Força a cadeia produtiva
Química
Da Redação
Publicado em 9 de outubro de 2008 às 10h31.
O setor químico é responsável pelo segundo maior rombo da balança comercial brasileira. Foram 7,2 bilhões de dólares em 2001 -- as exportações de produtos químicos alcançaram 3,5 bilhões de dólares contra importações de 10,7 bilhões. Boa parte do déficit se deve ao crescimento da agricultura no país: são as aquisições de fertilizantes de potássio, uma matéria-prima que o Brasil não possui e tem de buscar na Rússia, na Argélia e nos Estados Unidos. Mas também faltam produtores de insumos intermediários de síntese -- os necessários para fabricar medicamentos, agroquímicos, cosméticos, aditivos e tintas -- porque a abertura do mercado à importação nos anos 90 também dizimou uma parte do setor. "Fechamos 1 072 fábricas", diz Nelson Brasil, presidente da Associação Brasileira de Química Fina (Abifina). Nem por isso, segundo ele, o setor reivindica o fechamento do mercado. "Quando o comércio é justo, a abertura é um estímulo", afirma José Carlos Grubisich, presidente da OPP Química, uma das maiores fornecedoras brasileiras de insumos petroquímicos como PVC e polietileno para os fabricantes de produtos de plástico. "A competição nos faz ser mais produtivos e tratar melhor nossos clientes."
As principais reclamações do setor são contra a tributação em cascata e a alta taxa de juro, dois fatores que dificultam os investimentos em tecnologia. "A globalização é irreversível e não precisamos de proteção tarifária especial", afirma Brasil. "Mas queremos competir em igualdade de condições." A Abifina contratou o economista Pedro Motta Veiga, da Fundação de Comércio Exterior (Funcex), para fazer um diagnóstico setorial de competitividade diante dos concorrentes globais. Uma das necessidades já identificadas é a adequação das empresas aos padrões da Organização Mundial do Comércio, da União Européia e da futura Alca. Outra é fortalecer as cadeias produtivas, aproximando mais as empresas fornecedoras dos clientes. "A questão da cadeia produtiva precisa ser mais discutida no Brasil", diz Grubisich. "Cada elo fraco faz com que todo um setor seja fraco." Segundo ele, a atuação em parceria para auxiliar os transformadores de plástico a exportar será uma das diretrizes da Braskem, a gigante da petroquímica que está sendo formada com a fusão da OPP, da Trikem e da Copene, controladas pela Odebrecht e pelo grupo Mariani. A Braskem, cuja consolidação está prevista para meados de 2002, terá receitas da ordem de 8 bilhões de reais por ano.
Na mesma linha, executivos do setor defendem que o governo estimule a criação dos chamados clusters -- a instalação de empresas complementares em uma mesma área -- para otimizar a logística e reduzir custos, entre outras vantagens. Os locais mais indicados seriam as vizinhanças de fontes de insumos, como os pólos petroquímicos de Camaçari, na Bahia, ou de Capuava, na Grande São Paulo. "Estamos falando de um investimento baixo, em torno de 100 milhões de dólares", diz Alberto Mansur, superintendente da Nortec Química, empresa que produz matérias-primas para a indústria farmacêutica em Xerém, no Rio de Janeiro. "Mas uma iniciativa dessas pode romper com gargalos de insumos essenciais e desenvolver o setor em cinco anos."