Diplomatas da UE dizem que cabe ao Brasil salvar acordo comercial do Mercosul
O desmatamento na Amazônia segue no debate sobre do acordo comercial entre UE e Mercosul, que demorou duas décadas para ser negociado para ratificação
Reuters
Publicado em 11 de fevereiro de 2021 às 07h51.
Última atualização em 11 de fevereiro de 2021 às 14h59.
O tratado de livre comércio firmado entre a União Europeia e o Mercosul não será assinado se o Brasil não der passos concretos para a redução do desmatamento na Amazônia, disseram nesta quarta-feira embaixadores europeus.
"Precisamos de fatos... Se não tem avanços no vai ser possível assinar o acordo", disse a repórteres Ignacio Ybañez, embaixador da UE no Brasil.
Se isso não acontecer, a Comissão Europeia não poderá apresentar ao Parlamento Europeu o acordo que demorou duas décadas para ser negociado para ratificação, afirmou.
"Vamos continuar a ser exigentes com Brasil para ter resultados concretos. O Brasil sabe do trabalho que tem que fazer", disse Ybañez.
Em um avanço contra o protecionismo, a UE concordou em junho de 2019 em criar uma área de livre comércio de 700 milhões de pessoas com o bloco comercial sul-americano Mercosul, que é formado por Argentina, Brasil, Paraguai e Uruguai.
Mas a França e o Parlamento Europeu desde então tem liderado uma oposição a finalizar o tratado, dizendo que o Mercosul precisa fazer mais para cumprir seus compromissos climáticos sob o Acordo de Paris e que o Brasil está falhando no combate ao desmatamento na Amazônia.
O desmatamento na maior floresta tropical do mundo tem aumentado desde que o presidente Jair Bolsonaro, que defende abertura de mais áreas da Amazônia ao desenvolvimento, assumiu o cargo em 2019. A destruição na porção brasileira da Amazônia atingiu nível mais alto em 12 anos no ano passado.
O governo brasileiro não pôde ser contatado imediatamente para comentar as declarações do enviado da UE, mas rejeita as críticas de que não está fazendo o suficiente para conter o desmatamento na Amazônia, proteger o meio ambiente e prevenir as mudanças climáticas. Argumenta que a pressão da UE sobre o Brasil vem de interesses protecionistas.
Diplomatas da UE buscam superar a resistência na Europa negociando uma declaração complementar que reafirme o compromisso do Mercosul e dos países da UE com a sustentabilidade e as metas ambientais.
Portugal, que ocupa a presidência da UE, espera que uma parceria estratégica e seus laços históricos e culturais com o Brasil possam ajudar a influenciar o governo brasileiro a assumir os compromissos.
“O Brasil tem que explicar em concreto que está a ser feito”, disse o embaixador de Portugal no Brasil, Luís Faro Ramos.