A crise financeira pode até estar melhorando, mas Martin Wolf, que trabalhou por dez anos no Banco Mundial, acredita que a crise econômica em que o mundo entrou chega ao "fundo do poço" somente em 2010, com possível crise fiscal na Zona do Euro.
O senhor acredita que pior dessa crise já passou?
- Definitivamente não é possível dizer se o pior já passou. O pior da crise financeira pode ter passado, mas o pior da crise econômica certamente não. Ninguém sabe quando essa crise terminará. Eu diria que a crise financeira ruma para o fim até o final deste ano, mas a crise da economia mundial chega ao fundo do poço só em 2010 - e ninguém sabe quando ela termina. É quase impossível prever os próximos problemas e de onde eles virão. Há algumas possibilidades. Uma delas seria uma grave crise fiscal nos países que integram a zona do euro. Outra possibilidade é o crescimento das preocupações com a inflação, particularmente nos Estados Unidos e no Reino Unido. Isso poderia levar a uma alta nas taxas de juro de longo prazo e a uma venda massiva de dólar.
O senhor acha que haverá novas crises?
- Acredito que outros países ainda apresentarão problemas em seus sistemas financeiros, particularmente os emergentes. Entre os próximos desdobramentos, minhas preocupações se concentram nas moratórias de países.
Quais países devem se recuperar mais rápido?
- Os Estados Unidos vão se recuperar mais rapidamente porque é lá onde estão sendo feitos os maiores investimentos para estimular a economia.
O senhor acha que essa crise provocará alterações no equilíbrio de forças global?
- Ela vai reforçar o papel central dos Estados Unidos na economia mundial, para o bem e para o mal. Ela, a crise, também levará a um maior reconhecimento do papel da China e de outros grandes países emergentes. Também promoverá um grande debate sobre o tipo de capitalismo que o mundo deseja e também sobre como regulá-lo melhor. Na minha opinião, aliás, esse debate deve render poucos frutos. Acredito que o principal impacto dessa crise será no comportamento dos agentes do mercado, que se tornarão muito mais cautelosos. A contradição fundamental entre a economia global e a governança nacional foi enfatizada por essa crise. E isso também não será solucionado.