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Crise na Argentina corta 0,5 ponto do crescimento do Brasil, diz estudo

Estudo de Luana Miranda e Mayara Santiago, da FGV, calcula efeito da crise econômica do vizinho sobre as exportações brasileiras

Vizinhos: a Argentina é o terceiro maior parceiro comercial do Brasil (LorenzoT81/Getty Images)

Victor Sena

Publicado em 14 de setembro de 2019 às 08h00.

Última atualização em 14 de setembro de 2019 às 10h16.

São Paulo — O baixo crescimento da economia brasileira em 2019pode ser explicado em parte pela crise na Argentina , de acordo com um estudo das economistas do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas (Ibre-FGV), Luana Miranda e Mayara Santiago.

O cálculo é baseado em um modelo que considera a evolução histórica da quantidade exportada do Brasil para a Argentina e da taxa de câmbio real bilateral entre os dois países, assim como um cenário elaborado pelo FMI para o crescimento da demanda interna argentina no resto deste ano.

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O efeito de perda do PIB brasileiro foi estimado em 0,2 ponto percentual em 2018, quando o país cresceu 1,1%, e de 0,5 ponto percentual sobre o crescimento de 2019, estimado em 0,85% pelo governo e em 1,1% pelo Ibre.

O principal impacto se dá pela redução do comércio, já que a Argentina é o terceiro principal destino das exportações brasileiras.De janeiro a agosto de 2019, foram exportados para o vizinho R$ 6,7 bilhões.

A título de comparação, a China comprou US$ 41,5 bilhões do Brasil no período e os Estados Unidos, no segundo lugar, US$ 19 bilhões, de acordo com o Ministério da Indústria, Comércio Exterior e Serviços.

Crise

A Argentina viu uma piora da sua crise econômica a partir de 2018 devido a fatores como uma forte seca e aumentos dos juros do Federal Reserve, banco central americano, já que grande parte da sua dívida é denominada em dólar.

As exportações brasileiras para o vizinho começaram a cair no segundo trimestre de 2018 e se deterioraram rapidamente.

No terceiro trimestre de 2018, elas caíram 25% sobre o mesmo período do ano passado. No trimestre seguinte, a queda foi ainda maior: 45%, também no interanual.

Em 2019, a situação da Argentina se agravou diante da piora de indicadores financeiros com a perspectiva de derrota do atual presidente Mauricio Macri nas eleições de outubro.

“Um país que enfrenta recessão, explosão da inflação, moeda desvalorizada, aumento do endividamento e desemprego tem uma situação muito difícil. Com isso, a demanda doméstica argentina caiu muito”, explica uma das autoras do estudo, Luana Miranda.

60% das nossas exportações para a Argentina são de bens intermediários, que são partes e peças que compõe a cadeia produtiva.

Além dos já conhecidos efeitos sobre a indústria automobilística, o Brasil também exporta para o vizinho produtos classificados como “insumos industriais elaborados”, que representam 31,5% das exportações.

A conclusão do estudo é que as exportações mais fracas daqui para lá teriam reduzido o crescimento de valor adicionado da indústria de transformação brasileira de 2,2% em 2018 para apenas 1,3%.

Em 2019, o setor deve crescer só 0,2% (projeção do próprio Ibre), muito abaixo do que o potencial anterior calculado em 2,1%.

Para a pesquisadora do Ibre, uma forma de compensar crises em parceiros é focar na melhora do ambiente interno.

"A gente precisa de reformas estruturais. Precisamos trabalhar para ter mais produtividade, para que as pessoas e o capital sejam mais produtivos", diz ela.

Apesar das críticas de Jair Bolsonaro à chapa favorita para governar a Argentina a partir de 2020, formada por Alberto Fernández e Cristina Kirchner, o Brasil não pode escapar de lidar com o parceiro.

Na semana passada, os países assinaram um acordo que prevê livre comércio para o setor automobilístico e que será implementado ao longo de 10 anos.

A abertura comercial é um dos eixos da política econômica do governo Bolsonaro. Além do entendimento com a Argentina sobre automóveis, o Brasil também firmou um acordo do Mercosul com a União Europeia, que ainda precisa ser aprovado, e tenta uma aproximação com os Estados Unidos.

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