Economia

Durante visita de Lula, Bush afirma que relação com o Brasil "é vital"

O clima de descontração marcou o encontro de quase três horas entre o presidente Luiz Inácio Lula da Silva e o presidente americano, George W. Bush, na Casa Branca. Segundo informações da Agência Brasil, Lula estava bastante descontraído e chegou a brincar no início do encontro que o Brasil "além do Carnaval, além do futebol, […]

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Da Redação

Publicado em 9 de outubro de 2008 às 10h53.

O clima de descontração marcou o encontro de quase três horas entre o presidente Luiz Inácio Lula da Silva e o presidente americano, George W. Bush, na Casa Branca. Segundo informações da Agência Brasil, Lula estava bastante descontraído e chegou a brincar no início do encontro que o Brasil "além do Carnaval, além do futebol, tem coisas maravilhosas". Lula afirmou que sempre acreditou na possibilidade de aperfeiçoamento das relações do Brasil com os Estados Unidos. Bush, por sua vez, disse que "é vital" para o país manter uma boa relação com o Brasil.

Segundo ele, desde o encontro com Bush em dezembro do ano passado, voltou ao Brasil com a certeza de que os dois países "têm a possibilidade de manter as mais profícuas relações". "E que essas relações têm que ser feitas com base na sinceridade das pessoas, na confiabilidade dos dirigentes e não apenas num jogo de cena para a imprensa do mundo inteiro", completou.

As duras palavras de Lula foram mantidas quando afirmou ter aprendido ao longo de sua vida tratar as pessoas a partir de uma relação de confiança. "Eu acho que o Brasil é e pode continuar sendo um grande parceiro dos Estados Unidos. Nós temos muitas coisas em comum", ressaltou.

Para Lula, a reunião desta sexta-feira (20/6) com Bush é uma novidade porque não ocorre apenas com a presença dos dois presidentes, mas com ministros dos dois países. Lula convidou Bush para visitar o Brasil em breve.

O encontro entre os presidentes foi para discutir os principais pontos das relações políticas e comerciais entre os dois países. A viagem marca o amadurecimento das relações diplomáticas do Brasil com os EUA. Lula será o primeiro chefe de Estado a não apoiar os Estados Unidos na guerra contra o Iraque a ser recebido por Bush, segundo informações da Agência Brasil. O assunto dominante das conversas, além das negociações comerciais, será a inserção do Brasil na Área de Livre Comércio das Américas (Alca). A intenção dos Estados Unidos é viabilizar a Alca até 2005, mas para isso, precisam do apoio de grande parte dos países das Américas.

"Sabemos a importância que tem os Estados Unidos, de investidores norte-americanos no Brasil, e queremos tratar isso com muito carinho. Da mesma forma que acredito que o presidente Bush esteja vendo no Brasil um parceiro importante", disse Lula. Lula disse que Bush sabe do peso que o Brasil tem na manutenção da paz na América do Sul, e afirmou que a relação com o presidente americano não é pessoal, mas de chefes de Estado. "Estou convencido de que nós temos a chance de fazer a mais perfeita relação Brasil-Estados Unidos", disse o presidente brasileiro.

Segundo Bush, o Brasil é uma parte muito importante para manter a América do Norte e a América do Sul em paz, com prosperidade. "Eu posso dizer que do ponto de vista dos Estados se trata de uma relação vital muito importante e sempre crescente", disse Bush. Ele disse estar "muito impressionado" com a visão de mundo do presidente brasileiro: "É. um homem que sem dúvida preocupa-se muito com todo povo e com o Brasil, e não só tem um grande coração, mas também tem a capacidade de trabalhar conjuntamente com os membros do seu governo com o povo brasileiro em favor da prosperidade, contra a pobreza e a fome", disse Bush, que afirmou ter sido uma honra receber Lula na Casa Branca.

No total, dez ministros acompanharam Lula aos Estados Unidos: os ministros da Fazenda, Antonio Palocci, de Minas e Energia, Roberto Rodrigues, da Agricultura, Dilma Rousseff, do Trabalho, Jaques Wagner, da Casa Civil, José Dirceu, do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, Luiz Fernando Furlan, do Meio Ambiente, Marina Silva, da Saúde, Humberto Costa, de Ciência e Tecnologia, Roberto Amaral, e de Relações Exteriores, Celso Amorim, acompanharão Lula.

Grupo de Trabalho para o Crescimento

Os dois países criaram o Grupo de Trabalho para o Crescimento. Seus principais compromissos são alavancar a produtividade da economia de ambos países, reduzir entraves para a criação e expansão das pequenas e médias empresas, aumentar o crédito, promover o comércio, além de fortalecer a concorrência doméstica e a infra-estrutura.

Depois do encontro do ministro da Fazenda, Antônio Palocci, com o secretário do tesouro americano, John Snow, nota divulgada à imprensa afirmava que o grupo não beneficiará apenas os dois países, mas também o restante do continente.

Os representantes do Brasil no grupo de trabalho são o secretário do Tesouro Nacional, Joaquim Levy, e o secretário de política econômica, Marcos Lisboa. Pelos Estados Unidos, o indicado é o subsecretário para assuntos internacionais do tesouro americano, John Taylor. A primeira reunião do Grupo de Trabalho para o Crescimento será no terceiro trimestre deste ano.

ONU

Lula cobrou de Bush mudanças na Organização das Nações Unidas (ONU). Segundo Lula, o Brasil "tem todo interesse" em mudanças na organização internacional, especialmente após a guerra entre os Estados Unidos e o Iraque. Afirmou ainda que aproveitou o encontro para afirmar a Bush que o Brasil pleiteia uma vaga permanente no Conselho de Segurança da ONU. "Acho que ele vai fazer uma reflexão porque temos o apoio de muita gente no mundo, de toda a América Latina", ressaltou.

O fato do Brasil não ter apoiado os EUA na guerra contra o Iraque não representa, na opinião do presidente Lula, uma ameaça às relações bilaterais. "Sempre haverá temas que são motivo de discordância. E nós precisamos ter inteligência e competência para fazer com que a gente discuta as coisas em que concordamos. Eu não vim aqui para discutir o Iraque, eu vim aqui para discutir relação Brasil - EUA", disse Lula.

Lula também reservou espaço em sua agenda, em Washington, para uma audiência com a cúpula da Central Sindical Americana (AFL-CIO). A entidade é contrária a criação da Alca e tem hoje dez milhões de associados nos Estados Unidos. Um dos diretores da AFL-CIO é Stanley Gacek, amigo de Lula há mais de 30 anos.

Cenário brasileiro

Lula disse que todos os integrantes do governo desejam que os juros reais (Selic menos inflação) fiquem na casa de um dígito. Ele afirmou que isso será normal quando a inflação estiver em torno de 7% ao ano. "Os juros não podem ser de 30%, 40% ou 80%, como é no mercado financeiro", afirmou.

No entanto, o presidente observou que isso é uma expectativa, um sonho que o governo batalha para ser colocado em prática. "Nós estamos trabalhando para isso: a busca incessante para que a grande motivação do nosso país seja o investimento no setor produtivo, e não na especulação financeira. Nós vamos trabalhar com os poucos recursos que temos fazendo com que ele chegue às mãos tanto do consumidor quanto do micro e pequeno empresário a juros mais baratos que os registrados hoje", disse o presidente à Agência Brasil.

Nesta quinta-feira (19/6), o ministro do Desenvolvimento, Luiz Fernando Furlan, também disse que é possível o país ter juros reais com um dígito apenas.

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