Chile lança plano econômico de US$ 5,5 bilhões para enfrentar crise social
Governo quer estimular economia e gerar empregos após série de protestos terem levado atividade econômica do Chile a cair 3,4% em outubro
AFP
Publicado em 3 de dezembro de 2019 às 07h03.
Última atualização em 3 de dezembro de 2019 às 07h05.
São Paulo — O governo chileno apresentou, nesta segunda-feira (2), um plano de 5,5 bilhões de dólares para reativar a economia, que despencou 3,4% em outubro, devido à crise social que varre o país há 46 dias - anunciou o ministro da Fazenda, Ignacio Briones.
"Enfrentar a difícil situação exige a ação do Estado por meio de uma política fiscal expansiva para o ano de 2020 (...) Esta agenda que hoje anunciamos considera medidas de 5,5 bilhões de dólares", afirmou o ministro em uma mensagem na casa de governo, no mesmo dia em que o Banco Central informou a queda da atividade econômica de 3,4% em outubro, a pior em uma década.
O plano de reativação prevê um maior gasto público em 2020, um apoio financeiro de 1,950 bilhão de dólares para as micro, pequenas e médias empresas (Mipymes), e 525 milhões de dólares para outras iniciativas, como a reconstrução do metrô de Santiago, gravemente atingido pelas manifestações iniciadas em 18 de outubro.
O pacote deve "gerar 100 mil novos empregos no próximo anos", avaliou Briones.
Neste cenário, o gasto público cresceria 9,8% real em 2020 comparado ao orçamento de 2019. Já o déficit fiscal atingiria até 4,4% do PIB no próximo ano.
As necessidades de financiamento para o próximo ano estão orçadas em 16,6 bilhões de dólares, com até 9 bilhões a cargo da emissão da dívida, "40% do qual em moeda estrangeira", e os 7,6 bilhões restantes provenientes das reservas do Tesouro em moeda estrangeira.
Briones destacou que o governo revisou para baixo o crescimento em 2019, para 1,4%, contra as previsões de 2% a 2,2%. Em 2020, o Chile deve crescer de 1% a 1,5%.
O presidente Sebastián Piñera apresentou soluções às demandas sociais, mas boa parte da população continua a considerar tais medidas insuficientes. A agenda governamental para lidar com a crise se concentrou na luta contra a violência e no fortalecimento da Polícia.
Protestos contínuos
Dezenas de jovens entraram sem pagar em várias estações do metrô de Santiago nesta segunda-feira,uma forma de protesto que detonou há sete semanas a grave crise social que sacode o Chile e que o governo não consegue apaziguar.
Os jovens, a maioria vestindo uniforme escolar e usando lenços no pescoço para não ser reconhecida, saíram de uma das composições do metrô na estação Los Héroes, uma das mais importantes do centro da capital chilena, e abriram as portas de acesso às plataformas para que os usuários entrassem sem pagar, constatou um jornalista da AFP.
Em seguida, os manifestantes subiram nas roletas, aos gritos de "evadir, no pagar, outra forma de luchar!" (burlar, não pagar, outra forma de lutar!) e voltaram a entrar em outro trem.
Na estação Irarrázaval, no bairro residencial de Ñuñoa (leste de Santiago), jovens encapuzados tentaram entrar aos chutes e a pauladas, mas não conseguiram quebrar as portas de acesso, segundo a imprensa local.
Em outras estações também foram registrados incidentes que obrigaram a empresa Metro, que controla o serviço ferroviário metropolitano, a interromper o serviço em algumas paradas.
Durante a noite aconteceram violentos saques e manifestações na cidade de Concepción, sul do país, onde um menor de 12 anos foi detido por roubar os óculos de uma loja. Um promotor decidiu colocá-lo sob custódia de um adulto porque por sua idade não é imputável, informou a polícia.
Em 18 de outubro, os calotes realizados por estudantes em protesto contra o aumento nas passagens do metrô deu início à pior crise social que o Chile viveu em três décadas, com estações e trens incendiados.
As manifestações que se seguiram, saques e incêndios em lojas, assim como enfrentamentos com forças de segurança, deixaram 23 mortos e milhares de feridos.
O plano do governo "perde o sentido se não conseguirmos isolar os vândalos, saqueadores, traficantes e todos que ameaçam nossa democracia", disse o ministro do Interior, Gonzalo Blumel.
Segundo a mais recente pesquisa da empresa Cadem, 96% dos entrevistados "discordam dos saques e roubos ao comércio", enquanto 72% apoiam a "mão dura" contra os saqueadores.
A sondagem também revelou que 67% dos consultados concordam com a continuidade das manifestações, e 59% estão de acordo com um projeto de lei de Piñera para que os militares zelem pela infraestrutura pública sem necessidade de decretar estado de emergência.