São Paulo, 26 de março (Portal EXAME) O resultado do balanço de pagamentos em fevereiro deste ano, divulgado nesta quarta-feira (26/3) pelo Banco Central, mostra que o Brasil está reduzindo sua dependência dos investimentos estrangeiros. A conta de transações correntes (que mostra a entrada e saída de dólares com o comércio, os serviços e as transferências de recursos entre moradores e não residentes no país) fechou fevereiro com um déficit de 197 milhões de dólares. No acumulado de 12 meses, o déficit foi de 5,5 bilhões de dólares. Esse resultado representa 1,22% do Produto Interno Bruto (PIB), o melhor resultado desde fevereiro de 1995. Parece muito? De fato é muito, mas só para lembrar: em fevereiro do ano passado, o déficit acumulado foi de 21,3 bilhões. O que houve de lá para cada foi uma redução de 74%.

Chama a atenção no resultado de fevereiro a queda nos investimentos diretos estrangeiros. Foram 508 milhões de dólares, contra 724 milhões em janeiro. No acumulado de 12 meses, a entrada de capitais fechou em baixa: 15,466 bilhões de dólares contra um acumulado de 21,791 bilhões em fevereiro do ano passado. A queda de 40% parece, mas não é, um sinal de desinteresse pelo Brasil , diz Daniel Thá, analista econômico da consultoria Global Invest. Na avaliação de Thá, os números apenas mostram um retorno à normalidade após os grandes ingressos de capitais provocados pelas privatizações. Em 2000, por exemplo, no auge das vendas de estatais, entraram no Brasil 30,5 bilhões de dólares em investimentos diretos estrangeiros. O investimento estrangeiro é importante, mas interessa mais ao país consolidar o resultado positivo nas transações correntes para reduzir sua dependência externa , diz Thá. E é isso que está ocorrendo agora.

O déficit em conta corrente no mês de fevereiro foi fruto da balança de serviços e rendas, que registrou um resultado negativo de 1,516 bilhão de dólares. A balança comercial foi responsável por um superávit de 1,123 bilhão. As transferências unilaterais registraram o ingresso de 196 milhões de dólares. Ainda assim, a balança de serviços registrou melhora em relação ao ano passado. Os gastos líquidos com serviços de 286 milhões de dólares em fevereiro último representam uma queda de 22,7% em relação a fevereiro de 2002.

O saldo de viagens (que também entra na conta de serviços) permanece positivo desde setembro do ano passado, e fechou fevereiro com receita líquida de 46 milhões de dólares. As receitas com o turismo cresceram 25%. O grande diferencial em todos os resultados é a desvalorização do real. O câmbio incentivou as exportações, inibiu as importações, e está adiando as viagens de turistas brasileiros para o exterior e atraindo turistas de outros países.