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Contra salvaguarda, restaurantes boicotam vinhos brasileiros

Sudbrack, D.O.M., Aprazível e Piselli vetam rótulos de vinícolas envolvidas com pedido de proteção ao vinho nacional

Sommelières questionam as razões que levaram as associações a pedir proteção ao governo por meio da imposição de uma reserva de mercado (Creative Commons)
DR

Da Redação

Publicado em 29 de março de 2012 às 21h24.

São Paulo - Em 16 de março, o empresário Pedro Hermeto, proprietário do badalado restaurante Aprazível, no Rio de Janeiro, visitava a vinícola Don Giovanni, em Bento Gonçalves (RS), para fazer uma encomenda de duas caixas de espumante da marca. A ideia era, tão logo recebesse o produto, inseri-lo em sua carta de bebidas. Contudo, ao ser informado de que um grupo de produtores gaúchos havia protocolado no Ministério do Desenvolvimento (MDIC) um pedido de revisão das regras de importação de vinhos no Brasil, Hermeto cancelou imediatamente o pedido.

O dono da vinícola, Ayrton Giovannini, integra o grupo de empresários do setor que solicitou ao governo a criação de uma salvaguarda para proteger o vinho nacional da concorrência estrangeira. Hermeto foi além e tirou de sua carta de vinhos – conhecida por guardar extensa lista de nomes brasileiros – todos os rótulos de vinícolas envolvidas com o pedido protecionista. “A retirada da carta é uma medida infelizmente necessária como forma de manifestar pressão e se fazer ouvir. Esse pedido de salvaguarda é indefensável”, afirma Hermeto.

Assim como o Aprazível, outros restaurantes nacionais seguiram o mesmo caminho e penalizaram as vinícolas autoras do projeto. São elas: Miolo, Salton, Dal Pizzol, Casa Valduga, Aurora, Aliança, Lovara e Don Giovanni, entre outras, por meio de órgãos de classe e sindicatos. No início desta semana, a menos uma voltou atrás. A Salton emitiu um comunicado dizendo que não compactuava com a posição do Instituto Brasileiro do Vinho (Ibravin), um dos órgãos que negocia as medidas protecionistas com o MDIC.

Cotas – A intenção dos produtores gaúchos é fazer com que o Planalto estabeleça cotas mínimas de importação por país, com exceção da Argentina e do Uruguai, que são beneficiados pelo tratado de livre comércio do Mercosul. “Ainda se fosse apenas um aumento de imposto, já seria um absurdo, mas ainda daria para manter a oferta. No entanto, quando se estabelece uma cota por país, quando ela acaba, o mercado fica sem abastecimento. Contra isso, não há remédio”, pondera o sommelier Arthur Piccolomini de Azevedo. “O maior beneficiado será, certamente, o vinho argentino”, diz.


Nesta quarta-feira, a sommelière do restaurante paulistano D.O.M., Gabriela Monteleone, afirmou ao site da revista especializada Menu que havia retirado os rótulos nacionais da carta de vinhos do restaurante. A assessoria de imprensa do D.O.M. não corrobora a informação, mas a reportagem do site de VEJA obteve a confirmação ao ligar para o próprio restaurante.

O restaurante Sudbrack, da chef carioca Roberta Sudbrack, retaliou as vinícolas Dal Pizzol e Casa Valduga. Em entrevista ao site de VEJA, a chef critica o pedido de salvaguarda. Na visão dela, a medida não é prejudicial apenas para a vinicultura brasileira, mas também para toda a gastronomia. “O intuito do meu gesto foi o de chamar atenção de chefs e restaurantes sobre a importância de cada um se posicionar. Isso pode enriquecer a discussão e proporcionar resultados práticos, como foi o caso da Salton, que reviu sua posição e merece o nosso aplauso”, afirmou a chef.

Sem querer generalizar, Roberta chama a atenção para os pequenos produtores que sequer foram consultados sobre o pedido de salvaguarda. “Existem vinícolas que estão fazendo – e sempre fizeram – um trabalho muito sério e bem feito, que efetivamente contribuiu para a evolução da vinicultura nacional. Essas vinícolas, de maneira alguma, podem ser prejudicadas. Essa generalização é perigosa”, disse.

No restaurante Piselli, em São Paulo, os vinhos da vinícola Miolo também foram banidos da carta. “Mantivemos apenas o espumante Chandon, um tinto e um branco da Salton”, afirma o sommelier Sérgio dos Santos. Já o chef francês Claude Troigros, que possui dois estabelecimentos no Rio de Janeiro, afirmou, por meio de sua assessoria de imprensa, que aguarda a decisão sobre o pedido de salvaguarda para definir se retirará ou não de sua carta os vinhos nacionais das empresas envolvidas. O mesmo posicionamento foi anunciado nesta quarta-feira pelo Grupo Fasano, das casas Fasano, Gero, Parigi, entre outras: haverá boicote se as vinícolas levarem até o fim e conseguirem aprovar o pedido de salvaguarda.

No Vecchio Torino, em São Paulo, onde não há vinho brasileiro na carta, o sentimento é de consternação por parte do proprietário, o italiano Giuseppe La Rosa. “O problema não são os outros. É o vinho brasileiro. E não é porque é brasileiro, e sim porque é caro. E é caro porque o imposto é muito alto. Esse é o grande problema”, diz La Rosa.

Também na última semana, os produtores brasileiros Adolfo Lona, Angheben, Cave Geisse e Vallontano divulgaram comunicado conjunto em que repudiam o pedido de salvaguarda. No texto, eles questionam as razões que levaram as associações a pedir proteção ao governo por meio da imposição de uma reserva de mercado. “Por que não concentram seus esforços para baixar os tributos do vinho brasileiro em vez de aumentar a taxa do importado? Por que não pedem o fim das instruções normativas que limitam e dificultam as atividades de pequenas vinícolas?”, diz o comunicado.

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São Paulo - Em 16 de março, o empresário Pedro Hermeto, proprietário do badalado restaurante Aprazível, no Rio de Janeiro, visitava a vinícola Don Giovanni, em Bento Gonçalves (RS), para fazer uma encomenda de duas caixas de espumante da marca. A ideia era, tão logo recebesse o produto, inseri-lo em sua carta de bebidas. Contudo, ao ser informado de que um grupo de produtores gaúchos havia protocolado no Ministério do Desenvolvimento (MDIC) um pedido de revisão das regras de importação de vinhos no Brasil, Hermeto cancelou imediatamente o pedido.

O dono da vinícola, Ayrton Giovannini, integra o grupo de empresários do setor que solicitou ao governo a criação de uma salvaguarda para proteger o vinho nacional da concorrência estrangeira. Hermeto foi além e tirou de sua carta de vinhos – conhecida por guardar extensa lista de nomes brasileiros – todos os rótulos de vinícolas envolvidas com o pedido protecionista. “A retirada da carta é uma medida infelizmente necessária como forma de manifestar pressão e se fazer ouvir. Esse pedido de salvaguarda é indefensável”, afirma Hermeto.

Assim como o Aprazível, outros restaurantes nacionais seguiram o mesmo caminho e penalizaram as vinícolas autoras do projeto. São elas: Miolo, Salton, Dal Pizzol, Casa Valduga, Aurora, Aliança, Lovara e Don Giovanni, entre outras, por meio de órgãos de classe e sindicatos. No início desta semana, a menos uma voltou atrás. A Salton emitiu um comunicado dizendo que não compactuava com a posição do Instituto Brasileiro do Vinho (Ibravin), um dos órgãos que negocia as medidas protecionistas com o MDIC.

Cotas – A intenção dos produtores gaúchos é fazer com que o Planalto estabeleça cotas mínimas de importação por país, com exceção da Argentina e do Uruguai, que são beneficiados pelo tratado de livre comércio do Mercosul. “Ainda se fosse apenas um aumento de imposto, já seria um absurdo, mas ainda daria para manter a oferta. No entanto, quando se estabelece uma cota por país, quando ela acaba, o mercado fica sem abastecimento. Contra isso, não há remédio”, pondera o sommelier Arthur Piccolomini de Azevedo. “O maior beneficiado será, certamente, o vinho argentino”, diz.


Nesta quarta-feira, a sommelière do restaurante paulistano D.O.M., Gabriela Monteleone, afirmou ao site da revista especializada Menu que havia retirado os rótulos nacionais da carta de vinhos do restaurante. A assessoria de imprensa do D.O.M. não corrobora a informação, mas a reportagem do site de VEJA obteve a confirmação ao ligar para o próprio restaurante.

O restaurante Sudbrack, da chef carioca Roberta Sudbrack, retaliou as vinícolas Dal Pizzol e Casa Valduga. Em entrevista ao site de VEJA, a chef critica o pedido de salvaguarda. Na visão dela, a medida não é prejudicial apenas para a vinicultura brasileira, mas também para toda a gastronomia. “O intuito do meu gesto foi o de chamar atenção de chefs e restaurantes sobre a importância de cada um se posicionar. Isso pode enriquecer a discussão e proporcionar resultados práticos, como foi o caso da Salton, que reviu sua posição e merece o nosso aplauso”, afirmou a chef.

Sem querer generalizar, Roberta chama a atenção para os pequenos produtores que sequer foram consultados sobre o pedido de salvaguarda. “Existem vinícolas que estão fazendo – e sempre fizeram – um trabalho muito sério e bem feito, que efetivamente contribuiu para a evolução da vinicultura nacional. Essas vinícolas, de maneira alguma, podem ser prejudicadas. Essa generalização é perigosa”, disse.

No restaurante Piselli, em São Paulo, os vinhos da vinícola Miolo também foram banidos da carta. “Mantivemos apenas o espumante Chandon, um tinto e um branco da Salton”, afirma o sommelier Sérgio dos Santos. Já o chef francês Claude Troigros, que possui dois estabelecimentos no Rio de Janeiro, afirmou, por meio de sua assessoria de imprensa, que aguarda a decisão sobre o pedido de salvaguarda para definir se retirará ou não de sua carta os vinhos nacionais das empresas envolvidas. O mesmo posicionamento foi anunciado nesta quarta-feira pelo Grupo Fasano, das casas Fasano, Gero, Parigi, entre outras: haverá boicote se as vinícolas levarem até o fim e conseguirem aprovar o pedido de salvaguarda.

No Vecchio Torino, em São Paulo, onde não há vinho brasileiro na carta, o sentimento é de consternação por parte do proprietário, o italiano Giuseppe La Rosa. “O problema não são os outros. É o vinho brasileiro. E não é porque é brasileiro, e sim porque é caro. E é caro porque o imposto é muito alto. Esse é o grande problema”, diz La Rosa.

Também na última semana, os produtores brasileiros Adolfo Lona, Angheben, Cave Geisse e Vallontano divulgaram comunicado conjunto em que repudiam o pedido de salvaguarda. No texto, eles questionam as razões que levaram as associações a pedir proteção ao governo por meio da imposição de uma reserva de mercado. “Por que não concentram seus esforços para baixar os tributos do vinho brasileiro em vez de aumentar a taxa do importado? Por que não pedem o fim das instruções normativas que limitam e dificultam as atividades de pequenas vinícolas?”, diz o comunicado.

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