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EUA precisam reduzir o déficit público, diz Nobel

Edmund Phelps compara a atual política do governo de gastar muito mais do que arrecada a "montar em um tigre"

Edmund Phelps, professor de Columbia e vencedor do Prêmio Nobel de Economia em 2006 (--- [])
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Da Redação

Publicado em 9 de setembro de 2009 às 11h21.

O professor de Columbia e vencedor do Prêmio Nobel de Economia em 2006, Edmund Phelps, acredita que manter o déficit público americano na atual trajetória de crescimento é como "montar em um tigre". Se o governo não reduzir o déficit, "os investidores vão perder a confiança na economia americana e podem procurar outro lugar para colocar seu dinheiro". Por outro lado, se decidir imprimir dinheiro para arcar com o déficit, haverá o retorno da inflação. Leia abaixo os principais pontos da entrevista exclusiva concedida da EXAME:

EXAME - Em que essa recessão é diferente das outras?
Phelps -
Houve outras recessões piores do ponto de vista social. Nos anos 70, tivemos duas recessões coladas uma na outra, e as consequências foram dramáticas. A inflação era altíssima, e houve revoltas sociais. Do ponto de vista da queda do PIB, essa também não é a pior. Talvez o que faça essa crise tão especial é o fato de que ela nos pegou de surpresa. Nunca tínhamos tido tantos problemas no setor financeiro, e não sabíamos quais seriam as consequências daquilo. As projeções foram as mais variadas. Pessoas como (Nouriel) Roubini diziam que o desemprego poderia chegar a 12%. Para outros, essa era uma recessão como outra qualquer. Muitos ficaram espantados com a gravidade da crise.

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EXAME - Quais serão as consequências disso?
Phelps -
Uma das principais delas é que dificilmente voltaremos a ter um índice de desemprego na casa dos 5%, como antes da crise. Mesmo após a recessão passar e o desemprego baixar dos cerca de 10% atuais, ele não voltará ao patamar anterior.

EXAME - Passada a pior fase da crise, qual é sua maior preocupação?
Phelps -
Uma das minhas maiores preocupações é a situação das contas públicas. Estamos montados num tigre. Se o déficit orçamentário continuar nessa trajetória por muito tempo, os investidores vão perder a confiança na economia americana e podem procurar outro lugar para colocar seu dinheiro. Isso pode levar os juros para cima, o valor dos ativos para baixo, o dólar ficaria fraco. Nossos piores medos podem se tornar verdade. (Continua)


EXAME - A saída para o problema orçamentário é cortar gastos e aumentar impostos. Muitos temem que, em vez de fazer isso, Washington opte por ligar a máquina de imprimir dinheiro...
Phelps -
Fazer isso seria ignorar todas as lições da história econômica. Caso isso aconteça, teremos, além de um grave problema orçamentário, inflação também. Infelizmente, o governo não está levando essa questão a sério. Mesmo que o governo não embarque em novos projetos de gastos, há uma enorme quantidade de programas sociais impagáveis, como o Medicare (programa de saúde pública para idosos). Como eles vão pagar por isso?

EXAME - Mas a crise orçamentária não vem sendo prevista há décadas? Dessa vez é diferente?
Phelps -
Tivemos muita sorte até agora, pois a economia americana foi impulsionada por um enorme crescimento na produtividade. Meu medo é que esse fenômeno não vá se repetir agora.

EXAME - Por quê?
Phelps -
O governo está em expansão, e vai engolir uma fatia crescente da economia. O projeto de reforma do sistema de saúde é um exemplo. Isso vai tirar espaço de investimentos em inovação no setor privado. Isso me preocupa. O governo deveria estar concentrado em incentivar a inovação, mas não está.

EXAME - Mas a produtividade não vem crescendo, mesmo com a recessão?
Phelps -
Os números de produtividade atuais são enganosos, pois as empresas simplesmente cortaram custos. Trabalhadores que estavam alocados em projetos futuros, por exemplo, foram cortados. Isso pode até aumentar a produtividade no curto prazo, mas não quer dizer muita coisa.

EXAME - Qual é a maior lição que essa crise ensinou para os Estados Unidos?
Phelps -
Nós precisamos migrar de um modelo de consumo e endividamento excessivos. Temos que adotar um sistema mais frugal. Vamos poupar mais. Vai doer no curto e médio prazo, claro. Mas, com um dólar mais fraco, vamos conquistar uma fatia maior do mercado mundial. Isso já está começando a acontecer. As exportações estão crescendo. A questão é se o resto do mundo vai deixar nosso déficit em conta corrente cair. Os outros países não vão gostar nada de ver suas exportações caindo e suas importações crescendo. Vai haver pressão para protecionismo. Mas, no fim das contas, essa era uma mudança necessária.


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