Economia

Cresce risco de inflação em 2025 superar a de 2024, por causa de serviços caros e incerteza fiscal

Dólar mais alto e dúvidas sobre juros também complicam o cenário, de acordo com analistas

Estadão Conteúdo
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Agência de notícias

Publicado em 21 de abril de 2024 às 09h54.

Última atualização em 21 de abril de 2024 às 12h49.

A inflação pode não só diminuir menos do que se esperava como também voltar a acelerar na passagem de 2024 para 2025 - este último, o ano de maior peso nas decisões de política monetária. Embora ainda longe de ser predominante, esse risco tem crescido nos cenários de economistas do mercado, devido a uma combinação de fatores: rigidez da inflação de serviços, dólar mais alto por incerteza com os juros dos Estados Unidos e chance de pressão em alimentos.

Analistas ouvidos pelo Broadcast mencionam os serviços como primeiro ponto de preocupação. Na avaliação deles, tudo indica que a inflação deste grupo deve se estabilizar em nível alto, acima de 4% no acumulado de 12 meses, um ponto porcentual acima do centro da meta. Isso embute a necessidade de que os outros componentes ficassem abaixo de 3% para que a inflação pudesse convergir ao alvo.

Mas atingir essas taxas modestas é uma perspectiva improvável. De um lado, pesa contra esse cenário a expectativa de aumento da inflação de alimentos no ano que vem, em decorrência de um dólar mais caro e da mudança do ciclo da pecuária, que vem garantindo preços mais baixos de carne. Do outro, economistas esperam aumento dos preços administrados, sobretudo com eventuais impactos do fenômeno La Niña na energia elétrica.

O economista-chefe do PicPay, Marco Caruso, já tem no cenário-base uma aceleração da inflação entre 2024 e 2025, de 3 6% para 4,2% - pouco abaixo do teto da meta, de 4,5%. Para ele, o crescimento expressivo esperado para o PIB nos dois anos - de 2,1% e 2%, respectivamente - sugere pouco espaço para alívio nos serviços, devido à percepção de que o emprego e os reajustes salariais podem continuar em ritmo forte.

Dois outros fatores complementam esse quadro: a percepção de que o governo terá déficits primários recorrentes (isto é, desconsiderando fatores atípicos) em torno de 1% do PIB, o que deve impulsionar o consumo e a própria trajetória de queda da taxa Selic. "Hoje, ainda sofremos parte da alta dos juros. Quanto mais andarmos no tempo, mais o efeito do juro mais baixo vai pegar na economia, o que sugere diminuir a pressão baixista nos itens mais sensíveis a juros", afirma.

Na mesma linha, o economista da LCA Consultores Fábio Romão diz que a robustez do mercado de trabalho não sinaliza espaço para um alívio da inflação dos serviços que ajude na convergência. Ele espera que o IPCA fique em 3,7% este ano e acelere a 3,8% no próximo, considerando uma taxa virtualmente igual, de 4,3%, para o grupo.

"É natural, olhando para qualquer índice de preços no mundo, os serviços ficarem um pouco acima do 'headline' de inflação, porque eles têm uma característica não-comercializável. Mas 4,3% contra um 'headline' de 3% começa a ter um diferencial já relevante", explica o analista.

Outras pressões

Sem a possibilidade de alívio da inflação de serviços, outros fatores podem empurrar a inflação para cima. Romão tem no cenário-base uma aceleração da inflação de alimentos, de 3,8% para 4,5%, considerando inclusive o impacto mais fraco do que o esperado do El Niño nos preços do grupo este ano.

Caruso, do PicPay, dá destaque à expectativa de aceleração dos preços de alimentos, conduzida basicamente pela desvalorização do real em relação ao dólar e pela virada do ciclo da pecuária, que deve resultar em preços mais salgados no ano que vem. "O ciclo da pecuária tem ajudado muito o preço de carnes a estar baixo. Tem-se abatido muita fêmea, o que aumenta a oferta e diminui os preços das proteínas, e esse ciclo começa a virar este ano", explica.

Outro foco de pressão nos cenários fica na energia elétrica, que deve ser beneficiada este ano pela medida provisória (MP) editada pelo governo para reduzir os preços das contas de luz. A estrategista de inflação da Warren Investimentos, Andréa Angelo, lembra que esse efeito não vai contribuir com a inflação de 2025 que ainda pode ficar pressionada com o impacto do efeito climático La Niña nos preços do setor.

"Os problemas de chuva e de La Niña são ruins, podem mudar a bandeira e são outra pressão para 2025", diz a analista, que tem no cenário IPCA de 3,85% este ano e de 3,8% no próximo. "Além disso, este ano é eleitoral e ninguém está aumentando preço de ônibus, mas ano que vem, quando não tem essas amarras, podemos ter uma recomposição desses preços."

Pela mesma razão, Caruso espera que os preços administrados terminem este ano próximos de 3,5% e avancem a um nível mais próximo de 5% em 2025. "Em anos eleitorais, você tende a postergar notícias ruins de reajustes, que tipicamente entram nos administrados. Essa é uma sazonalidade anual dos administrados. E ainda tem essa dúvida, que é a energia elétrica", afirma.

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