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Especialistas esperam crescimento só a partir do quarto trimestre

Juro alto, inflação resistente, diminuição de renda, falta de crédito público e privado: são esses os fatores que levam vários analistas a prever que o ano de 2003 terminará com um crescimento econômico irrisório. É ilusório, no entender desses analistas, imaginar que a economia esteja às vésperas de uma fase gloriosa de crescimento, como parecem […]

EXAME.com (EXAME.com)
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Da Redação

Publicado em 9 de outubro de 2008 às 10h41.

Juro alto, inflação resistente, diminuição de renda, falta de crédito público e privado: são esses os fatores que levam vários analistas a prever que o ano de 2003 terminará com um crescimento econômico irrisório. É ilusório, no entender desses analistas, imaginar que a economia esteja às vésperas de uma fase gloriosa de crescimento, como parecem fazer crer alguns indicadores de curto prazo ou como promete o governo.

Vamos aos fatos: o crescimento populacional médio anual é de 1,2%, e a estimativa de uma alta no Produto Interno Bruto é de 1,6% a 1,8% no fim do ano. Esses dois fatores mostram objetivamente um cenário praticamente estagnado para a economia brasileira no primeiro ano do governo Lula. E esse ínfimo percentual de crescimento também só será factível, afirmam os analistas, se o governo cumprir os cronogramas e promessas, isto é, se o Congresso aprovar as reformas tributárias e previdenciárias previstas para este ano. E mais: não deixar que os resultados da balança comercial piorem.

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"A economia vive um momento de retração e não serão os resultados da balança comercial que vão segurar as contas do governo no segundo semestre, como tem acontecido até agora", diz Odair Abate, economista-chefe do Lloyds TSB. Abate explica que, devido à alta do dólar no ano passado, será difícil imaginar que a balança comercial chegue aos mesmos patamares do segundo semestre de 2002. Para ele, o governo precisa fazer um corte nos juros rápido e intenso para que os efeitos psicológicos dessa redução cheguem ao setor privado ainda neste ano e crie condições de números e resultados efetivamente melhores em 2004.

Mesmo que o governo promova uma redução na taxa de juros, os efeitos serão sentidos pela economia real só depois de cerca de seis meses, dependendo da intensidade do corte. Segundo o Dieese, uma eventual queda nos juros já no mês de junho terá reflexo no mercado de trabalho no quarto trimestre, já que o efeito do juro na economia dura pelo menos seis meses.

Os juros altos são, na verdade, os responsáveis pelo maior nó da política econômica. "A economia brasileira vive um problema que se retroalimenta", afirma Cristiano Souza, economista da MB Associados. Souza explica essa "autofagia" como um círculo vicioso: o governo precisa de juro alto para financiar gastos, os juros altos pressionam o setor produtivo, que reajusta os salários abaixo da inflação, a redução dos salários leva a uma diminuição de compra, que gera inflação resistente, que, finalmente, obriga o governo a manter a alta dos juros. "As reformas poupariam o dinheiro do governo que deveria ser usado para impulsionar a economia", afirma ele. "Como não há investimento público, a sociedade acaba financiando as necessidades do governo com o juro alto." De fato, sem um corte de juros, não haveria solução possível para o crescimento no curto prazo, mas a instabilidade externa e interna só permitem um corte de juro gradual. As estimativas para a taxa básica do Banco Central (a Selic) até o final do ano variam de 21% a 22%.

"A economia brasileira está atualmente muito voltada para o mercado interno. A redução real de salários e, conseqüentemente, da demanda é o que mais agrava a situação atual da indústria", afirma Silvio Sales, chefe do departamento de indústria do IBGE (Fundação Instituto Brasileiro de Geografia e Estatísticas) - órgão que acompanha o desenvolvimento da indústria brasileira desde os anos 70. "A instabilidade leva todos os analistas a rever as previsões para baixo."

Outro fator que precisa ser observado é o excesso de superávit primário que o governo está produzindo: o mês de abril fechou com uma taxa de 6,53% do PIB. "O governo precisa começar a gastar esse dinheiro extra, já que a meta do superávit de 4,5% já alta o bastante", afirma Abate. Outros especialistas ouvidos pelo Portal EXAME também ressaltaram esse excesso do superávit, já que o governo, quando realiza obras, é um importante financiador da economia interna. Apesar de todos os fatores negativos, Abate ressalta que a base de comparação dos últimos três anos foi muito fraca. "O que permite resultados razoáveis em 2003", diz ele.

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