Economia

Brasil e América Latina ficam de fora da expansão do varejo mundial

"O Brasil e toda a América Latina foram riscados do mapa dos varejistas americanos e europeus". É o que afirma Marcos Gouvêa de Souza, consultor de varejo e sócio da empresa de pesquisa e consultoria paulista Gouvêa de Souza & MD. Pelo menos nos próximos dois anos, os olhos dessas empresas estarão voltados para outros […]

EXAME.com (EXAME.com)

EXAME.com (EXAME.com)

DR

Da Redação

Publicado em 9 de outubro de 2008 às 10h48.

"O Brasil e toda a América Latina foram riscados do mapa dos varejistas americanos e europeus". É o que afirma Marcos Gouvêa de Souza, consultor de varejo e sócio da empresa de pesquisa e consultoria paulista Gouvêa de Souza & MD. Pelo menos nos próximos dois anos, os olhos dessas empresas estarão voltados para outros mercados". Mais precisamente, para a China, Rússia e Índia. As impressões do especialista são resultado do que ele viu e ouviu na Convenção da Federação Nacional de Varejo, nos Estados Unidos (NFR), o maior evento mundial do setor.

Vários motivos explicam o interesse por esses três mercados em vez do brasileiro e do resto da região. Primeiro deles: se o Produto Interno Bruto (PIB) do Brasil cresceu apenas 0,3% em 2003, e as estimativas mais otimistas apostam que ele chegará a 4% este ano, os números das economias dos outros três países citados acima são bem mais atraentes. O PIB da China, que cresceu 9,2% em 2003, deverá passar muito disso este ano e nos próximos. A Índia, que registrou 6,1% de crescimento em 2003, idem. Já a Rússia, cujo PIB de 2003 foi 6,8% superior ao de 2002, deverá registrar uma evolução um pouco menor este ano, de 5,8%, mas ainda assim, maior que a brasileira.

Fosse só o fôlego para crescer dessas economias, diz Gouvêa, as chances de que alguém se arriscaria a fincar o pé pelos lados de cá seriam maiores. Mas elas têm ainda outros atrativos. "No Brasil, o poder de compra global de uma rede internacional é minado pelos altos custos da importação", diz Alberto Serrentino, consultor e sócio da Gouvêa de Souza & MD. O resultado disso é que a sobrevivência no país passa a depender da difícil tarefa de desenvolver fornecedores locais. "E nessa hora, o fornecedor brasileiro não quer saber se o Wal-Mart é a maior rede do mundo, mas só que ele ocupa apenas a sexta posição no ranking aqui", afirma ele.

Ao contrário do Brasil, cuja liderança do varejo é de uma empresa nacional - o Pão de Açúcar, conhecido pela sua eficiência operacional - China, Índia e Rússia não possuem empresas de varejo locais de peso que possam dificultar a vida dos competidores globais. "Ainda são mercados praticamente virgens", diz Serrentino. "Por isso, o que veremos acontecer daqui pra frente nesses países será algo parecido com a conquista do velho oeste".

Um lado positivo que deve ser levado em consideração nessa história é que enquanto Índia, China e Rússia são o palco da corrida pelo ouro, no Brasil e nas redondezas um outro movimento toma corpo: o da nacionalização do varejo. "Os varejistas internacionais tinham expectativas muito altas e foram surpreendidos pela competição qualificada, custos operacionais elevados e práticas muito próprias, como a do crediário", afirma Gouvêa.

A liderança do grupo Pão de Açúcar no Brasil, depois de anos de supremacia do francês Carrefour, assim como a saída do país do português Gerônimo Martins são alguns dos exemplos dessa tendência na América Latina. O caso mais contundente até agora, entretanto, afirma Gouvêa, é o do Chile. Só no ano passado, deixaram o país as redes Carrefour e as americanas Home Depot e JC Penney, além da holandesa Royal Ahold. Todas elas tiveram suas operações vendidas para varejistas locais. "O curioso é que no passado o Chile foi o país escolhido como base para a expansão na região", afirma ele.

Para as operações que ficam, a regra de que será preciso se virar sem a ajuda das matrizes é clara. "Elas já crescem de forma orgânica com o que estão faturando aqui porque as inversões lá de fora cessaram", diz Serrentino. Segundo ele, estão seguindo essa regra nomes como Carrefour, Fenac e Wal-Mart. A maior rede de varejo do mundo, no entanto, deverá abrir o caixa para adquirir o Bom Preço, da Ahold. A aquisição, diz Serrentino, é essencial para a permanência da empresa no país. Há cerca de dez anos no Brasil, O Wal-Mart tem poucas lojas e precisa crescer para se adequar à sua estratégia mundial. "O Wal-Mart não sabe operar pequeno e, por isso, precisa dar um salto para que o ritmo e a agressividade já comuns lá fora valham aqui também", afirma o consultor. "Do jeito que ele está hoje não dá pra ficar".

Acompanhe tudo sobre:[]

Mais de Economia

Relator retira 'jabuti' com impacto de R$ 24 bi nas contas de luz de projeto sobre combustíveis

Produção de motos no Polo Industrial de Manaus cresce 11,4% em agosto

Polícia Federal deflagra operação contra fraudadores da Previdência Social no estado do RJ

Governo aposta em três projetos que somam R$ 56 bilhões para destravar investimentos verdes