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Brasil e China podem ser "porto seguro" de investidores, diz criador do termo BRIC

Jim O'Neill, economista do Goldman Sachs, acredita, no entanto, que nenhum país sairá ileso se uma possível moratória ocorrer na Europa

O entusiasmo do economista em relação à posição dos emergentes fez até mesmo com que o termo Bric deixasse de ser utilizado por seu próprio criador (Divulgação)
DR

Da Redação

Publicado em 19 de julho de 2011 às 20h09.

São Paulo - Um possível calote da dívida na Europa não passará despercebido pelos países emergentes – e deverá causar estragos. Quem faz essa afirmação é ninguém menos que o economista do banco Goldman Sachs, Jim O'Neill – autor do termo Bric para denominar as economias mais promissoras da última década: Brasil, Rússia, Índia e China.

Em entrevista ao site de VEJA, O'Neill afirma que, por melhor desempenho econômico que um país tenha atualmente, nenhum está preparado para uma crise sistêmica de dívidas soberanas. No entanto, quando se tem os Estados Unidos – considerado o porto seguro dos investimentos – sofrendo ameaças de rebaixamento em sua classificação de risco, países como Brasil e China se tornam as opções mais sensatas para abrigar os investidores em um possível cenário de aversão ao risco, ocasionado por uma moratória na Europa. "Essa mudança de padrão está acontecendo. Diante da posição fiscal forte desses países, não faz o menor sentido utilizar benchmarks tradicionais para investir", afirma O'Neill.

O entusiasmo do economista em relação à posição dos emergentes fez até mesmo com que o termo Bric deixasse de ser utilizado por seu próprio criador. Com o bom desempenho dos países após a crise, O'Neill apelidou-os de "growth markets" – que significa economias em crescimento – e engloba um número maior de nações, como Indonésia, Coreia do Sul e México. Tais países, muitos deles antigos caloteiros, como Brasil e México, formam hoje um grupo com forte dependência de demanda interna e que pode, possivelmente, ditar os novos rumos da economia mundial. Por essa razão, O'Neill acredita que o termo emergente está ultrapassado. Para ele, essas nações já emergiram.

O possível calote da Grécia afetaria mais qual dos emergentes?

O'Neill - Na minha avaliação, a questão ultrapassou os limites da Grécia, já que a Itália mostra-se também instável. A não ser que os líderes europeus decidam nesta quinta-feira por uma solução surpreendente, todos os mercados serão afetados por uma possível moratória. Vale ressaltar que essa situação imporia fortes perdas ao mercado de commodities. Logo, há chances de países em crescimento e exportadores de commodities, como Brasil, Indonésia e Rússia, sofrerem mais do que os outros.

A busca por investimentos mais seguros seria o cenário esperado para uma situação como essa. Mas como fazer quando a economia mais segura do mundo, os Estados Unidos, está a um passo de ser rebaixada pelas agências de classificação de risco?

O'Neill - Todas as economias em crescimento estão bem se comparadas a qualquer economia desenvolvida. Além disso, o papel tradicional de porto seguro para investimentos ditado por esses países está em processo de mudança.


Os países emergentes poderão ser os novos portos seguros?

O'Neill -Acredito que sim, pois essa mudança de padrão está acontecendo. Diante da posição fiscal forte desses países, não faz o menor sentido utilizar benchmarks tradicionais para investir. No Goldman, estamos trabalhando com diferentes ideias para ajudarmos os investidores a pensar de forma diferente.

As economias emergentes se saíram bem durante a crise financeira de 2008 e 2009, mas o que garante que se sairão bem novamente se houver uma grande crise de dívida?

O'Neill - Se elas estiverem com endividamento equilibrado, por que não? Especialmente os países que são movidos pela demanda interna. É parcialmente por isso que a China tem mudado seu modelo de desenvolvimento e se voltado mais ao mercado doméstico. Isso ocorre porque o governo chinês percebeu que, desta forma, eles não seriam tão vulneráveis a choques de preço e de demanda.

O Brasil está preparado para as consequências de problemas maiores em relação à dívida dos países europeus?

O'Neill - Eu acho que, se a Itália e a Espanha atingirem a mesma situação que a Grécia, não estou certo se algum país ou mercado estaria completamente preparado, pois a situação se tornaria extremamente difícil.

Ainda que não se compare ao quadro verificado na Europa, a situação fiscal do Brasil se deteriorou muito em 2010 por conta da gastança de recursos públicos. Neste ano, o governo programou cortes para tentar equilibrar as contas.

Esses esforços estão sendo eficazes?

O'Neill - É importante que o governo tente aprofundar ainda mais o aperto fiscal. Dada a importância da meta de inflação para a estabilidade econômica, somada à valorização do real – que é causada também pelas altas taxas de juros –, a maneira mais sensível de melhorar este quadro é mexer na política fiscal.

O aumento da inflação no país é preocupante?

O'Neill - Estou mais ou menos preocupado com o fato de o índice estar no teto da meta. Apesar disso, continuo acreditando que alcançar uma inflação baixa e estável tem sido um dos maiores sucessos do Brasil nos últimos anos. Espero que isso se mantenha.

Aumentar a taxa de juros continua sendo suficiente para impedir a inflação de crescer?

O'Neill - Sim, mas o problema é que isso faz o real se valorizar ainda mais, e isso é um problema em potencial. A melhor solução seria, sem dúvida, uma política fiscal mais severa.

A apreciação das moedas não é um fenômeno que atinge quase todos os emergentes?

O'Neill - É verdade. Essa é uma questão que atinge principalmente o Brasil. Como o real está relativamente caro, é possível que o stress dos mercados ajude a moeda brasileira a se ajustar a um patamar mais baixo e deixar de causar problemas.

Muitos dizem que há uma bolha sendo formada nas economias emergentes. Um agravamento da crise fiscal na Europa ou nos Estados Unidos poderia fazer com que essa bolha estoure?

O'Neill - Essa ideia de bolha acontece devido à valorização do real. Se houvesse um aperto fiscal mais eficaz, que causasse a desvalorização da moeda e a queda dos juros, o risco de uma queda forte nos preços dos ativos seria dissipado, assim como essa ideia de bolha.

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São Paulo - Um possível calote da dívida na Europa não passará despercebido pelos países emergentes – e deverá causar estragos. Quem faz essa afirmação é ninguém menos que o economista do banco Goldman Sachs, Jim O'Neill – autor do termo Bric para denominar as economias mais promissoras da última década: Brasil, Rússia, Índia e China.

Em entrevista ao site de VEJA, O'Neill afirma que, por melhor desempenho econômico que um país tenha atualmente, nenhum está preparado para uma crise sistêmica de dívidas soberanas. No entanto, quando se tem os Estados Unidos – considerado o porto seguro dos investimentos – sofrendo ameaças de rebaixamento em sua classificação de risco, países como Brasil e China se tornam as opções mais sensatas para abrigar os investidores em um possível cenário de aversão ao risco, ocasionado por uma moratória na Europa. "Essa mudança de padrão está acontecendo. Diante da posição fiscal forte desses países, não faz o menor sentido utilizar benchmarks tradicionais para investir", afirma O'Neill.

O entusiasmo do economista em relação à posição dos emergentes fez até mesmo com que o termo Bric deixasse de ser utilizado por seu próprio criador. Com o bom desempenho dos países após a crise, O'Neill apelidou-os de "growth markets" – que significa economias em crescimento – e engloba um número maior de nações, como Indonésia, Coreia do Sul e México. Tais países, muitos deles antigos caloteiros, como Brasil e México, formam hoje um grupo com forte dependência de demanda interna e que pode, possivelmente, ditar os novos rumos da economia mundial. Por essa razão, O'Neill acredita que o termo emergente está ultrapassado. Para ele, essas nações já emergiram.

O possível calote da Grécia afetaria mais qual dos emergentes?

O'Neill - Na minha avaliação, a questão ultrapassou os limites da Grécia, já que a Itália mostra-se também instável. A não ser que os líderes europeus decidam nesta quinta-feira por uma solução surpreendente, todos os mercados serão afetados por uma possível moratória. Vale ressaltar que essa situação imporia fortes perdas ao mercado de commodities. Logo, há chances de países em crescimento e exportadores de commodities, como Brasil, Indonésia e Rússia, sofrerem mais do que os outros.

A busca por investimentos mais seguros seria o cenário esperado para uma situação como essa. Mas como fazer quando a economia mais segura do mundo, os Estados Unidos, está a um passo de ser rebaixada pelas agências de classificação de risco?

O'Neill - Todas as economias em crescimento estão bem se comparadas a qualquer economia desenvolvida. Além disso, o papel tradicional de porto seguro para investimentos ditado por esses países está em processo de mudança.


Os países emergentes poderão ser os novos portos seguros?

O'Neill -Acredito que sim, pois essa mudança de padrão está acontecendo. Diante da posição fiscal forte desses países, não faz o menor sentido utilizar benchmarks tradicionais para investir. No Goldman, estamos trabalhando com diferentes ideias para ajudarmos os investidores a pensar de forma diferente.

As economias emergentes se saíram bem durante a crise financeira de 2008 e 2009, mas o que garante que se sairão bem novamente se houver uma grande crise de dívida?

O'Neill - Se elas estiverem com endividamento equilibrado, por que não? Especialmente os países que são movidos pela demanda interna. É parcialmente por isso que a China tem mudado seu modelo de desenvolvimento e se voltado mais ao mercado doméstico. Isso ocorre porque o governo chinês percebeu que, desta forma, eles não seriam tão vulneráveis a choques de preço e de demanda.

O Brasil está preparado para as consequências de problemas maiores em relação à dívida dos países europeus?

O'Neill - Eu acho que, se a Itália e a Espanha atingirem a mesma situação que a Grécia, não estou certo se algum país ou mercado estaria completamente preparado, pois a situação se tornaria extremamente difícil.

Ainda que não se compare ao quadro verificado na Europa, a situação fiscal do Brasil se deteriorou muito em 2010 por conta da gastança de recursos públicos. Neste ano, o governo programou cortes para tentar equilibrar as contas.

Esses esforços estão sendo eficazes?

O'Neill - É importante que o governo tente aprofundar ainda mais o aperto fiscal. Dada a importância da meta de inflação para a estabilidade econômica, somada à valorização do real – que é causada também pelas altas taxas de juros –, a maneira mais sensível de melhorar este quadro é mexer na política fiscal.

O aumento da inflação no país é preocupante?

O'Neill - Estou mais ou menos preocupado com o fato de o índice estar no teto da meta. Apesar disso, continuo acreditando que alcançar uma inflação baixa e estável tem sido um dos maiores sucessos do Brasil nos últimos anos. Espero que isso se mantenha.

Aumentar a taxa de juros continua sendo suficiente para impedir a inflação de crescer?

O'Neill - Sim, mas o problema é que isso faz o real se valorizar ainda mais, e isso é um problema em potencial. A melhor solução seria, sem dúvida, uma política fiscal mais severa.

A apreciação das moedas não é um fenômeno que atinge quase todos os emergentes?

O'Neill - É verdade. Essa é uma questão que atinge principalmente o Brasil. Como o real está relativamente caro, é possível que o stress dos mercados ajude a moeda brasileira a se ajustar a um patamar mais baixo e deixar de causar problemas.

Muitos dizem que há uma bolha sendo formada nas economias emergentes. Um agravamento da crise fiscal na Europa ou nos Estados Unidos poderia fazer com que essa bolha estoure?

O'Neill - Essa ideia de bolha acontece devido à valorização do real. Se houvesse um aperto fiscal mais eficaz, que causasse a desvalorização da moeda e a queda dos juros, o risco de uma queda forte nos preços dos ativos seria dissipado, assim como essa ideia de bolha.

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