Economia

EUA organizam plano econômico para a Venezuela caso Maduro caia

Pacote inclui a entrada de dólares no país, e os americanos estão trabalhando com bancos da região para tornar a medida operacional

Maduro: Estados Unidos faz pressão para que presidente venezuelano saia do poder (Carlos Garcia Rawlins/Reuters)

Maduro: Estados Unidos faz pressão para que presidente venezuelano saia do poder (Carlos Garcia Rawlins/Reuters)

EC

Estadão Conteúdo

Publicado em 4 de abril de 2019 às 09h35.

Última atualização em 4 de abril de 2019 às 16h30.

O assessor econômico da Casa Branca Larry Kudlow afirmou na quarta-feira, que os Estados Unidos estão organizando um plano de recuperação econômica para a Venezuela, incluindo apoio financeiro e alimentar, além da entrega de dinheiro à população. O plano inclui a entrada de dólares no país e, segundo Kudlow, os americanos estão trabalhando com bancos da região para tornar a medida operacional.

O anúncio mostra que os Estados Unidos consideram que a transição do regime de Nicolás Maduro para outro governo é questão de tempo, e já articulam o passo adiante após o fim do regime chavista. A hiperinflação jogou a maior parte da população do país na pobreza e apesar da pressão interna e externa, Maduro acusa os EUA de articularem um golpe de estado para destituí-lo. Os EUA, assim como o Brasil, reconhecem o presidente da Assembleia Nacional, Juan Guaidó, como presidente interino do país.

Ameaçado de ser preso a qualquer momento, o líder opositor Juan Guaidó convocou ontem uma manifestação para sábado, 6, até o palácio presidencial de Miraflores e sinalizou com seu possível pedido à Assembleia Nacional para autorizar a entrada de uma missão militar estrangeira na Venezuela. Na terça, a Assembleia Constituinte retirou imunidade parlamentar de Guaidó e autorizou o início de um processo jurídico contra ele.

Segundo Kudlow, os EUA pensam em "formas inteligentes" de fazer dólares - e não bolívares, a moeda local - chegarem à população venezuelana por meio de bancos e aplicativos. O movimento será "feito rapidamente" pela Casa Branca se houver uma transição do regime de Maduro para o de Guaidó. Segundo o assessor econômico, o plano tem sido debatido pelo Tesouro americano, em conjunto com o Conselho de Segurança Nacional e o Fundo Monetário Internacional (FMI).

"É uma mensagem para a população da Venezuela, certamente, assim eles podem esperar por um futuro melhor, com esperança de que seja breve. Mas também é um reconhecimento de que a Venezuela está em um estado de colapso que vai necessitar não só boa vontade mas também recursos significativos da comunidade internacional para reconquistar sua base política e econômica", avalia Eric Farnsworth, vice presidente do Council of Americas e ex-assessor da Casa Branca e do Departamento de Estado.

Benjamin Gedan, ex-diretor para América do Sul no Conselho de Segurança Nacional dos EUA e atual integrante do programa de América Latina do Wilson Center, afirma que a promessa de uma vida melhor encoraja deserções da elite que ainda dá sustentação a Maduro. "É preciso anistia, um papel na vida pública para os chavistas e o retorno à prosperidade, através do alívio de sanções e ajuda e investimento estrangeiro", afirma.

A avaliação de especialistas e do governo americano é que a saída de Maduro é só o primeiro passo de um longo processo de recuperação pelo qual a Venezuela terá de passar. "Recuperação econômica será longa e árdua. É apropriado que os EUA e a comunidade internacional estejam pensando nisso com antecedência", afirma Farnsworth.

Gedan é cético sobre promessas de assistência vindas do governo americano: "A questão é se promessas da Casa Branca são críveis, considerando a antipatia pela assistência estrangeira e o tratamento dispensado a parceiros regionais como Guatemala, Honduras e El Salvador".

Há 15 dias, especialistas e aliados de Guaidó discutiram em evento organizado pelo think tank Atlantic Council, em Washington, os caminhos para reconstrução da Venezuela. Nancy Rivera, diretora da Overseas Private Investment Corporation - agência financeira americana destinada à suporte de investimento privado em mercados emergentes -, afirmou que empréstimos de entidades públicas não serão suficientes, considerando o nível de crise financeira do país. "A única solução é obter estruturas legais e regulatórias para que o setor privado possa entrar", disse ela. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

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