Deflação de alimentos fez inflação ficar abaixo do piso, diz Ilan
Em carta aberta, Goldfajn diz que o Banco Central foi surpreendido pelo comportamento dos preços dos alimentos no domicílio
Agência Brasil
Publicado em 10 de janeiro de 2018 às 17h49.
Última atualização em 10 de janeiro de 2018 às 18h23.
A maior queda no preço dos alimentos em quase 30 anos foi a principal responsável pela inflação oficial pelo Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) ter fechado 2017 abaixo do piso da meta pela primeira vez na história, informou, há pouco, o presidente do Banco Central (BC), Ilan Goldfajn.
Nesta quarta-feira (10), o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) informou que o IPCA encerrou o ano passado em 2,95%, abaixo do piso de 3%. Para 2017, o Conselho Monetário Nacional (CMN) tinha fixado a meta de inflação em 4,5%, com tolerância de 1,5 ponto percentual, o que permitiria ao índice fechar num intervalo entre 3% e 6% sem acarretar o descumprimento da meta.
"Em 2017, a reversão da inflação nos preços dos alimentos no domicílio foi maior do que o previsto, tanto pelo Copom [Comitê de Política Monetária] quanto pelos analistas do mercado", destaca Goldfajn na carta. Esta foi a primeira vez que a inflação ficou abaixo do piso do sistema de metas desde a criação do sistema, em 1999.
Segundo o Banco Central, a inflação do subgrupo alimentação no domicílio fechou 2017 com deflação (recuo de preços) de 4,85%, a maior para esses itens desde o início da série histórica do IPCA, em 1989. Ao excluir os alimentos, o índice teria encerrado o ano passado em 4,54%, próximo do centro da meta.
Fatores externos
O presidente do Banco Central classificou de excepcional o comportamento dos preços dos alimentos em 2017. Segundo Goldfajn, a forte retração decorreu de fatores fora do controle da política monetária, como as safras recordes, que elevaram a oferta de alimentos no mercado interno. Para Goldfajn, a autoridade monetária não cortou mais os juros para compensar a queda nos preços dos alimentos porque não cabe a ela reagir a eventos externos.
"Não cabe inflacionar os preços da economia sobre os quais a política monetária tem mais controle para compensar choques nos preços dos alimentos. A política monetária deve combater o impacto dos choques nos outros preços da economia (os chamados efeitos secundários), de modo a buscar a convergência da inflação para a meta", destacou o documento.
Evolução
Para 2018, o BC informou que continuará a nivelar a taxa Selic (juros básicos da economia) para cumprir as metas de inflação estabelecidas pelo CMN. Para este ano, a meta para o IPCA também está em 4,5%, podendo oscilar entre 3% e 6%. Atualmente, a Selic está em 7% ao ano, no menor nível da história. Ele lembrou que, desde o fim do ano passado, o IPCA voltou a aumentar para convergir em direção ao centro da meta.
"A inflação já se encontra em trajetória em direção à meta em 2018. No acumulado em 12 meses, a inflação, ao final de 2017, aumentou 0,49 pontos percentuais em relação ao mínimo de 2,46% observado em agosto do mesmo ano", destacou Goldfajn na carta. Ele ressaltou que o Relatório de Inflação do BC, divulgado a cada três meses, estima que a inflação fechará 2018 e 2019 em 4,2%. O relatório foi divulgado pela última vez em dezembro. Pela legislação, toda vez que a inflação fecha um ano abaixo do piso ou estourando o teto da meta, o presidente do BC é obrigado a escrever uma carta aberta explicando os motivos que levaram ao descumprimento. A última vez em que uma carta do tipo foi divulgada tinha sido em 2015, quando o índice oficial fechou o ano em 10,67%, acima do teto de 6,5% estabelecido para aquele ano.