nos cálculos da troika e do governo "destroçaram o povo inteiro" e os trabalhadores que "estão pagando o preço mais alto".
Além disso, pediu que, "caso continue a política desastrosa do governo seguindo as ordens da troika", o povo continue "lutando".
O desemprego disparou na Grécia desde a intervenção econômica no país e, conforme os últimos dados do mês de novembro, afeta 27% da população economicamente ativa e quase 61% dos jovens com menos de 25 anos.
É o caso de Eleni Tziortzi, de 29 anos, que não encontra emprego há cinco anos e que confessou à Agência Efe que vê o futuro "muito difícil", por isso pensa em deixar o país.
"Estou muito decepcionada porque há muito desemprego, não há esperança neste país, nossos sonhos foram roubados. Há muito medo e muita tristeza. Por isso estou aqui, para resistir contra tudo isto", disse Vaso, uma estudante de 22 anos.
"Não pode haver saída para este desastre no marco do memorando. A única saída é maior democracia, independência e o desenvolvimento justo", afirmou Alexis Tsipras, líder do partido de esquerda Syriza e chefe da oposição.
A manifestação em Atenas transcorreu pacificamente, apesar de alguns incidentes, como a tentativa de um grupo violento de incendiar um veículo, além de confrontos isolados entre manifestantes e policiais.
Em outras cidades do país também houve protestos e nas localidades de Larissa e Chania os agricultores, que bloqueiam as estradas há três semanas pelo atraso nos pagamentos e a alta de impostos, se uniram aos manifestantes.
Em Iráclio - maior cidade da ilha de Creta - ocorreram confrontos entre manifestantes e agentes antidistúrbios, informou a imprensa local.