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Copom elevou os juros por motivos políticos, afirmam economistas

Para os professores André Franco Montoro Filho, da USP, e Luiz Gonzaga Belluzzo, da Unicamp, Banco Central quis mostrar ao governo que controla a política monetária

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Da Redação

Publicado em 9 de outubro de 2008 às 10h33.

Uma disputa entre os membros do governo para decidir quem controla a política monetária custará ao Tesouro Nacional 2,2 bilhões de reais e poderá comprometer as decisões de investimentos das empresas no país. Esses são os efeitos do aumento de 0,5 ponto percentual da taxa básica de juros (Selic), determinada ontem pelo Comitê de Política Monetária (Copom). "O Banco Central aumentou os juros para mostrar que são eles que mandam na política monetária. Foi uma decisão política e caprichosa", afirma o economista Luiz Gonzaga Belluzzo, professor da Universidade de Campinas (Unicamp).

Para Belluzzo, a principal intenção do BC foi reafirmar sua independência em relação aos outros órgãos do governo. O economista afirma que não há motivos técnicos que justifiquem um aumento dos juros desta magnitude. "Só os economistas que representam o setor financeiro são favoráveis aos juros altos", diz. Os fatores que mais pressionam a inflação brasileira, segundo Belluzzo, são os preços administrados e o cenário internacional, para os quais a elevação da Selic tem poucos efeitos práticos.

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O economista André Franco Montoro Filho, da Universidade de São Paulo (USP), concorda. "Foi uma decisão equivocada, porque o que importa é a taxa de juros na ponta do tomador final, e essa taxa já está elevada", diz. Montoro Filho observa que, para o consumidor final, os juros do crediário já estão acima de 100% ao ano. Para as empresas, as taxas oscilam em torno de 70%. "Claramente, foi uma decisão política", diz. Segundo o economista, não havia necessidade de outro reajuste da Selic. "Nem mesmo de 0,25 ponto", afirma.

Num momento em que o governo se esforça para produzir um superávit primário maior que o acordado com o FMI (veja reportagem de EXAME a respeito), a fim de reduzir o peso da dívida pública sobre o Produto Interno Bruto (PIB), o aumento de 0,5 ponto percentual da Selic representará um novo ônus para os cofres públicos, conforme Montoro Filho. Segundoo relatório do Banco Centraldivulgado ontem (20/10), a dívida interna federal chegou, em setembro, a 771,3 bilhões de reais. Os títulos públicos remunerados pela Selic compõem a maior parte dessa quantia 58,28%, equivalentes a 449,55 bilhões de reais. Isso significa que o 0,50 ponto percentual de alta da Selic aumentará esse valor em 2,2 bilhões por ano.

"Há uma nítida contradição entre a política fiscal e a política monetária", afirma Belluzzo, referindo-se à necessidade de produzir superávits primários e à estratégia de elevar os juros para combater a inflação, o que acaba elevando a dívida pública. "Se já temos um bom superávit primário, não há porque continuar subindo os juros", diz.

Outro problema é que o aumento da dívida atrelada à Selic elevará a desconfiança dos investidores privados em relação à capacidade de pagamento do governo brasileiro. Com isso, em vez de atrair novos recursos para o país, a taxa básica de juros de 16,5% ao ano poderá ter efeito contrário e afugentar os novos capitais. "Isso pode criar um círculo vicioso", afirma Belluzzo.

Montoro Filho e Belluzzo participaram, nesta quinta-feira (21/10), de conferência sobre a conjuntura econômica, promovida pelo conselho, a ordem e o sindicato dos economistas de São Paulo.

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