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Garotinho tenta esculpir imagem diante do empresariado

Uma seleta platéia aguardava sexta-feira passada (9/05) num auditório do Hotel Transamérica, na ilha de Comandatuba, sul da Bahia, o início das apresentações de três candidatos a presidente da República. Executivos como Márcio Cypriano, presidente do Bradesco, Ivan Fábio Zurita, da Nestlé, Luiz Fernando Furlan, da Sadia, e Nildemar Secches, da Perdigão, estavam reunidos ali […]

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Da Redação

Publicado em 9 de outubro de 2008 às 10h39.

Uma seleta platéia aguardava sexta-feira passada (9/05) num auditório do Hotel Transamérica, na ilha de Comandatuba, sul da Bahia, o início das apresentações de três candidatos a presidente da República. Executivos como Márcio Cypriano, presidente do Bradesco, Ivan Fábio Zurita, da Nestlé, Luiz Fernando Furlan, da Sadia, e Nildemar Secches, da Perdigão, estavam reunidos ali para a sessão de abertura do Forum Empresarial, encontro de personalidades do mundo dos negócios promovido anualmente pela Doria Associados, de São Paulo. O cancelamento, de últimas hora, das presenças dos candidatos José Serra, do PSDB, e Ciro Gomes, do PPS, transformou o ex-governador do Rio de Janeiro, Anthony Garotinho, do PSB, na grande estrela da noite. Sem nenhum de seus adversários por perto -- Luiz Inácio Lula da Silva, do PT, recusara o convite dias antes --, Garotinho aproveitou para tentar esculpir uma melhor imagem de si mesmo perante o empresariado majoritariamente paulista.

Com a habilidade de quem iniciou sua carreira política no púlpito de uma igreja evangélica, Garotinho arrancou aplausos e risos da platéia a sua frente. Aproveitou para rechear o discurso com propostas que soam como música aos ouvidos de grande parte dos empresários. Prometeu levar o país para o caminho do crescimento, atacou os juros altos, fustigou o governo por não ter feito a reforma tributária -- chegou a propor a extinção da CPMF -- e prometeu retirar do Itamaraty o papel de condutor da política brasileira de comércio exterior, dando maior voz ao empresariado. Em meio a tudo isso, ainda discorreu com familiaridade sobre o papel do Federal Reserve Board, o banco central americano, e a equalização de taxas de juros na Espanha e Portugal antes da adesão à zona do Euro.

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Respondendo a perguntas da platéia, Garotinho recebeu um afago inesperado do presidente do Bradesco. Cypriano iniciou sua intervenção com uma piada que, segundo disse, acabara de ouvir: "Um amigo me perguntou se eu sabia a diferença entre uma mulher grávida de um menino e Brasília. A resposta dele foi simples: ambos estão à espera de Garotinho". Depois do mimo, Cypriano tentou encurralá-lo. Perguntou-lhe como conseguiria compatibilizar uma forte redução das taxas de juros, a expansão do crédito e as políticas diretas de financiamento com o regime de metas de inflação que promete manter. Eis a resposta de Garotinho a essa e a outras questões:

Sobre os juros

Não vamos fazer todas as mudanças de uma só vez. Enquanto tentamos reduzir o nível dos juros, vamos promover as outras reformas necessárias, o aumento das exportações, uma política de substituição de importação. Vamos em frente, passo a passo. O senhor que é o presidente do Bradesco sabe perfeitamente bem que, se o governo reduzisse a taxa do depósito compulsório (no Banco Central), hoje bastante alta, o senhor teria uma margem muito maior para emprestar. E isso ativaria o setor produtivo do país. Taxas de juros menores e crédito abundante poderiam movimentar a economia brasileira de uma forma mais dinâmica. Vou lhe dar um exemplo categórico para desmentir essa história de que juro baixo gera inflação: quando tiveram de unificar as taxas da Europa antes da criação do euro, a aposta era que Portugal e Espanha, que praticavam níveis mais elevados de juros, poderiam sofrer um surto inflacionário quando os índices caíssem. Pois o que houve foi deflação, uma vez que os juros estavam embutidos em tudo. Caíram as hipotecas, todos os preços. Tenho certeza de que, na hora em que a taxa de juros descer no Brasil -- e se o governo tiver firmeza ao apontar para o mercado e a sociedade que essa é a direção --, haverá um ganho de confiança, e a economia irá crescer.

Sobre a reforma tributária

É falsa alegação de que o governo quis fazer a reforma, mas não conseguiu reunir força suficiente para promovê-la. Na verdade, o governo fez a reforma tributária. O governo aumentou a alíquota de IOF, criou, por meio de medidas provisórias, impostos como a CPMF e aumentou diversas contribuições. O governo não fez a reforma tributária que nós gostaríamos que fizesse. Que reforma é essa? Primeiro: priorizar a desoneração do investimento produtivo e das exportações. É preciso acabar com a CPMF -- um imposto sobre nada. Quando você compra, paga-se um imposto sobre o bem produzido. Não conheço país que tenha um imposto tão escandaloso. Pagar um imposto no momento em que se assina um cheque... Isso não existe em nenhum lugar do mundo. Não há justicafiva moral, econômica nem tributária para fazê-lo. Reequipe a Receita Federal, mas a CPMF tem de ser extinta. Na minha gestão no Rio de Janeiro, conseguimos reduzir a alíquota de 36 setores importantes e aumentamos a arrecadação. A alíquota de telecomunicações, por exemplo, era de 37%. Quando deixei o governo, estava em 25%. Ninguém abastecia avião no Rio. A alíquota do querosene de aviação era 37%. Era mais econômico abastecer em São Paulo. Baixei a alíquota para 18% e conseguimos arrecadar 30 milhões de reais por mês, contra zero anteriormente. O melhor imposto é sempre o menor imposto cobrado sobre uma base maior.

Sobre o papel do Itamaraty nas negociações de comércio exterior

O Itamaraty é uma beleza para fazer jantares (arrancando aplausos da platéia). Para cuidar de nossas importações e exportações, tem de ser gente ativa, que tenha visão de comércio exterior, que tenha visão empresarial, porque senão é só a gente diplomata, levando pau na cabeça (risos da platéia).

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