Cresce reprovação de crédito pelas financeiras
Qualidade do tomador de crédito piorou por diversos fatores
Da Redação
Publicado em 7 de junho de 2011 às 13h14.
São Paulo – As últimas reuniões da comissão técnica da Associação Nacional das Instituições de Crédito, Financiamento e Investimento (Acrefi) trouxeram à tona a preocupação com a piora na qualidade do tomador de crédito.
São vários os motivos que explicam esse fenômeno recente ( veja quadro resumo ao final da matéria ), mas o resultado prático é um só. As financeiras redobraram a cautela e, por tabela, aumentaram a reprovação parcial ou total dos empréstimos.
Embora não haja pesquisas detalhadas, os executivos do setor calculam que, desde o início do aperto monetário (alta dos juros e medidas macroprudenciais) no final do ano passado, quatro em cada dez pedidos (40%) estão sendo negados, contra um índice de 20% a 30% registrado no período pós-crise, que foi beneficiado pela formalização do mercado de trabalho e pelo aumento na renda das famílias.
A primeira explicação para essa maior cautela das financeiras é a “invasão” de novos clientes que, impulsionados pelo bom momento da economia brasileira, tomaram coragem de contrair dívidas. “A análise de risco está sendo feita com mais preocupação de uma forma geral. No caso do novo entrante, a dificuldade é maior porque não há um histórico de operações de crédito”, explica Nicola Tingas, economista-chefe da Acrefi.
O diretor-financeiro da Finamax, Carlos Alberto Samogim, diz que os novos clientes estão levando carnês quitados para comprovar o bom histórico de pagamentos. “Os cuidados estão redobrados na hora de conceder o crédito. No nosso caso, não há aumento na reprovação integral do financiamento, mas a gente encurta o prazo e o volume total.”
A enorme expansão do crédito nos últimos anos – motivo de preocupação por parte do Banco Central, cuja prioridade no momento é combater a inflação – ainda não gerou problemas mais sérios de inadimplência, mas há casos preocupantes de superendividamento.
Esses clientes problemáticos estão recebendo cartão vermelho das financeiras, que não querem assumir o risco de emprestar dinheiro para quem está com a corda no pescoço – ainda que seja um cliente disposto a pagar juros estratosféricos. “Os manuais de finanças pessoais dizem que o limite de endividamento de uma família deveria ser de 30% da sua renda”, explica Tingas.
Samogim constata, em suas lojas espalhadas pelo interior do estado de São Paulo, a presença de uma parcela grande de proponentes (pessoas que estão buscando crédito) que já têm um comprometimento elevado da renda com diferentes financiamentos. “Na Finamax, não basta a prestação caber no bolso do cliente. É preciso verificar se a soma das várias parcelas que o proponente possui atinge 30% da renda da família.”
A terceira explicação para o crescimento no índice de reprovação parcial ou integral de crédito é a inflação elevada, que está corroendo a renda da população mais carente. “A alta no preços dos alimentos tem peso maior sobre os mais pobres, que encontram dificuldades em pagar os carnês. No entanto, o calote é o último recurso, pois, em geral, esse cliente é o melhor pagador do mercado, já que o principal bem que ele possui é o próprio nome”, diz o economista-chefe da Acrefi.
Há ainda um quarto fator que obriga as instituições financeiras a adotarem medidas rigorosas de controle do crédito. Trata-se das fraudes feitas por quadrilhas, que falsificam dados para obter financiamentos, informa a Acrefi.
Crédito sustentado
A Finamax, que tem sede em Jundiaí e atua em todo o interior paulista, registra crescimento no número de clientes que trabalham na construção civil. “Por causa do aquecimento do mercado imobiliário e seus respectivos impactos na renda do setor, esse trabalhador passou a frequentar a mesa de crédito”, diz o diretor da financeira. Por enquanto, salienta Samogim, esse cliente não tem gerado dor de cabeça na hora de pagar as contas.
A associação das financeiras ressalta que a chave do crescimento sustentado do crédito no Brasil é a educação financeira das famílias. “Precisamos começar a ensinar nas escolas para que as próximas gerações saibam consumir com responsabilidade”, defende Tingas.
Enquanto isso não acontece, o analista de crédito tem o papel de colocar um freio nas ambições dos clientes mais abusados. “A instituição financeira acaba praticando o crédito consciente de duas formas: não oferecendo uma quantidade muito grande de parcelas e não permitindo que o proponente leve o volume total de crédito que ele pleiteia”, diz o diretor da Finamax.
O grande perigo é quando as regras de avaliação de risco são ignoradas pelo analista que tem metas a cumprir, ou quando a financeira quer abocanhar uma fatia do mercado na base do "custe o que custar", principalmente em momentos de desaquecimento econômico, como o atual. Um cliente muito endividado que receba um novo crédito transforma-se em um potencial problema de caixa amanhã. A recomendação no mercado é dar um cartão vermelho antes mesmo de a bola rolar para não desfalcar o time durante o jogo.
V eja um resumo dos motivos que levam as financeiras a reprovarem crédito
Motivos | Detalhamento | Ação da financeira |
---|---|---|
Novos clientes | Pessoas que nunca buscaram crédito não têm histórico de pagamentos | Aprovar valor menor |
Superendividamento | Famílias que já possuem muitos financiamentos estão enforcadas | Reprovar crédito |
Inflação elevada | Alta nos preços principalmente dos alimentos está corroendo a renda dos mais pobres | Analisar capacidade de pagamento |
Fraudes | Quadrilhas falsificam documentos para obter crédito em nome de outra pessoa | Adotar mecanismos antifraude |
São Paulo – As últimas reuniões da comissão técnica da Associação Nacional das Instituições de Crédito, Financiamento e Investimento (Acrefi) trouxeram à tona a preocupação com a piora na qualidade do tomador de crédito.
São vários os motivos que explicam esse fenômeno recente ( veja quadro resumo ao final da matéria ), mas o resultado prático é um só. As financeiras redobraram a cautela e, por tabela, aumentaram a reprovação parcial ou total dos empréstimos.
Embora não haja pesquisas detalhadas, os executivos do setor calculam que, desde o início do aperto monetário (alta dos juros e medidas macroprudenciais) no final do ano passado, quatro em cada dez pedidos (40%) estão sendo negados, contra um índice de 20% a 30% registrado no período pós-crise, que foi beneficiado pela formalização do mercado de trabalho e pelo aumento na renda das famílias.
A primeira explicação para essa maior cautela das financeiras é a “invasão” de novos clientes que, impulsionados pelo bom momento da economia brasileira, tomaram coragem de contrair dívidas. “A análise de risco está sendo feita com mais preocupação de uma forma geral. No caso do novo entrante, a dificuldade é maior porque não há um histórico de operações de crédito”, explica Nicola Tingas, economista-chefe da Acrefi.
O diretor-financeiro da Finamax, Carlos Alberto Samogim, diz que os novos clientes estão levando carnês quitados para comprovar o bom histórico de pagamentos. “Os cuidados estão redobrados na hora de conceder o crédito. No nosso caso, não há aumento na reprovação integral do financiamento, mas a gente encurta o prazo e o volume total.”
A enorme expansão do crédito nos últimos anos – motivo de preocupação por parte do Banco Central, cuja prioridade no momento é combater a inflação – ainda não gerou problemas mais sérios de inadimplência, mas há casos preocupantes de superendividamento.
Esses clientes problemáticos estão recebendo cartão vermelho das financeiras, que não querem assumir o risco de emprestar dinheiro para quem está com a corda no pescoço – ainda que seja um cliente disposto a pagar juros estratosféricos. “Os manuais de finanças pessoais dizem que o limite de endividamento de uma família deveria ser de 30% da sua renda”, explica Tingas.
Samogim constata, em suas lojas espalhadas pelo interior do estado de São Paulo, a presença de uma parcela grande de proponentes (pessoas que estão buscando crédito) que já têm um comprometimento elevado da renda com diferentes financiamentos. “Na Finamax, não basta a prestação caber no bolso do cliente. É preciso verificar se a soma das várias parcelas que o proponente possui atinge 30% da renda da família.”
A terceira explicação para o crescimento no índice de reprovação parcial ou integral de crédito é a inflação elevada, que está corroendo a renda da população mais carente. “A alta no preços dos alimentos tem peso maior sobre os mais pobres, que encontram dificuldades em pagar os carnês. No entanto, o calote é o último recurso, pois, em geral, esse cliente é o melhor pagador do mercado, já que o principal bem que ele possui é o próprio nome”, diz o economista-chefe da Acrefi.
Há ainda um quarto fator que obriga as instituições financeiras a adotarem medidas rigorosas de controle do crédito. Trata-se das fraudes feitas por quadrilhas, que falsificam dados para obter financiamentos, informa a Acrefi.
Crédito sustentado
A Finamax, que tem sede em Jundiaí e atua em todo o interior paulista, registra crescimento no número de clientes que trabalham na construção civil. “Por causa do aquecimento do mercado imobiliário e seus respectivos impactos na renda do setor, esse trabalhador passou a frequentar a mesa de crédito”, diz o diretor da financeira. Por enquanto, salienta Samogim, esse cliente não tem gerado dor de cabeça na hora de pagar as contas.
A associação das financeiras ressalta que a chave do crescimento sustentado do crédito no Brasil é a educação financeira das famílias. “Precisamos começar a ensinar nas escolas para que as próximas gerações saibam consumir com responsabilidade”, defende Tingas.
Enquanto isso não acontece, o analista de crédito tem o papel de colocar um freio nas ambições dos clientes mais abusados. “A instituição financeira acaba praticando o crédito consciente de duas formas: não oferecendo uma quantidade muito grande de parcelas e não permitindo que o proponente leve o volume total de crédito que ele pleiteia”, diz o diretor da Finamax.
O grande perigo é quando as regras de avaliação de risco são ignoradas pelo analista que tem metas a cumprir, ou quando a financeira quer abocanhar uma fatia do mercado na base do "custe o que custar", principalmente em momentos de desaquecimento econômico, como o atual. Um cliente muito endividado que receba um novo crédito transforma-se em um potencial problema de caixa amanhã. A recomendação no mercado é dar um cartão vermelho antes mesmo de a bola rolar para não desfalcar o time durante o jogo.
V eja um resumo dos motivos que levam as financeiras a reprovarem crédito
Motivos | Detalhamento | Ação da financeira |
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Novos clientes | Pessoas que nunca buscaram crédito não têm histórico de pagamentos | Aprovar valor menor |
Superendividamento | Famílias que já possuem muitos financiamentos estão enforcadas | Reprovar crédito |
Inflação elevada | Alta nos preços principalmente dos alimentos está corroendo a renda dos mais pobres | Analisar capacidade de pagamento |
Fraudes | Quadrilhas falsificam documentos para obter crédito em nome de outra pessoa | Adotar mecanismos antifraude |