Economia

Gibraltar: oásis econômico vizinho de uma Espanha em crise

Em contraste com a recessão no país vizinho, enclave é uma bolha de prosperidade

Sem crise: em 2012, Gibraltar viu seu PIB disparar 7,8%, a 1,2 bilhão de libras (U$1,86 bilhão) (©afp.com / Marcos Moreno)

Sem crise: em 2012, Gibraltar viu seu PIB disparar 7,8%, a 1,2 bilhão de libras (U$1,86 bilhão) (©afp.com / Marcos Moreno)

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Da Redação

Publicado em 17 de agosto de 2013 às 14h56.

Madri - Alto crescimento econômico, desemprego quase nulo e empresas promissoras: o território britânico de Gibraltar, cuja soberania é reivindicada pela Espanha, é uma bolha de prosperidade que contrasta com a recessão no país vizinho.

"Enquanto o Reino Unido e Espanha preveem um crescimento lento durante anos, às vezes, dá a impressão de que Gibraltar está em outro espaço-tempo econômico", reconhece, em um relatório, a Câmara de Comércio local.

Em 2012, enquanto Londres registrava um modesto crescimento de 0,2% e Madri via sua economia se contrair 1,4%, Gibraltar viu seu PIB disparar 7,8%, a 1,2 bilhão de libras (cerca de U$1,86 bilhão).

Neste pequeno território, de 7 km², o PIB por habitante é um dos mais altos do mundo.

"É uma situação econômica, para os tempos atuais, bastante folgada" que contrasta "com a situação do sul da Espanha, (...) com altas taxas de desemprego", disse Pedro Aznar, professor da universidade ESADE em Madri.

Enquanto este enclave cedido pela Espanha aos britânicos em 1713 atinge o pleno emprego, com 2,5% de desempregados, a vizinha Andaluzia é a região espanhola com maior porcentagem de desempregados (35,8%).

Serviços bancários e financeiros, turismo, atividade portuária e jogos online: graças a esses quatro pilares - os três primeiros correspondem de 25% a 30% do PIB, o último 15% -, "Gibraltar parece ter sofrido apenas a crise econômica internacional", disse Stuart Green, porta-voz do governo local.

Nos anos 1980, a realidade do território era diferente.

"Estudo a economia de Gibraltar há 35 anos e a vi crescer, passando de uma economia de assistência ao Ministério de Defesa britânico", o que gerava 60% do PIB, "a uma economia com forte proporção de profissionais qualificados", afirma John Fletcher, pesquisador da universidade britânica de Bournemouth.

Após a retirada da maioria das tropas britânicas, o exército responde apenas por 6% da riqueza local.

Para Madri, contudo, Gibraltar, com uma população de 30.000 habitantes e 18.000 empresas ativas e registradas oficialmente é um paraíso fiscal. O país suspeita que muitas empresas espanholas instalam suas sedes em Gibraltar para aproveitar suas vantajosas condições.

"Posso assegurar que aqui as pessoas e as empresas pagam seus impostos e é errado dizer o contrário", defende Edward Macquisten, diretor geral da Câmara de Comércio de Gibraltar.

"Claramente, não estamos em um paraíso fiscal", acrescenta Green. "Contudo, nossos impostos sobre a renda e sobre as empresas são levemente inferiores a muitos outros países europeus", explica.


Gibraltar, que não aplica o IVA, saiu no final de 2009 da "lista negra" da Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Econômicos (OCDE), ao aceitar trocar informações fiscais com uma dezena de países.

No começo de 2011, aboliu seu regime de isenção de impostos a algumas empresas, mas a taxa aplicada atualmente, de 10%, é muito inferior à da Espanha (30%).

O enclave britânico "aplica uma tributação ao sistema financeiro que atrai o dinheiro, embora não seja, se parece com um paraíso fiscal", considera Aznar.

"A Grã-Bretanha tem bastantes paraísos fiscais sob sua jurisdição, como a ilha Jersey, a ilha de Man, as Bermudas e Gibraltar", acrescenta Jesús Lizcano, presidente na Espanha da ONG anti-corrupção Transparency International.

"Não é muito favorável, sobretudo, porque está próximo da Espanha e pode canalizar certos negócios e investimentos", acrescenta.

O território, que goza de um status de autonomia e não paga impostos ao Reino Unido, insiste que contribui para a economia local: 10.000 espanhóis trabalham em Gibraltar, que importa do país vizinho uma grande parte de seus bens.

"A Espanha se beneficiou enormemente do papel de Gibraltar como motor de crescimento para a região", afirma Fletcher.

As autoridades espanholas acusam, contudo, o território de impedir que os pescadores andaluzes pesquem na região, com prejuízo para a economia local.

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