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Franco: por uma agenda liberal ampla, teremos de votar diferente em 2022

Para ex-presidente do BC, agenda liberalizante parece ter se tornado secundária, com Guedes mais alinhado ao governo e menos ao perfil técnico de antes

Gustavo Franco, ex-presidente do Banco Central, em dezembro de 2017. (Dado Galdieri / Bloomberg/Getty Images)

Ligia Tuon

Publicado em 26 de novembro de 2020 às 19h23.

Última atualização em 26 de novembro de 2020 às 20h59.

Ícone liberal que ajudou a eleger Jair Bolsonaro à Presidência em 2018, o ministro da economia, Paulo Guedes , já não é mais o mesmo: "Aquele Paulo Guedes da campanha e do início do governo já saiu, não existe mais", diz o economista Gustavo Franco , fundador da gestora Rio Bravo Investimentos, durante o evento digital Brasa Talks, nesta quinta-feira, 26.

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Na análise do ex-presidente do Banco Central, Guedes hoje em dia está muito mais alinhado ao governo do Bolsonaro e menos ao perfil técnico, de alguém que viria para consertar erros ou avançar na agenda liberalizante. Essa agenda, segundo ele, parece ter se tornado secundária.

"Ele está ali para evitar algum retrocesso nesse sentido, mas com muito pouca chance de ser atacante e fazer gol, no sentido de trazer novidades reformistas na política liberal. Pode ser que consiga. Mas acho muito difícil", diz ele ao participar de debate no painel Futuro do Dinheiro. "Para termos uma agenda liberal mais ampla, vamos ter de votar diferente em 2022, simples como isso".

A sensação de que o país trocou o ministro da Fazenda, segundo Franco, é uma das responsáveis por uma certa dificuldade que o Tesouro Nacional encontrou nos últimos meses na rolagem da dívida pública federal, "sobretudo considerando que leilões primários de LFT, atrelados à Selic, são de baixíssimo risco", diz.

Esse tipo de situação costuma ocorrer quando alguma mudança iminente preocupa o mercado, explica, como em 2002, quando o ex-presidente Lula foi eleito pela primeira vez. Na época, o mercado temia que o novo presidente pudesse ter atitudes hostis à dívida pública.

Agora, no entanto, apesar de não haver nenhuma transição política, alguns fatos simulam esse cenário. Além da mudança de postura de Guedes, explica Franco, há uma sinalização do mercado de que um eventual segundo mandato de Bolsonaro poderia ser muito diferente do anterior. Primeiro, por causa da situação da pandemia, que elevou a dívida pública a quase 100% do produto interno bruto (PIB) e o déficit fiscal, tornando a situação fiscal brasileira mais difícil e imprevisível. Segundo, por causa da mudança de liderança nas duas casas do Legislativo num contexto em que ambos os líderes tiveram papéis importantes na defesa de reformas fiscais estruturantes.

"Outra coisa é o fim dos auxílios emergenciais, que foram importantes, mas o governo errou na mão, foi muito elevado, mesmo com 300 reais foi muito para muitas regiões, o que surtiu um certo clima de Plano Cruzado em algumas regiões do Brasil", diz. Tudo isso ficou concentrado em um curto espaço de tempo e deve durar ainda alguns meses, em razão da discussão orçamentária para 2021, que ainda não foi definida.

O painel trouxe essas e outras reflexões sobre o momento da economia global e foi complementar à conversa realizada na quarta-feira com André Lara Resende, economista que também discutiu dívida pública e trouxe uma “visão alternativa” para o tema da política monetária no país.

Veja o vídeo completo desta quinta:

Sexta-feira, 27, será o último dia do Brasa Talks, confira os painéis:

A Brasa conta atualmente com mais de 9.000 estudantes em sua rede e está presente em 90 universidades ao redor do mundo, em regiões como América do Norte, Europa, Ásia e Oceania.

A associação conta com um programa de mentoria e autoconhecimento para capacitar jovens e uma nova geração de líderes brasileiros. Em 2019, a associação lançou um programa de bolsas para ajudar estudantes de baixa renda a estudar em algumas das melhores universidades do mundo.

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