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Ciclo de crescimento econômico será maior no Brasil

Para Octávio de Barros, economista-chefe do Bradesco, a melhoria geral do balanço de pagamentos vai sustentar a expansão do país por mais tempo. Gustavo Loyola, ex-presidente do BC, entretanto, chama a atenção para o "pesadelo" dos problemas microeconômic

EXAME.com (EXAME.com)
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Da Redação

Publicado em 9 de outubro de 2008 às 11h25.

O ciclo de crescimento econômico dá sinais de que será mais duradouro do que em outras fases de expansão do país. A avaliação é do economista-chefe do Bradesco, Octávio de Barros, para quem a melhoria geral do balanço de pagamentos reduziu a vulnerabilidade do Brasil a crises externas, criando as condições de o país manter-se em expansão por um período maior. "Historicamente, os ciclos de crescimento do Brasil duravam um ou dois anos, mas o ajuste do balanço de pagamentos vai ampliar esse ciclo", diz.

As transações correntes, por exemplo, acumularam saldo positivo de 9,6 bilhões de dólares até setembro (último dado disponível), conforme o Banco Central. A cifra equivale a 2,28% do Produto Interno Bruto. Outro aspecto positivo são os superávits comerciais obtidos pelo país neste ano. Até outubro, o saldo positivo estava em 28,121 bilhões de dólares, 38% maior que em igual período do ano passado. "É o sexto maior saldo comercial do mundo até o momento", afirma Barros, que participou, nesta sexta-feira (12/11), de seminário da Associação dos Analistas e Profissionais de Investimento do Mercado de Capitais (Apimec), em São Paulo.

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O economista também destacou a redução da dívida externa, sobretudo do setor privado. Neste ano, de cada 100 dólares de dívida, as empresas estão pagando 65 dólares e rolando 35 dólares. Outros pontos que sustentam a avaliação positiva de Barros são o superávit fiscal, que chegou a 5,6% do PIB até setembro, a redução da relação dívida/PIB e da menor volatilidade cambial. "O Brasil está menos exposto a crises externas que no passado", diz.

Microeconomia

Se, na macroeconomia, o governo está conseguindo bons resultados, como a redução da vulnerabilidade externa, no plano microeconômico ainda deixa a desejar. "O grande nó, agora, é a microeconomia", afirma o economista Gustavo Loyola, ex-presidente do Banco Central e sócio da Tendências Consultoria, que também participou do seminário da Apimec, em São Paulo. "Lamentavelmente, o governo não consegue dar sinais inequívocos que despertem a confiança do mercado", diz.

Segundo Loyola, a ambigüidade do governo é composta pelas constantes ameaças de rompimento de contratos (como a disputa de índices para o reajuste da tarifa de energia) e a criação de custos adicionais de transação. "Essas medidas são pequenos assassinatos da confiança dos investidores", afirma. Caso o governo não consolide uma linha para sua política microeconômica, a tendência é que o capital privado (internacional e nacional) perca o interesse por novos investimentos, e o Brasil volte a se expor excessivamente a crises externas.

"Pesadelo"

O mais recente desses episódios é a polêmica sobre a redução do crédito dirigido (a parcela de crédito que as instituições financeiras são obrigadas a aportar em determinadas áreas, como habitação e agricultura). Nos últimos dias, membros do governo, como Henrique Meirelles, presidente do Banco Central, declararam que os créditos dirigidos ajudam a elevar os spreads bancários. Por isso, reduzir essas obrigações ajudaria a diminuir os juros bancários. A principal reação contrária partiu do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES). O vice-presidente, Darc Costa, chegou a classificar a proposta de "neoliberal".

Para Loyola, o episódio é um "pesadelo" para o mercado. "Declarações como a do vice-presidente do BNDES só sinalizam uma marcha-à-ré para os investidores", diz. Segundo o economista, a oposição no Congresso a uma agenda microeconômica, hoje, é menor do que no governo de Fernando Henrique Cardoso. Por isso, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva teria, em tese, menos dificuldade para aprovar mudanças positivas para o país, se sua própria equipe não estivesse dividida.

Segundo o economista-chefe do Bradesco, os investidores internacionais ainda demonstram dúvidas sobre a estrutura da dívida pública brasileira. Segundo Barros, seu perfil é "péssimo", porque os vencimentos estão muito concentrados no curto prazo (47% da dívida vence nos próximos 12 meses). Além disso, os agentes econômicos criticam a pouca disposição do governo de realizar as reformas necessárias para fazer o país deslanchar e a limitação da capacidade gerencial dos membros do governo, exceto os da equipe econômica.

Apesar desses problemas, o maior risco é o cenário externo, na avalição de Barros. A ameaça vem expressa, sobretudo, na crise do petróleo e nas perspectivas de desaceleração da economia mundial. "Há muita apreensão sobre a possibilidade de uma perfect storm (termo emprestado da meteorologia para indicar uma crise profunda) no ano que vem", diz Barros. Entre as dúvidas, estão o modo como os Estados Unidos combaterão seus déficits fiscal e comercial, e o patamar em que o preço do petróleo irá se estabilizar.

Cenários

Na avalição do economista-chefe do Bradesco, mesmo que todos os fatores negativos pesem mais que os avanços recentes do país, o pior dos cenários para o Brasil em 2005 não será, de longe, igual ao de crises anteriores, como em 2003, quando o PIB encolheu 0,2%. As piores projeções do Bradesco apontam que o país pode encerrar 2005 com taxa Selic em 18,5%, uma taxa de câmbio de 3,20 reais e o crescimento de 3% do PIB. Nessa conjuntura, o risco-país fecharia em 600 pontos.

Mas o cenário padrão desenhado pela equipe de Barros é mais ameno. Nele, o Brasil pode crescer 3,6%, com a produção industrial subindo 4,5%. A taxa de câmbio ficaria por volta de 2,90 reais e a balança comercial acumularia saldo positivo de 25,6 bilhões de dólares. "Sem dúvida, vamos crescer menos no ano que vem, mas o país está menos volátil", diz.

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