Analistas do Wall Street descreveram a situação econômica do Brasil como "caótica", "extremamente complicada" e com uma crise política vista como "muito séria" (Delpixart/Thinkstock)
Da Redação
Publicado em 18 de setembro de 2015 às 10h05.
Nova York - O Brasil acabou sendo um dos principais destaques de um seminário em Wall Street, com economistas e gestores de bancos como Morgan Stanley e Citigroup, para discutir o impacto de uma alta de juros nos Estados Unidos em países emergentes.
A avaliação da economia brasileira mostrada no evento não foi das melhores: foi descrita pelos executivos do setor financeiro como "caótica", "extremamente complicada" e com uma crise política vista como "muito séria".
O seminário foi organizado pela Emta, uma associação com sede em Nova York que reúne investidores que aplicam em mercados emergentes.
Realizado na sede do banco UBS e com auditório lotado, o evento terminou na noite de quarta-feira, 16, e o Brasil acabou ocupando boa parte das discussões, com os executivos mencionando temas como crise política, ajuste fiscal, recessão, Petrobrás e corrupção.
O país, juntamente com outros emergentes, como a Turquia e a Rússia, foi apontado como vulnerável e, portanto, mais propenso a sentir os efeitos de uma alta de juros nos Estados Unidos, amplamente esperada pelo mercado, mas ainda indefinida.
Ontem, o Federal Reserve, o Banco Central dos EUA, decidiu mais uma vez manter inalterada a taxa de juros no país.
Falta de clareza
"A situação no Brasil é extremamente complicada", afirmou o diretor executivo e chefe da área econômica para emergentes do Citigroup, Guillermo Mondino, mencionando a crise política, a deterioração acelerada do Produto Interno Bruto (PIB) e a falta de clareza e consenso do governo sobre o que fazer para tentar "achar uma luz no fim do túnel". "O país está em uma situação muito difícil, a crise é muito profunda e séria", disse.
Para o executivo do Citi, se o governo conseguir implementar de forma bem-sucedida o pacote com medidas de austeridade anunciado esta semana, tem chance de evitar um novo rebaixamento do rating soberano por outra agência de classificação de risco.
Mais um rebaixamento aprofundaria a recessão no país, disse ele.
No evento, porém, foram levantadas dúvidas sobre a capacidade de o governo conseguir avançar com o pacote. O Congresso hostil ao governo é um dos fatores que deixam as coisas mais incertas, afirmou o diretor de estratégia de renda fixa para emergentes do Morgan Stanley, Gordian Kemen.
Além disso, a presidente Dilma Rousseff enfrenta níveis historicamente baixos de popularidade.
"O melhor cenário parece ser uma estabilização das coisas em um nível muito baixo", afirmou. A recomendação neste momento para estrangeiros interessados no país, disse Kemen, é de cautela.
Com dúvidas sobre os rumos do pacote fiscal, Kemen também levantou preocupações sobre se o país vai conseguir evitar um novo rebaixamento.
No caso da Moodys, se isso acontecer, o Brasil deixaria de ser considerado grau de investimento por uma segunda agência de classificação de risco, o que ajudaria a afastar ainda mais investidores estrangeiros do país.
O executivo do Morgan destacou que o Brasil sempre atraiu investidores de risco, mas desde que se transformou em grau de investimento passou a atrair muitos aplicadores, como fundos de pensão e seguradoras, que só investem em mercados mais seguros, com essa classificação por pelo menos duas agências.
E são eles que podem deixar o país em massa em caso de novo rebaixamento.
Para Gunter Heiland, sócio e gestor da Gramecy, gestora do Estado de Connecticut que tem US$ 5,6 bilhões aplicados em emergentes, a crise política é séria e os escândalos de corrupção que se acumulam só agravam a situação e ajudam a piorar a crise entre o Planalto e o Congresso.
Cautela
Mesmo gestoras de Wall Street especializados em ativos de maior risco nos emergentes, como a Greylock Capital Management, que administra US$ 2 bilhões, mostram cautela com o Brasil.
O diretor da gestora, Christopher Tackney, também ressaltou que a situação no país está complicada e diz que a deterioração ajuda a aumentar o movimento de diferenciação mesmo dentro da América Latina.
Em outros momentos no passado de maior incerteza do mercado, uma situação como a do Brasil levaria a fuga de recursos de toda América Latina, disse Tackney. Mas, agora os investidores diferenciam mais. A Colômbia, por exemplo, tem recebido recursos.
Com uma série de problemas que se acumulam, "o Brasil tem questões, sobretudo fiscais, que, se não forem resolvidas, ficarão piores", avalia o economista-chefe para América Latina do UBS, Rafael de la Fuente, que mediou o debate e levantou as questões sobre os problemas brasileiros.