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Empresários x mercado: 7 motivos para o BC elevar ou não os juros

EXAME.com lista os argumentos apresentados pelos dois lados e que certamente permeiam as discussões no Banco Central

Fiesp e Banco Central: empresários normalmente criticam as decisões do Copom (Fotomontagem//Wikimedia Commons)
DR

Da Redação

Publicado em 7 de junho de 2011 às 16h21.

São Paulo – As reuniões do Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central são fechadas e pouco se sabe sobre os debates entre os diretores. De vez em quando vazam informações sobre algum bate-boca mais acalorado e nem sempre a decisão final dos juros é unânime. O quarto encontro sob o comando de Alexandre Tombini começa nesta terça (7) e termina no dia seguinte (8).

Do lado de fora dos gabinetes de Brasília, o tema também costuma pegar fogo e acaba invariavelmente colocando empresários e analistas do mercado em lados opostos. Com base em relatórios, declarações, debates, entrevistas e artigos, EXAME.com selecionou os principais pontos que são utilizados por eles.

O objetivo da matéria é reunir o senso comum a partir do que já foi externado por esses grupos. Pode haver, evidentemente, exceções nos dois lados que não se sintam representadas por essas ideias.

Se olharmos as reuniões do Copom desde a criação do sistema de metas de inflação, em 1999, a maioria das decisões do Banco Central foi ao encontro das opiniões do mercado financeiro, o que sempre gera protestos dos empresários.

De uma forma geral e levando-se em conta que cada um defende o seu interesse, os argumentos são coerentes e têm lógica econômica. Não existe certo ou errado. É ler, refletir e formar a sua própria opinião.

1 - Inflação em queda

O que dizem os empresários: Os últimos resultados mensais mostram uma tendência de queda da inflação e o próprio Banco Central espera índices perto de zero nos próximos meses. Não há motivos para elevar os juros com os preços em queda. Se a meta é esfriar o crédito, as medidas macroprudenciais são as mais indicadas.

O que dizem os analistas do mercado: Embora a inflação esteja em queda, o acumulado em 12 meses permanecerá acima da meta de 6,5% nos próximos meses. O problema maior, no entanto, é a dificuldade que o Banco Central encontra em trazer as expectativas inflacionárias de 2012 para o centro da meta de 4,5%. É fato que as medidas macroprudenciais estão gerando um efeito contracionista sobre o crédito, mas a melhor forma de atingir esse objetivo (controlar as expectativas) é a elevação dos juros.


2 - Política fiscal - O que dizem os empresários: Nos quatro primeiros meses do ano, União, estados, municípios e estatais economizaram R$ 57,3 bilhões, o equivalente a 49% da meta prevista para o ano. Não há, portanto, descontrole nos gastos que atrapalhem a inflação e justifiquem uma alta dos juros.

O que dizem os analistas do mercado: É verdade que a política fiscal tem apresentado bom comportamento, mas as dúvidas estão lá na frente, em 2012. Irá o governo manter a austeridade ou soltar os gastos? Além disso, a crise Palocci pode provocar a liberação de emendas de parlamentares que até então estavam contingenciadas, piorando o resultado fiscal já no segundo semestre. Vale lembrar que o resultado primário está sendo obtido por meio de aumento na arrecadação e queda nos investimentos, ou seja, os gastos correntes ainda seguem elevados, o que justifica o aperto monetário.

3 - Economia em desaceleração

O que dizem os empresários: A economia brasileira já está em processo de desaceleração e uma nova elevação dos juros pode significar um freio exagerado. O PIB do 1º trimestre mostrou moderação do consumo e o setor industrial, segundo dados do IBGE referentes ao mês de abril, entrou em processo de retração.

O que dizem os analistas de mercado: Embora a economia e o crédito apresentem sinais de desaceleração, o mercado de trabalho ainda segue muito aquecido. Um aperto monetário maior pelo Banco Central tende a trazer a atividade econômica para níveis mais compatíveis com a capacidade de o Brasil crescer sem gerar inflação. Não fazer isso agora é correr o risco de descontrole dos preços lá na frente.

4 - Crise internacional

O que dizem os empresários: O cenário internacional é muito nebuloso e não há garantias de que o mundo desenvolvido, principalmente os Estados Unidos e a Europa, apresentará números positivos nos próximos meses. A possibilidade de um duplo mergulho na crise ainda existe. Além disso, a China também está reduzindo seu ritmo de expansão. Nesse contexto, desacelerar demais a economia brasileira é um risco enorme e desnecessário.

O que dizem os analistas do mercado: Embora o cenário externo esteja repleto de incertezas, a hipótese de duplo mergulho na crise não é a mais provável. O Banco Central não pode ficar esperando uma eventual recessão mundial para decidir se aperta ou não as condições de crédito. O risco de não elevar os juros agora é descobrir mais tarde que a dose do remédio contra a inflação terá de ser muito maior por causa da demora inicial.


5 - Investimento privado - O que dizem os empresários: A alta dos juros encarece o crédito e esfria os ânimos do setor produtivo, que para de investir. Esse fenômeno já pode ser constatado no índice de confiança dos empresários da Fundação Getúlio Vargas e nos números da indústria de abril divulgados pelo IBGE. Os recursos internacionais e do BNDES, embora baratos, não estão ao alcance das pequenas e médias empresas. Interromper agora os investimentos significa impedir que a economia brasileira cresça sem pressões inflacionárias no futuro.

O que dizem os analistas do mercado: Os investimentos privados, embora muito bem vindos, significam aumento da demanda no curto prazo. Em outras palavras, antes de virar capacidade maior de produção, os investimentos pressionam a inflação. Além disso, o fato de o Banco Central elevar os juros não deveria necessariamente levar a um esfriamento dos investimentos, pois as empresas podem captar recursos no exterior ou via BNDES com taxas subsidiadas.

6 - Câmbio valorizado

O que dizem os empresários: Elevar os juros significa valorizar ainda mais a taxa de câmbio, que tira a competitividade dos produtos brasileiros no exterior. Os investidores tendem a trazer seus recursos para lucrar com os juros pagos aqui e ainda ganham com a valorização do real. O resultado final pode ser uma piora no resultado da balança comercial, que fica muito dependente das commodities.

O que dizem os analistas do mercado: Um aumento de 0,25 ponto percentual não fará tanta diferença no fluxo de dólares em direção ao Brasil. Existe muita liquidez no mundo e o Brasil é o caminho natural não apenas por causa dos juros, mas também devido ao seu potencial econômico. Se o problema cambial fosse apenas causado por especuladores, a elevação de IOF já teria resolvido a questão. Além disso, o Banco Central pode, se quiser, continuar defendendo o piso de R$ 1,60 por dólar por meio de leilão de compras. Quanto à balança comercial, existe uma tendência natural de que os preços das commodities subam na mesma proporção em que o dólar perca valor no mundo, o que garante o resultado comercial positivo do Brasil.

7- Gastos com os juros da dívida e a ampliação das reservas

O que dizem os empresários: Não faz sentido o Brasil gastar R$ 214 bilhões ao ano com juros da dívida (dado dos últimos 12 meses). Quanto maior a taxa de juros, mais os cofres públicos sangram. Além disso, o Banco Central fica empilhando dólares em suas reservas a um custo altíssimo, que é a diferença entre a Selic (12% ao ano) paga no Brasil e a remuneração (perto de 0%) dessas reservas no exterior. Quantos investimentos em infraestrutura e em programas sociais não poderiam ser feitos com esses recursos?

O que dizem os analistas do mercado: Ninguém é a favor de gastos excessivos com juros da dívida, porém essa situação existe porque o governo é grande demais, tem gastos desnecessários e precisa pagar juros altos para conseguir financiar suas contas. A solução para o problema é uma reforma administrativa e não impedir o Banco Central de elevar os juros. Quanto às reservas, o custo para mantê-las é realmente elevado, mas a blindagem contra crises (vide a recente crise internacional) compensa esse valor gasto.

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São Paulo – As reuniões do Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central são fechadas e pouco se sabe sobre os debates entre os diretores. De vez em quando vazam informações sobre algum bate-boca mais acalorado e nem sempre a decisão final dos juros é unânime. O quarto encontro sob o comando de Alexandre Tombini começa nesta terça (7) e termina no dia seguinte (8).

Do lado de fora dos gabinetes de Brasília, o tema também costuma pegar fogo e acaba invariavelmente colocando empresários e analistas do mercado em lados opostos. Com base em relatórios, declarações, debates, entrevistas e artigos, EXAME.com selecionou os principais pontos que são utilizados por eles.

O objetivo da matéria é reunir o senso comum a partir do que já foi externado por esses grupos. Pode haver, evidentemente, exceções nos dois lados que não se sintam representadas por essas ideias.

Se olharmos as reuniões do Copom desde a criação do sistema de metas de inflação, em 1999, a maioria das decisões do Banco Central foi ao encontro das opiniões do mercado financeiro, o que sempre gera protestos dos empresários.

De uma forma geral e levando-se em conta que cada um defende o seu interesse, os argumentos são coerentes e têm lógica econômica. Não existe certo ou errado. É ler, refletir e formar a sua própria opinião.

1 - Inflação em queda

O que dizem os empresários: Os últimos resultados mensais mostram uma tendência de queda da inflação e o próprio Banco Central espera índices perto de zero nos próximos meses. Não há motivos para elevar os juros com os preços em queda. Se a meta é esfriar o crédito, as medidas macroprudenciais são as mais indicadas.

O que dizem os analistas do mercado: Embora a inflação esteja em queda, o acumulado em 12 meses permanecerá acima da meta de 6,5% nos próximos meses. O problema maior, no entanto, é a dificuldade que o Banco Central encontra em trazer as expectativas inflacionárias de 2012 para o centro da meta de 4,5%. É fato que as medidas macroprudenciais estão gerando um efeito contracionista sobre o crédito, mas a melhor forma de atingir esse objetivo (controlar as expectativas) é a elevação dos juros.


2 - Política fiscal - O que dizem os empresários: Nos quatro primeiros meses do ano, União, estados, municípios e estatais economizaram R$ 57,3 bilhões, o equivalente a 49% da meta prevista para o ano. Não há, portanto, descontrole nos gastos que atrapalhem a inflação e justifiquem uma alta dos juros.

O que dizem os analistas do mercado: É verdade que a política fiscal tem apresentado bom comportamento, mas as dúvidas estão lá na frente, em 2012. Irá o governo manter a austeridade ou soltar os gastos? Além disso, a crise Palocci pode provocar a liberação de emendas de parlamentares que até então estavam contingenciadas, piorando o resultado fiscal já no segundo semestre. Vale lembrar que o resultado primário está sendo obtido por meio de aumento na arrecadação e queda nos investimentos, ou seja, os gastos correntes ainda seguem elevados, o que justifica o aperto monetário.

3 - Economia em desaceleração

O que dizem os empresários: A economia brasileira já está em processo de desaceleração e uma nova elevação dos juros pode significar um freio exagerado. O PIB do 1º trimestre mostrou moderação do consumo e o setor industrial, segundo dados do IBGE referentes ao mês de abril, entrou em processo de retração.

O que dizem os analistas de mercado: Embora a economia e o crédito apresentem sinais de desaceleração, o mercado de trabalho ainda segue muito aquecido. Um aperto monetário maior pelo Banco Central tende a trazer a atividade econômica para níveis mais compatíveis com a capacidade de o Brasil crescer sem gerar inflação. Não fazer isso agora é correr o risco de descontrole dos preços lá na frente.

4 - Crise internacional

O que dizem os empresários: O cenário internacional é muito nebuloso e não há garantias de que o mundo desenvolvido, principalmente os Estados Unidos e a Europa, apresentará números positivos nos próximos meses. A possibilidade de um duplo mergulho na crise ainda existe. Além disso, a China também está reduzindo seu ritmo de expansão. Nesse contexto, desacelerar demais a economia brasileira é um risco enorme e desnecessário.

O que dizem os analistas do mercado: Embora o cenário externo esteja repleto de incertezas, a hipótese de duplo mergulho na crise não é a mais provável. O Banco Central não pode ficar esperando uma eventual recessão mundial para decidir se aperta ou não as condições de crédito. O risco de não elevar os juros agora é descobrir mais tarde que a dose do remédio contra a inflação terá de ser muito maior por causa da demora inicial.


5 - Investimento privado - O que dizem os empresários: A alta dos juros encarece o crédito e esfria os ânimos do setor produtivo, que para de investir. Esse fenômeno já pode ser constatado no índice de confiança dos empresários da Fundação Getúlio Vargas e nos números da indústria de abril divulgados pelo IBGE. Os recursos internacionais e do BNDES, embora baratos, não estão ao alcance das pequenas e médias empresas. Interromper agora os investimentos significa impedir que a economia brasileira cresça sem pressões inflacionárias no futuro.

O que dizem os analistas do mercado: Os investimentos privados, embora muito bem vindos, significam aumento da demanda no curto prazo. Em outras palavras, antes de virar capacidade maior de produção, os investimentos pressionam a inflação. Além disso, o fato de o Banco Central elevar os juros não deveria necessariamente levar a um esfriamento dos investimentos, pois as empresas podem captar recursos no exterior ou via BNDES com taxas subsidiadas.

6 - Câmbio valorizado

O que dizem os empresários: Elevar os juros significa valorizar ainda mais a taxa de câmbio, que tira a competitividade dos produtos brasileiros no exterior. Os investidores tendem a trazer seus recursos para lucrar com os juros pagos aqui e ainda ganham com a valorização do real. O resultado final pode ser uma piora no resultado da balança comercial, que fica muito dependente das commodities.

O que dizem os analistas do mercado: Um aumento de 0,25 ponto percentual não fará tanta diferença no fluxo de dólares em direção ao Brasil. Existe muita liquidez no mundo e o Brasil é o caminho natural não apenas por causa dos juros, mas também devido ao seu potencial econômico. Se o problema cambial fosse apenas causado por especuladores, a elevação de IOF já teria resolvido a questão. Além disso, o Banco Central pode, se quiser, continuar defendendo o piso de R$ 1,60 por dólar por meio de leilão de compras. Quanto à balança comercial, existe uma tendência natural de que os preços das commodities subam na mesma proporção em que o dólar perca valor no mundo, o que garante o resultado comercial positivo do Brasil.

7- Gastos com os juros da dívida e a ampliação das reservas

O que dizem os empresários: Não faz sentido o Brasil gastar R$ 214 bilhões ao ano com juros da dívida (dado dos últimos 12 meses). Quanto maior a taxa de juros, mais os cofres públicos sangram. Além disso, o Banco Central fica empilhando dólares em suas reservas a um custo altíssimo, que é a diferença entre a Selic (12% ao ano) paga no Brasil e a remuneração (perto de 0%) dessas reservas no exterior. Quantos investimentos em infraestrutura e em programas sociais não poderiam ser feitos com esses recursos?

O que dizem os analistas do mercado: Ninguém é a favor de gastos excessivos com juros da dívida, porém essa situação existe porque o governo é grande demais, tem gastos desnecessários e precisa pagar juros altos para conseguir financiar suas contas. A solução para o problema é uma reforma administrativa e não impedir o Banco Central de elevar os juros. Quanto às reservas, o custo para mantê-las é realmente elevado, mas a blindagem contra crises (vide a recente crise internacional) compensa esse valor gasto.

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