Economia

Custo Brasil é o maior aliado da China contra o país

Para explorar de forma positiva o crescente intercâmbio comercial com os chineses, os brasileiros precisam enfrentar suas deficiências estruturais

EXAME.com (EXAME.com)

EXAME.com (EXAME.com)

DR

Da Redação

Publicado em 9 de outubro de 2008 às 11h07.

As relações comerciais entre o Brasil e a China tendem a se aprofundar nos próximos anos e, se o país não quiser registrar crescentes déficits comerciais com este parceiro, precisará enfrentar o seu maior problema - o "custo Brasil" - expressão que engloba todas as deficiências estruturais que comprometem a competitividade das empresas nacionais. A avaliação é de Riordan Roett, brasilianista e diretor do departamento de Estudos do Hemisfério Ocidental da Universidade de Johns Hopkins. Leia, a seguir, os principais trechos da entrevista ao Portal EXAME:

Portal EXAME - Como as relações comerciais entre Brasil e China vão evoluir nos próximos anos?

Riordan Roett - Elas serão cada vez mais estratégicas e importantes para os dois países. A China já é uma potência global e à medida que o Brasil se afirmar como um verdadeiro BRICs, seu papel no comércio internacional também vai crescer.

Qual é o risco de um grande desaquecimento da economia chinesa afetar o preço das commodities brasileiras?

Roett - Não creio que a China vá sofrer uma desaceleração abrupta. Os chineses estão aprendendo a ter um "pouso suave." Ao invés de crescer de 10% a 12% ao ano, a China vai passar a crescer de 7% a 8%, o que é muito bom. Logo, as commodities brasileiras continuarão em alta no mercado global.

Depois de anos de superávit comercial, o Brasil agora tem um déficit comercial com os chineses. Essa tendência vai se consolidar?

Roett - Possivelmente. Esse é um problema histórico para todos os países latino-americanos, que não conseguem se afastar da produção de matérias-primas. Hoje só os "tigres asiáticos" vendem produtos industrializados para a China. A indústria paulista tem sido particularmente prejudicada pelas exportações de produtos chineses de alta-tecnologia. Para virar o jogo, os brasileiros terão que ser mais competitivos, o que será um grande desafio.

Além de baixar o "custo Brasil", o que mais deveríamos fazer para enfrentar os chineses?

Roett - Não tem saída. A resposta é o "custo Brasil". O Brasil precisa de um mercado de trabalho flexível, um regime tributário moderno, investimentos enormes em infra-estrutura e educação. Vai chegar a hora em que um governo brasileiro terá que lidar com essas questões. Vocês estão numa bela posição financeira e devem conseguir o "investment grade." Mas até agora nenhum governo brasileiro conseguiu convencer os políticos a fazer as reformas necessárias.

À medida que o comércio bilateral cresce, os atritos entre China e Brasil aumentam, a exemplo das relações entre China e os EUA. A história se repete?

Roett - Sim. O Brasil deve ser muito cuidadoso ao lidar com a China, que hoje claramente se vê como uma potência imperial. Estamos assistindo a um fenômeno histórico da China tomando o lugar dos Estados Unidos como o país mais importante do século XXI. Uma das conseqüências disso é que hoje a China é um parceiro cada vez mais assertivo, como não costumava ser no passado recente. Nós americanos estamos aprendendo a lidar com essa nova realidade - e países como o Brasil e a Índia também terão que aprender como fazê-lo para buscar termos mais favoráveis em suas relações.

O que o Brasil pode aprender com os EUA sobre os chineses?

Roett - Sinceramente, não temos muito a ensinar, pois nossas relações com a China são precárias. Existem muitas pressões no Congresso americano por sanções comerciais contra produtos chineses e o secretário do Tesouro, Henry Paulson, tem mantido um diálogo estratégico com Pequim que ainda não deu em nada. Portanto, hoje os brasileiros têm mais a aprender com a própria China, cujas empresas como a Bao Steel e a Lenovo estão se tornando grandes players globais.

Acompanhe tudo sobre:[]

Mais de Economia

MDIC quer ampliar Programa Reintegra a partir de 2025, diz Alckmin

Selic deve subir 0,25 ponto percentual e tamanho do ciclo depende dos EUA, diz economista da ARX

Lula sanciona projeto de desoneração da folha de pagamento de 17 setores da economia

Haddad vê descompasso nas expectativas sobre decisões dos Bancos Centrais globais em torno dos juros