Economia

Coronavírus ainda não afetou economia brasileira, diz ministério

Segundo secretário da pasta, equipe econômica mantém a previsão de crescimento do PIB em 2,4% para 2020

Brasil: Ministério da Economia diz que atividade do país ainda não sofreu alterações por influência do coronavírus (Cris Faga/Getty Images)

Brasil: Ministério da Economia diz que atividade do país ainda não sofreu alterações por influência do coronavírus (Cris Faga/Getty Images)

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Reuters

Publicado em 17 de fevereiro de 2020 às 19h13.

Última atualização em 18 de fevereiro de 2020 às 10h24.

O secretário de Política Econômica do Ministério da Economia, Adolfo Sachsida, afirmou nesta segunda-feira que o governo não tem razão hoje para alterar a projeção de crescimento da economia de 2,4% este ano, uma vez que o coronavírus ainda não impactou a atividade.

"Hoje temos 2,4% de PIB para 2020 e até o momento eu não vejo motivo para alterar isso", afirmou à Reuters.

Sachsida avaliou que, pelo lado da oferta, o time econômico ainda não viu evidências de falta de peças que vêm da China para empresas brasileiras.

Pelo canal da demanda, a Secretaria de Política Econômica (SPE) está analisando o comportamento dos preços de commodities. Por ora, a avaliação é que o recuo observado foi "de uma semana para cá", e que ainda é cedo para cravar que ele será determinante para dinâmica dos contratos que ainda vão ser fechados.

"Se queda no preço de commodities for muito grande e prolongada, vai ter efeito realmente na economia brasileira", disse.

O mercado, por sua vez, voltou a diminuir sua previsão para a alta do PIB neste ano a 2,23%, de 2,30% na semana anterior, conforme boletim Focus divulgado nesta segunda-feira.

Sachsida afirmou que o coronavírus é que tem guiado essas revisões por parte dos economistas, mas frisou que, para a SPE, mais subsídios são necessários antes de uma alteração nos cálculos.

"Acho eu que não é o momento ainda. As estimativas da SPE nós rodamos de novo na semana passada, só para ter certeza, e continuam em 2,4% do PIB", afirmou.

Questionado sobre a lenta recuperação econômica, após dados de dezembro terem indicado uma perda de força da retomada, Sachsida disse que o crescimento está demorando "um pouquinho mais" na esteira de uma mudança mais profunda na composição dos investimentos, com o Estado deixando de direcionar recursos públicos para setores e projetos por ele escolhidos.

"Quando você olha o PIB como um todo, dá impressão que está devagar, mas está havendo uma mudança estrutural", disse ele, defendendo que, mesmo com a taxa de investimento igual em percentual, em composição o investimento está indo agora para onde é mais eficiente.

"O que acontece é que isso demora. Por exemplo, você tem um setor que é ineficiente. Você vai tirar recurso daquele setor e passar para onde é eficiente. Aquele setor ali ele perdeu um pouquinho no curto prazo. No longo prazo, as coisas vão caminhar corretamente. Mas esse período de transição, de ajuste, o investimento indo para onde ele é mais eficiente, ele é um período mais lento", completou.

Para Sachsida, quanto mais rápido o país aprovar as reformas que resultem em consolidação fiscal e combate à má alocação de recursos, mais veloz será também a aceleração do PIB.

"A realidade brasileira hoje é um PIB de 1,5% se não houver reformas", estimou, afirmando que a previsão da SPE para este ano é mais alta por conta da capacidade ociosa da economia.

Menos espaço para preencher

Segundo o secretário, o Brasil ainda tem uma "razoável capacidade ociosa".

Mas ele ponderou que, por conta de uma série de investimentos feitos no passado em projetos não produtivos e que só se sustentavam "à custa de muita ajuda do setor público", muitos acabam sobrestimando o hiato do produto realmente existente.

O hiato é diferença entre o PIB efetivo e o PIB potencial de um país.

"Uma parte expressiva do investimento no passado foi colocada em setores ineficientes. Agora que acabou, que o dinheiro do Estado está diminuindo, esses investimentos não dão retorno. Então eu entendo e tendo a concordar que o hiato existe, ele é grande, mas ele não é tão grande quanto uma primeira estimativa poderia levar as pessoas a pensar", disse.

"Então existe espaço para crescimento usando a capacidade ociosa da economia. Agora, se a nossa economia voltar a crescer 3% ao ano, em dois, três anos esse espaço acaba", acrescentou.

Na semana passada, o Banco Central indicou divergência entre os membros do Comitê de Política Monetária (Copom) sobre o nível de ociosidade na economia, com alguns de seus membros avaliando que o esgotamento do "modelo de alocação centralizada de capital e a longa duração da recessão" pode ter produzido restrições de oferta, sugerindo menos espaço de ociosidade na economia que o mensurado por métodos tradicionais.

Outros membros, entretanto, argumentaram que a ociosidade dos fatores de produção ainda é alta quando considerado o comportamento benigno dos núcleos de inflação, que desconsideram os preços mais voláteis.

A economia operando abaixo da sua capacidade produz pressões desinflacionárias o que, em tese, abre espaço para juros básicos mais baixos.

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