Economia

Em 2020, moedas da América Latina estarão cercadas por tensões regionais

Clima político severo tomou conta da região no final de 2019, com uma incomum rixa entre Brasil e Argentina e uma explosão de protestos nos países andinos

Peso argentino: país vive crise de dívida externa (Agustin Marcarian/Reuters)

Peso argentino: país vive crise de dívida externa (Agustin Marcarian/Reuters)

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Reuters

Publicado em 9 de janeiro de 2020 às 13h54.

Última atualização em 9 de janeiro de 2020 às 14h00.

Buenos Aires — As moedas da América Latina vão trilhar com cuidado o ano novo, diante das contínuas tensões políticas na região e, ao longo de 2020, das preocupações com discursos mais protecionistas na campanha eleitoral dos Estados Unidos, mostrou uma pesquisa da Reuters.

O peso mexicano e o real, as principais moedas latino-americanas, devem permanecer dentro dos limites recentes ou próximas dos níveis atuais, conforme as estimativas. A sondagem foi realizada de 6 a 9 de janeiro, em meio ao início da mais recente escalada das tensões entre EUA e Irã.

Um clima político severo que tomou conta da América Latina no final de 2019 — com uma incomum rixa entre Brasil e Argentina e uma explosão de protestos nos países andinos-- também pesará nos mercados de câmbio da região.

"A economia do Brasil pode ser afetada pela nova orientação política na Argentina, que deve se tornar mais protecionista, levando a uma redução adicional no comércio", escreveram os analistas da consultoria econômica peruana Phase Consultores em relatório desta semana.

A eleição do esquerdista Alberto Fernández na Argentina, que o presidente Jair Bolsonaro chamou de "bandidos de esquerda", preparou o terreno para uma disputa entre as duas maiores economias da América do Sul.

O medo sobre os problemas de dívida da Argentina e o novo governo foram um fator por trás da perda de 3,4% do real em relação ao dólar no ano passado. Outro motivo foi o surgimento de obstáculos inesperados na aprovação da histórica reforma da Previdência.

Prada, do Barclays, citou "a falta de uma agenda clara de reformas e pressões fiscais remanescentes" como possíveis riscos para a moeda brasileira no segundo semestre, à medida que as autoridades pressionam por grandes mudanças no sistema tributário do país e algumas privatizações.

O real foi estimado em 4,0 por dólar dentro de um ano, implicando uma valorização de 1,7% a partir desta quinta-feira. No entanto, a expectativa é que a moeda se enfraqueça em um e três meses, uma rara previsão para o curto prazo que reflete a cautela dos analistas.

No caso do peso mexicano, o curto prazo parece positivo devido a uma atitude prudente do banco central do país e a alguns sinais de melhora na economia brasileira, disse Juan Prada, estrategista do Barclays. No entanto, a segunda metade de 2020 pode ser mais desafiadora.

"As eleições nos EUA e as ameaças potenciais ao comércio e à migração, e a deterioração institucional no México... podem trazer riscos negativos ainda em 2020", acrescentou.

O peso terminou 2019 com um ganho de 3,6%, que ocorreu principalmente no final do ano, após as mudanças no Acordo EUA-México-Canadá (USMCA) terem sido acordadas após meses de discussões sobre o pacto comercial para garantir regras trabalhistas mais rígidas no México.

A moeda será negociada a 19,50 por dólar em 12 meses, enfraquecendo 3,9% em relação à cotação desta quinta-feira, mas permanecendo dentro de uma faixa de oscilação bem estabelecida pelo quarto ano, de acordo com a mediana das estimativas de 22 estrategistas.

Entre outras divisas, espera-se que peso do Chile seja negociado a 760 por dólar em 12 meses, praticamente incapaz de se recuperar do impacto sofrido em 2019, após um surto de descontentamento social em relação ao modelo econômico de longa data do país.

Na Argentina, estrategistas de câmbio previram pressões sobre a taxa de câmbio interbancária --altamente regulada-- em alta a partir de junho, quando expira um congelamento de 180 dias nas tarifas de serviço público negociado pelo governo peronista com líderes empresariais.

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