China abole lei de filho único e vive baby boom (o PIB agradece)
Foram 18,4 milhões de novos bebês chineses só em 2016, o primeiro ano em décadas em que os casais puderam ter um segundo filho
João Pedro Caleiro
Publicado em 13 de março de 2017 às 16h03.
Última atualização em 14 de março de 2017 às 09h19.
São Paulo - Fazia tempo que o mundo não ganhava tantos novos chineses.
Foram 18,46 milhões de nascimentos na China em 2016, dois milhões a mais do que a média dos 5 anos anteriores, segundo matéria da agência oficial Xinhua publicada no sábado.
A taxa de fertilidade subiu para 1,7 filhos por mulher após ter flutuado entre 1,5 e 1,6 entre 2000 e 2015. A taxa de 2 filhos por mulher é o suficiente para manter a população estável no longo prazo.
Wang Pei'an, vice-ministro da Comissão Nacional de Planejamento Familiar e Saúde, disse que os resultados eram notáveis e que o governo estava muito otimista de que a tendência iria continuar.
“Balancear o desenvolvimento populacional e enfrentar o desafio de uma população que envelhece” foi o objetivo declarado quando o governo acabou com a política de filho único em outubro de 2015.
A regra havia sido imposta em 1979, quando a taxa de fertilidade era de 2,81 filhos por mulher e o governo temia que um descontrole populacional. Poucas exceções eram permitidas e a fiscalização era intensa.
O problema foi que com o tempo, a preferência pelo sexo masculino gerou um excedente de homens solteiros que deve chegar a 30 milhões já em 2020 e causa tensões sociais.
Além disso, o boom demográfico passou e a China se viu com cada vez menos jovens sustentando cada vez mais idosos, o que significa pressão sobre o sistema de pensões.
O problema é generalizado nos países desenvolvidos e agora chega aos emergentes – incluindo o Brasil, que não por acaso discute a Reforma da Previdência.
No caso da China, há também uma tentativa de reformar o modelo de crescimento de muita poupança e investimento pesado para outro mais baseado em varejo, consumo e inovação.
Acabar com a restrição vai na direção certa, mas pode não ser suficiente. De acordo com a consultoria Euromonitor, os casais nas grandes cidades já hesitam em ter o segundo filho diante da falta de tempo e do alto custo de vida.
Wang citou, com base em pesquisas do governo, que a vontade de ter mais um filho esbarra em fardos econômicos, preocupações com o desenvolvimento da carreira da mulher e a falta de suporte para o cuidado das crianças.
Em uma coletiva de imprensa anterior, o ministro das Finanças Xiao Jie disse que o governo estava considerando dar uma dedução de impostos para famílias com duas crianças.
Segundo a Euromonitor, os novos bebês chineses devem levar a um crescimento real anual de 11% nos mercados de roupas e sapatos infantis do país até 2020. Nenhum outro setor de vestuário chinês tem uma perspectiva tão boa.