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China: estímulos devem ter menor alcance global do que na crise de 2008

A liderança da China está adotando o que alguns traders chamam de "abordagem de coquetel" para conter a desaceleração

Por trás do estímulo ao crescimento mais modesto está a percepção em Pequim de que o tradicional atingiu seu limite (KHH 1971/Getty Images)
EC

Estadão Conteúdo

Publicado em 16 de março de 2019 às 17h07.

Pequim - A onda de gastos da China durante a crise financeira global ajudou a tirar a economia mundial da recessão. Mas, desta vez, o estímulo de Pequim pode não ter o mesmo impacto. A liderança da China está adotando o que alguns traders chamam de "abordagem de coquetel" para conter a desaceleração econômica do país. Os remédios incluem uma combinação de maiores gastos, redução de impostos e crédito mais fácil.

Em pronunciamento nacional no início de março, o premiê da China, Li Keqiang, anunciou que o governo cortará impostos e taxas para as empresas em um total de 2 trilhões de yuans (US$ 298 bilhões), ou 2% da economia chinesa de US$ 13 trilhões. Isso inclui reduções nos impostos sobre valor agregado e contribuições exigidas para aposentadorias. A escala da redução superou as expectativas do mercado. Li também anunciou grandes iniciativas de gastos, incluindo um investimento de 800 bilhões de yuans na construção de ferrovias e 1,8 trilhão de yuans para construir estradas e transporte aquaviário.

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As medidas de redução de impostos e de investimento acrescentam 4,6 trilhões de yuans à economia, superando o pacote pró- crescimento de 4 trilhões de yuans que Pequim lançou no fim de 2008. No entanto, a economia chinesa se tornou maior desde então, o que significa que uma quantidade similar de estímulo pode não gerar resultados semelhantes. O pacote de medidas representava 13% do PIB da China em 2008 e agora representa menos de 5% do PIB.

"Se o estímulo da China ainda tem grande impacto, ou quão grande será o efeito disso no restante do mundo, depende principalmente do tamanho do estímulo", disse Wang Tao, economista-chefe do Grupo UBS na China. Na comparação relativa, o estímulo no passado era muito maior, segundo ela.

Outra métrica de estímulo é a expansão do chamado déficit fiscal aumentado na China, que leva em consideração os gastos do próprio governo e gastos financiados por empresas financeiras controladas pelo governo. Por essa medida, estudo do UBS mostra que o estímulo da China desta vez é muito menor do que o lançado durante a crise financeira. Espera-se que esses gastos aumentem em até 1,8 ponto porcentual em 2019 em relação ao ano passado, em comparação com um salto de 9,6 pontos percentuais de 2008 para 2009.

Por trás do estímulo ao crescimento mais modesto está a percepção em Pequim de que o tradicional modelo de crescimento impulsionado pela dívida da China atingiu seu limite. Li e outros líderes de alto escalão já renegaram o que era conhecido como "estímulo de irrigação por inundação" no passado.

De acordo com uma análise de Wang e sua equipe, o crescimento total do crédito - incluindo empréstimos bancários, emissão de títulos corporativos, emissão de títulos de governos locais e outras dívidas - vai acelerar de cerca de 9,5% no fim de 2018 para 11,5% no fim deste ano. Em contraste, o crédito da China saltou 36% em 2009, após um aumento de 18% no ano anterior.

Em 2018, o endividamento total das empresas, dos governos central e locais e dos domicílios atingiu quase 250% do Produto Interno Bruto, ante menos de 150% na década anterior. Um crescimento da dívida como esse é perigoso, advertiu o Fundo Monetário Internacional repetidamente. Em relatório de janeiro de 2018, por exemplo, o FMI observou que quase todos os casos de boom de crédito semelhantes aos da China foram seguidos por "uma grande desaceleração do crescimento ou uma crise financeira".

O endividamento total de empresas, famílias e governos federal e locais dos EUA, em comparação, era de 247% do PIB em 2018, com um grande aumento na dívida das famílias nos anos anteriores à crise imobiliária de 2007 a 2009.

A maior parte do crescimento da dívida da China vem de empresas estatais e financeiras controladas por vários níveis de governo, que frequentemente usam o dinheiro para financiar projetos que são politicamente atraentes mas nem sempre comercialmente viáveis.

A China está gerando menos produção a partir de empréstimos do que antes. Em 2008, de acordo com um relatório emitido pelo FMI, 1 trilhão de yuans de crédito foi necessário para gerar 1 trilhão de yuans de produção econômica. Em 2017, o ano mais recente para o qual tais dados estão disponíveis, foram necessários 3,5 trilhões de yuans de crédito para gerar 1 trilhão de yuans de produção econômica.

A China melhorou a eficiência de seu uso de crédito nos últimos três anos, graças ao esforço do governo para reduzir o excesso de capacidade industrial e estabilizar os níveis de endividamento. O estudo do FMI prevê mais progressos nos próximos anos.

Mas, para estabilizar os níveis gerais de endividamento do país, de acordo com o FMI, Pequim terá que acelerar a reformulação de seu pesado setor estatal e realizar outras reformas orientadas para o mercado que possam levar a uma alocação mais eficiente de crédito e outros recursos.

Os EUA também pedem que a China reformule seu setor estatal, mas o presidente Xi Jinping, que vê o setor estatal como base para o governo do partido, mudou na direção contrária, tornando empresas estatais maiores e fortalecendo o controle estatal sobre a economia.

A restrição de níveis de endividamento explica por que a natureza do pacote pró-crescimento de Pequim está mudando em relação à era da crise financeira - do crédito para cortes de impostos e gastos do governo. A mudança pode não ser tão rápida quanto os esforços anteriores: Wang acredita que as empresas provavelmente manterão a maior parte do dinheiro que iria para impostos poupada, em vez de gastá-la, à luz da desaceleração e da incerteza causadas pelas tensões comerciais entre os EUA e a China. Fonte: Dow Jones Newswires.

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