Bolsonaro e Trump: presidente brasileiro prometeu que o etanol americano entraria livre de tarifas no Brasil, mas depois se curvou às pressões dos produtores locais (Carlos Barria/Reuters)
Ligia Tuon
Publicado em 10 de janeiro de 2020 às 17h54.
Última atualização em 10 de janeiro de 2020 às 18h00.
Washington provavelmente levará tempo para suspender a proibição das importações brasileiras de carne in natura, já que o governo dos Estados Unidos continua frustrado com a decisão do Brasil de manter cotas para as importações isentas de tarifas de etanol americano, de acordo com duas autoridades brasileiras com conhecimento direto do assunto.
O fracasso nas negociações para retomar as exportações da carne in natura para os EUA aconteceu no ano passado, quando autoridades brasileiras quebraram uma promessa que o presidente Jair Bolsonaro fez pessoalmente a seu colega Donald Trump em uma viagem a Washington, disseram as pessoas pedindo anonimato porque a discussão não é não é público.
Bolsonaro prometeu que o etanol americano entraria livre de tarifas no Brasil, mas depois se curvou às pressões dos produtores locais do combustível.
A decisão foi transmitida ao secretário de Agricultura dos EUA, Sonny Perdue, pela ministra da Agricultura do Brasil, Tereza Cristina Dias, em uma conversa por telefone em agosto, dias antes da renovação da cota. Ela argumentou que a eliminação completa das tarifas de etanol irritaria a bancada ruralista, exatamente quando Bolsonaro precisava de votos para aprovar a reforma da Previdência.
Perdue argumentou que não era isso que os dois presidentes haviam acertado, disseram as pessoas, acrescentando que ele respondeu que manteria a proibição da carne in natura brasileira como retaliação. No mês seguinte, Tereza Cristina se encontrou com Perdue em Washington, na expectativa de fazê-lo mudar de ideia, mas voltou de mãos vazias.
O Brasil acabou aumentando a cota de etanol que pode entrar no país sem pagar tarifas para 750 milhões de litros. As importações além desse nível são tributadas em 20%.
O Ministério da Agricultura do Brasil disse, em nota, que os dois países são parceiros comerciais históricos e há muito tempo concordam sobre o assunto. O Planalto não quis comentar. A Casa Branca e o USDA não responderam imediatamente a pedidos de comentário por telefone e email.