BCs do Japão e da Europa: o pior passou, mas segunda onda é o maior risco
Em eventos nesta sexta-feira, autoridades pediram que países se preparem para uma segunda onda do coronavírus e citaram desafios da recuperação econômica
Carolina Riveira
Publicado em 26 de junho de 2020 às 08h58.
Última atualização em 26 de junho de 2020 às 09h03.
Presidentes dos bancos centrais de Europa e do Japão se pronunciaram nesta sexta-feira sobre suas expectativas para a economia em meio à crise do coronavírus . Os dois acreditam no começo de uma retomada econômica no segundo semestre, mas, para chegar lá, têm alguns desafios parecidos: uma segunda onda do novo coronavírus e uma recuperação pouco linear, que pode ter altos e baixos.
O presidente do banco central do Japão, Haruhiko Kuroda, disse que os efeitos de uma segunda onda da pandemia do coronavírus podem prejudicar a economia japonesa "consideravelmente", sinalizando a prontidão do banco para acelerar medidas de estímulo novamente para amortecer qualquer golpe da crise.
Participando de evento online nesta sexta-feira, Kuroda disse estar "cautelosamente otimista" de que a economia do Japão vai se recuperar gradualmente a partir do segundo semestre deste ano, permitindo que o Banco do Japão reduza suas medidas de resposta à crise.
Na Europa, em outro evento online, a presidente do Banco Central Europeu, Christine Lagarde, disse que a zona do euro "provavelmente superou" o pior da crise econômica causada pela pandemia de cornavírus, mas a recuperação será irregular.
Falando no momento em que os temores de uma segunda onda abalam investidores e o público em geral no mundo, Lagarde adotou um tom construtivo mas pediu às autoridades que usem a trégua atualmente oferecida pelo vírus para que se preparem.
"Provavelmente superamos o ponto mais baixo e digo que com alguma trepidação, porque é claro que pode haver uma segunda onda grave", disse Lagarde.
Países como os Estados Unidos vêm tendo alta no número de novos casos de coronavírus em meio à reabertura da economia, levantando temores nos mercados globais de que a pandemia possa ter um novo pico nos países desenvolvidos. Em países da América do Sul, como o Brasil, que tem mais de 1,2 milhão de casos de coronavírus, a recuperação pode ser ainda mais lenta em meio aos esforços para conter a pandemia.
Nesta semana, o Fundo Monetário Internacional (FMI) atualizou suas projeções para a queda na economia global, que ficaram piores do que no relatório anterior. A organização disse na quarta-feira, 24, que o Produto Interno Bruto (PIB) global encolherá 4,9% neste ano, ante projeção de 3% em abril.
Para o Brasil, as previsões são piores do que no resto do mundo. A projeção de queda do PIB brasileiro em 2020 feita pelo FMI foi de 5,3% no relatório anterior para 9,1%. O Brasil foi um dos que tiveram maior corte na projeção desde o último relatório do FMI, em abril. A previsão do Boletim Focus, que reúne semanalmente as previsões de mercado brasileiro, é de uma queda de 6,5% em 2020. O governo brasileiro ainda prevê queda menor do PIB, de 4,7% no ano.
Resposta dos bancos à crise
Kuroda disse que o banco central japonês não vê necessidade imediata de cortar os juros e, em vez disso, vai se concentrar em aliviar os apertos de financiamento corporativo e estabilizar os mercados com suas ferramentas de empréstimos e compras de ativos.
"A economia do Japão está em uma situação extremamente grave", disse. "No segundo trimestre, provavelmente veremos um crescimento negativo considerável", disse Kuroda.
O Banco do Japão flexibilizou sua política monetária em março e abril, principalmente aumentando a compra de ativos e criando esquemas de empréstimos para canalizar fundos para empresas atingidas pela pandemia. O banco manteve suas metas de taxa de juros.
Lagarde, por sua vez, alertou ainda que a recuperação será "desigual", "incompleta" e "transformadora", o que significa que algumas empresas em setores como viagens aéreas e entretenimento nunca vão se recuperar, enquanto outras sairão mais fortes.
O Banco Central Europeu está no caminho para comprar 1,3 trilhão de euros em títulos e emprestar um volume similar a bancos a taxas negativas para ajudar a economia da zona do euro e evitar um aperto de crédito.