Crise na Europa pode ter reflexos no Brasil, diz ex-ministro
Rio de Janeiro - A crise da Europa poderá ter reflexos sobre o crescimento da economia brasileira este ano, avaliou hoje (11) em entrevista à Agência Brasil o ex-ministro do Planejamento, João Paulo dos Reis Velloso. O problema será tema de debate no 22º Fórum Nacional, que o Instituto Nacional de Altos Estudos (Inae) promove […]
Da Redação
Publicado em 10 de outubro de 2010 às 03h42.
Rio de Janeiro - A crise da Europa poderá ter reflexos sobre o crescimento da economia brasileira este ano, avaliou hoje (11) em entrevista à Agência Brasil o ex-ministro do Planejamento, João Paulo dos Reis Velloso. O problema será tema de debate no 22º Fórum Nacional, que o Instituto Nacional de Altos Estudos (Inae) promove a partir do próximo dia 17, na sede do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES).
O ex-ministro disse que a proporção dos efeitos sobre o Brasil depende, porém, de como irá evoluir a crise no exterior. "Afetar, afeta. Se afeta mais ou se afeta menos, nós vamos saber. Isso vai depender de como se comportam os países europeus".
O que também pode influenciar os efeitos da crise crise sobre o Brasil é o funcionamento do novo fundo foi criado para proteger os países da Europa e que Velloso diz ser uma espécie de Fundo Monetário Internacional em pequena escala. O pacote para blindar os países da zona do euro alcançou quase US$ 1 trilhão. Ele aconselhou aguardar um pouco a evolução dos acontecimentos na Europa para minimizar os efeitos da crise sobre o Brasil.
"Isso é possível. Nós já fizemos no ano passado e podemos fazer de novo, porque até agora a crise não está pior do que foi até setembro/outubro de 2009". Na avaliação do ex-ministro, estamos assistindo à segunda etapa da crise internacional, que começou nos Estados Unidos e acabou se alastrando pelos países europeus. "Este é o segundo ato da tragédia. O resultado é que a tragédia grega atinge praticamente toda a Europa".
Velloso afirmou que o Brasil tem todos os elementos para minimizar os efeitos da crise, ao contrário dos países da Europa, que apresentam uma situação fiscal ruim. Para ele, enquanto os governos não atacarem as raízes da crise, "a coisa vai ficar feia". Na sua avaliação, a causa da crise está no sistema financeiro, que precisa ser mais bem regulado e autorregulado.
O ex-ministro alertou que algumas instituições financeiras, que não são consideradas bancos, estão fora do controle do Banco Central e precisam ser reguladas. "O mercado de capitais tem que ser muito bem regulado". Citou o caso dos derivativos (instrumentos financeiros cujo preço é derivado do preço de mercado de outro produto, como ações), "que as empresas não conhecem direito e que dão problemas, inclusive para as instituições que os emitirem, além de darem problemas para as empresas que os comprarem". Além disso, esses instrumentos criam um excesso de alavancagem dos bancos e demais instituições financeiras.
Para Velloso, todos os movimentos da economia têm que ser analisados em conjunto, enquanto o Brasil se defende dos efeitos da crise na Europa, procurando manter a renda dos setores afetados e o crédito fluindo normalmente. Velloso não vê razões para o Brasil entrar em recessão. O grande perigo para o país, apontou o ex-ministro, "é o governo achar que como a economia brasileira está razoavelmente bem, e até crescendo, que não tem que se preocupar muito".
Ele avaliou que esta etapa da crise tem que ser tratada com o mesmo rigor da primeira, cujo ápice ocorreu em 2009. O esforço de crescimento deve ser mantido, acompanhado inclusive de uma mudança do modelo de desenvolvimento. Esse modelo será tratado no Fórum Nacional e se baseia em uma sociedade ativa, moderna e solidária. "É ela que vai permitir que haja diálogo entre os três poderes, que haja melhores governos federal, estaduais e municipais, melhor sistema político". Disse que o sistema político deve ser corresponsável pelo crescimento e pelo equilíbrio fiscal, pela questão da vulnerabilidade externa, "que já está ficando perigosa", e por melhores oportunidades para as camadas mais pobres da população.