Para evitar greve, governo anuncia crédito de R$ 500 mi para caminhoneiros
Após susto do mercado com adiamento do reajuste do diesel, governo anuncia medidas para afagar categoria antes de reunião de Bolsonaro com Petrobras
Estadão Conteúdo
Publicado em 16 de abril de 2019 às 11h25.
Última atualização em 16 de abril de 2019 às 13h16.
Brasília — Para evitar uma nova greve dos caminhoneiros, o governo federal anunciou nesta terça-feira (16) uma série de medidas para aprimorar o trabalho da categoria.
Dentre elas está a abertura de uma linha de crédito do BNDES para caminhoneiros autônomos no valor de 500 milhões de reais e oinvestimento de 2 bilhões de reais em rodovias.
O recurso do crédito será restrito a aqueles que têm até dois caminhões por CPF e deve atingir o valor de 30 mil reais para cada motorista. O objetivo é oferecer meios para a compra de pneus e manutenção dos veículos.
Em entrevista coletiva, o ministro da Casa Civil, Onyx Lorenzoni, afirmou que a linha vai ser inicialmente distribuída pelo Banco do Brasil e pela Caixa e posteriormente para todos os demais bancos e cooperativas de crédito para "permitir que o autônomo tenha acesso a esse importante instrumento".
A nova linha foi discutida na segunda-feira (15) no Palácio do Planalto, com o presidente do BNDES, Joaquim Levy. O BNDES informou que o benefício está sendo desenhado em parceria e coordenação do Ministério da Economia.
Os detalhes da operação ainda estão em discussão, mas o BNDES garantiu que não haverá subsídio. Segundo o banco de desenvolvimento, as condições serão compatíveis com a receita dos caminhoneiros e adequadas à capacidade dos bancos que vão distribuir na ponta o financiamento do banco.
O foco é dar mecanismo para os caminhoneiros preservarem o ativo que compraram com o financiamento feito lá atrás. O banco destaca que um caminhão bem tratado dura muitos anos e é amortizado com ganho para o caminhoneiro e segurança para o emprestador e os que estão nas estradas.
O BNDES informou que está focando os instrumentos que já dispõe para dar uma resposta efetiva e transparente a uma situação real de preservação de investimento feito com "sacrifício" dos caminhoneiros.
O banco diz que é um "órgão de Estado e implementador de políticas públicas" e, por isso, responde de forma técnica às necessidades da sociedade e objetivos do governo".
Investimento em estradas
O governo federal vai investir os 2 bilhões de reais para melhorar as estradas e tentar reduzir o número de acidentes entre os caminhoneiros. De acordo com Onyx, as chuvas intensas do verão, aliadas ao transporte rodoviário, prejudicaram estradas em todo o país.
"Historicamente, há muitos anos nós não tínhamos chuvas tão intensas e tão difusas no Brasil. Nós já não tínhamos uma manutenção das rodovias brasileiras", afirmou o ministro da Casa Civil.
Cartão caminhoneiro
Outra medida, que já foi anunciada anteriormente e agora confirmada, é o Cartão Caminhoneiro. De acordo com Tarcísio de Freitas, ministro da Infraestrutura, o motorista poderá comprar diesel antecipado para não se prejudicar com a volatilidade dos preços.
"O cartão está sendo analisado e será distribuído pela Petrobras", explicou Freitas. Segundo ele, há um carinho do governo federal para a categoria dos transportadores.
Ao ser questionado por jornalistas sobre a política do governo para o preço do diesel, Onyx afirmou que o tema será tratado em reunião nesta terça entre o presidente Jair Bolsonaro, a equipe econômica e representantes da Petrobras.
"Vai haver uma reunião agora à tarde, que já está anunciada, entre o presidente, o Ministério da Economia, outros ministérios e a Petrobras, que vão discutir esse tema. Agora, o governo sempre disse que a Petrobras tem a autonomia e a liberdade para exercitar aquilo que é necessário do ponto de vista de política de combustível", disse o ministro.
A empresa perdeu R$ 32 bilhões em valor de mercado em um único dia; a atitude evocou períodos do governo Dilma Rousseff em que o preço era congelado para ajudar a conter a inflação e a empresa tinha que absorver as perdas.
Tabela de frete
O governo também disse que a tabela do frete, reivindicação dos caminhoneiros atendida como forma de conter a greve do ano passado mas atualmente envolvido em disputas judiciais, está em estudo.
"Estamos considerando absolutamente todas as variáveis que custam ao caminhoneiro, desde o peso do produto até o valor do combustível", disse o ministro da Infraestrutura, que acrescentou que a tabela deve ser anunciada em breve.
O tabelamento do frete é criticado por economistas e por membros do governo, como a ministra da Agricultura, Tereza Cristina, por trazer ineficiências e aumento do custo para os agricultores.