Economia

Dirceu sai do governo Lula após denúncias de corrupção

Saída de Dirceu era esperada pelo mercado financeiro e "retira foco potencial de tensão do governo", segundo analista

EXAME.com (EXAME.com)

EXAME.com (EXAME.com)

DR

Da Redação

Publicado em 9 de outubro de 2008 às 11h17.

Ladeado pela maioria dos ministros do governo Lula, o chefe da Casa Civil, ministro José Dirceu, anunciou sua saída do cargo e o retorno à Câmara dos Deputados no fim da tarde desta quinta-feira (16/6), logo após o fechamento do mercado financeiro. A substituição do petista na cúpula do governo Lula, alvo das denúncias de corrupção do deputado Roberto Jefferson (PTB-RJ), já era esperada pelo mercado. Rumores da saída do chefe da Casa Civil já circulavam, inclusive, pelo noticiário internacional.

No lugar de Dirceu, que ficou 30 meses no cargo, deve entrar interinamente Swendenberg Barbosa, secretário-executivo do Ministério da Casa Civil. José Dirceu, eleito deputado federal nas eleições de 2002, assumirá a vaga na Câmara na próxima quarta-feira (22/6).

Em seu discurso, direto e curto, Dirceu afirmou: "Vou continuar no governo por ser deputado da base do governo". Quanto às denúncias de envolvimento na "compra" de voto de deputados com o chamado "mensalão", o ministro demissionário afirmou que vai "mobilizar o PT para dar combate a quem quer interromper as mudanças do governo Lula" para apoiar as investigações conjuntas da polícia e do Congresso Nacional.

Mercado financeiro

A saída de José Dirceu foi praticamente ignorada pelo mercado financeiro. "Essa era a notícia mais previsível do dia, o que o mercado discutia apenas era se o anúncio da queda de Dirceu seria feito hoje [quinta-feira] ou amanh", diz um administrador de recursos de um grande banco nacional. Por conta dessa ausência de expectativas, o comportamento dos ativos financeiros foi muito calmo.

A convicção geral do mercado é que os sólidos fundamentos da economia são muito mais importantes do que o vaivém político em Brasília. Na avaliação de um analista, a saída de Dirceu retira um foco potencial de tensão do governo. "Daqui em diante, Dirceu será o responsável retroativo por tudo o que acontecer de ruim no Brasil, incluindo a seca e as derrotas da Seleção", diz ele. "O governo poderá dizer que cortou fundo na própria carne e abandonou uma 'banda podre', o que politicamente é muito importante."
Por conta disso, os ativos financeiros praticamente não se movimentaram. Os contratos futuros de juros com vencimento em outubro, os mais negociados, fecharam indicando juros de 19,67% ao ano. No momento de maior alta, eles haviam registrado taxas de 19,71% ao ano. "Os contratos abriram na máxima do dia e foram caindo devagar", diz um operador.

O dólar fechou em baixa de 1,2% a 2,406 reais, perto dos níveis mínimos do dia. No mercado futuro, os contratos de julho, os mais negociados, fecharam em baixa a 2,422 reais por dólar, após abrirem a 2,447 reais. A Bolsa de Valores de São Paulo já havia fechado quando a notícia circulou. No entanto, o índice Bovespa havia registrado alta durante todo o dia e encerrou os negócios com valorização de 1%.

Repercussão política

Para o senador Jefferson Peres (PDT-AM), a saída de Dirceu é tardia e deveria ter ocorrido quando estourou o caso Waldomiro Diniz, em fevereiro do ano passado. "Ele [José Dirceu], ou o próprio presidente Lula, teimou em manter no cargo mesmo depois do caso Waldomiro", diz Peres. "Depois disso, ele se tornou alvo preferencial das oposições." Para o senador do Amazonas, o clima que José Dirceu encontrará na Câmara será dos mais hostis. "O Roberto Jefferson está fazendo acusações pesadíssimas, o PT está fraturado e a oposição está por cima, aguerrida."

Com reportagem de Cláudio Gradilone e Ricardo Muniz.

Acompanhe tudo sobre:[]

Mais de Economia

Com onda de calor e bandeira vermelha na conta de luz, veja dicas para economizar energia

Análise: PIB surpreende com expansão fiscal, pressiona a inflação e pode levar a alta de juros

PIB acima das expectativas pode "ensejar reprojeção" das receitas, diz Haddad

Por que os países que mais crescem na Ásia têm alto desemprego entre jovens?

Mais na Exame