Economia

Compra de dólares pelo BC não estabelece novo patamar do câmbio

Para Octávio de Barros, economista-chefe do Bradesco, a operação realizada nesta segunda-feira (6/12) não significa que o Banco Central estabeleceu um piso para o dólar, mas parte do mercado discorda

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Da Redação

Publicado em 9 de outubro de 2008 às 10h48.

A compra de 1 milhão de dólares pelo Banco Central (BC), nesta segunda-feira (6/12), não foi uma intervenção da autoridade monetária no mercado de câmbio. A operação também não estabeleceu um piso informal para a moeda americana, que vem registrando sucessivas quedas em relação ao real. A avaliação é do economista-chefe do Bradesco, Octávio de Barros."Por mais tentadora que seja a idéia de que houve o estabelecimento de um piso, isso não aconteceu", afirma.

Conforme o economista, o BC sempre deixou clara a sua intenção de comprar dólares para recompor as reservas internacionais, pelas suas implicações favoráveis à economia, como a melhoria do rating brasileiro nas agências internacionais de classificação de risco. Na penúltima semana de novembro, por exemplo, o Tesouro Nacional anunciou que comprará 3 bilhões de dólares no mercado de câmbio. Os recursos serão usados no pagamento de vencimentos externos, no valor de 646 milhões de dólares, em dezembro, e de 2,3 bilhões em junho de 2005. Segundo o Tesouro, 19% dos 3 bilhões de dólares já haviam sido contratados.

Barros lembra que o BC colocou três condições para captar dólares no mercado. A primeira era que não houvesse volatilidade da taxa; a segunda, de que houvesse liquidez no mercado; e a terceira, de que as operações não sinalizassem um piso para a moeda americana. Segundo Barros, o BC entendeu que as três condições estavam presentes na operação de hoje.

"Primeira impressão"

A avaliação, contudo, não é compartilhada por todo o mercado. Para o economista-chefe do ABN Amro Real, Mário Mesquita, "embora as autoridades tentem, será muito difícil evitar a primeira impressão de que há um piso informal de aproximadamente 2,70 reais por dólar". Mesquita lembra que a tarefa do BC de debelar essa interpretação é dificultada, também, pelas recentes declarações de membros do governo sobre o câmbio.

No início de dezembro, o ministro do Desenvolvimento, Indústria e Comércio, Luiz Fernando Furlan, por exemplo, manifestou sua preocupação sobre o impacto do câmbio nas exportações. Na ocasião, Furlan afirmou que o dólar estava num patamar "preocupante" para os exportadores e que sua cotação deveria ser mais "estimulante". O próprio presidente Luiz Inácio Lula da Silva, no final de novembro, havia declarado que uma cotação entre 2,90 reais e 3,10 reais por dólar seria "melhor" para as exportações.

Nesta segunda-feira, Furlan afirmou, em São Paulo, que "agora era um bom momento para comprar dólares", haja visto o valor negociado no fechamento do câmbio na sexta-feira (o mais baixo desde junho de 2002). A sensação de que as autoridades monetárias realizaram uma intervenção "branca" no câmbio, hoje, é reforçada pela conduta do BC durante a compra de dólares. A abertura da operação ocorreu quando o câmbio variava entre 2,69 reais e 2,70 reais, mas o BC chegou a comprar dólares por 2,715 reais, estimulando uma alta do mercado.

Para Barros, do Bradesco, mesmo essa atitude do BC não deve ser interpretada como uma intervenção. "No regime de câmbio flutuante, não seria bom sinalizar nenhum piso", diz. Já Mesquita, do ABN Amro, afirma que, "tecnicamente, não faz sentido fixar alvos para a taxa de câmbio e para a inflação ao mesmo tempo".

"Nem piso, nem teto"

O presidente do BC, Henrique Meirelles, negou que a instituição interveio no mercado de câmbio nesta manhã. "O Banco Central não tem metas de câmbio, nem piso, nem teto", afirmou à Agência Brasil.

Meirelles disse, ainda, que o BC tem autonomia assegurada pelo Ministério da Fazenda e pela Presidência da República para adotar as medidas necessárias para garantir o regime de câmbio flutuante e metas de inflação. Ele lembrou que as exportações caminham para encerrar o ano em 100 bilhões de dólares, e a conta corrente do país fechará superavitária.

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