EXAME.com (EXAME.com)
Da Redação
Publicado em 9 de outubro de 2008 às 10h36.
Quanto mais eficiente for o mercado de crédito, mais lucrativo será para os bancos direcionar recursos ao setor privado. O problema é que isso diminui a quantidade de recursos disponível para o setor público e, como conseqüência, a taxa de juros que o Estado precisa pagar para financiar suas necessidades deve aumentar. Segundo José Márcio Camargo, analista da Tendências Consultoria Integrada, por esse raciocínio são irracionais as críticas ao aumento dos juros que se fundamentam na queda dos spreads bancários.
Para Camargo, é importante notar que as reformas microeconômicas introduzidas em 2004 estão sendo bem-sucedidas, o que se reflete na queda do spread. Essas reformas (como a nova lei de falências) têm como objetivo reduzir o risco dos empréstimos e melhorar a probabilidade de recuperação de crédito pelo sistema financeiro. Seu êxito implica em alocação mais eficiente de recursos na economia e aumento da relação entre crédito e Produto Interno Bruto (PIB), até hoje muito baixa no Brasil e um fator de constrangimento para a expansão econômica (leia reportagem de EXAME sobre as dificuldades das empresas para financiar seu crescimento).
Segundo o analista, se a demanda estiver mesmo superaquecida (e, portanto, o Banco Central estiver correto), esse aumento da eficiência do mercado de crédito exigirá uma política monetária mais dura do que a anterior às reformas, compensando a queda do spread, para que os aumentos de juros tenham o efeito desejado sobre a demanda. Não cabe, assim, pedir "outros instrumentos", sob a alegação de que o impacto da Selic sobre a demanda está defasado, mas aplicar com ainda mais rigor o instrumento de sempre. Camargo afirma que a elevação da razão crédito/PIB ao longo do tempo, resultado da consolidação das reformas, vai tornar a política monetária ainda mais efetiva do que já é, porque sua base de incidência será muito maior do que hoje.
Camargo aponta uma medida extra-monetária que poderia acelerar os avanços da economia. "Não há dúvida de que o instrumento complementar da política monetária neste momento seria uma política fiscal mais austera do que a que está sendo executada", diz o economista. "Mas isso não é uma função do Banco Central."