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BC sinaliza contração menor do PIB, mas alerta sobre incerteza fiscal

Para Campos Neto, Brasil deve reforçar sua credibilidade fiscal num momento em que incertezas estão prejudicando os investimentos no país

Campos Neto ressaltou que o país gastou bem mais no enfrentamento à crise do coronavírus que outros mercados emergentes (Amanda Perobelli/Reuters)
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Reuters

Publicado em 19 de outubro de 2020 às 13h00.

O presidente do Banco Central , Roberto Campos Neto, indicou nesta segunda-feira que a contração da economia neste ano deverá ser menor que a recentemente indicada pela autoridade monetária, mas repetiu que o Brasil deve reforçar sua credibilidade fiscal num momento em que incertezas estão prejudicando os investimentos no país.

Em participação online na Milken Institute Global Conference, ele estimou que haverá recuo de cerca de 4,5% do Produto Interno Bruto ( PIB ). No fim de setembro, o BC havia projetado queda de 5% da economia em 2020 em seu Relatório Trimestral de Inflação (RTI).

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Mais cedo nesta manhã, o ministro da Economia, Paulo Guedes, também falou de números melhores para a atividade, prevendo queda de 4% do PIB neste ano, ante perspectiva oficial do Ministério da Economia de -4,7%.

Campos Neto ressaltou que o país gastou bem mais no enfrentamento à crise do coronavírus que outros mercados emergentes, mas que a retomada também está sendo mais forte.

Por outro lado, ele corroborou em mais de um momento a necessidade de o Brasil fortalecer sua credibilidade fiscal para atrair investimentos e achatar a curva de juros, hoje inclinada pelas incertezas em relação à sustentabilidade das contas públicas.

Segundo Campos Neto, é impossível dizer se a Selic continuará no mesmo nível --2% ao ano--, mas frisou que é importante que haja credibilidade para que, qualquer que seja a decisão do BC, haja transmissão para as taxas longas de juros.

O spread entre as taxas de DI para janeiro 2025 e janeiro 2022 --tido como uma medida de percepção de risco-- estava em 319 pontos-base nesta segunda-feira, abaixo da máxima recente (de 355 pontos-base, alcançada no fim de setembro), mas muito acima de mínimas em torno de 250 pontos-base depois de fevereiro/março, quando a pandemia chacoalhou os mercados financeiros globais.

"Entendemos que o desvio (da trajetória fiscal na pandemia) era necessário, mas precisamos comunicar que vamos voltar à disciplina fiscal, esse é um ponto importante que temos hoje", disse Campos Neto.

"A incerteza fiscal está prejudicando um pouco os investimentos no Brasil", complementou ele, acrescentando que é necessário retomar o plano original de abertura de espaço para o investimento privado e resgate da credibilidade.

"No nosso caso, credibilidade será e está conectada a disciplina fiscal e continuidade das reformas. Estou confiante que vamos atingir isso", disse.

As falas de Campos Neto vêm após renovadas preocupações do mercado financeiro com a possibilidade de o estado de calamidade pública ser prorrogado para além de 2020, o que abriria espaço para que o auxílio emergencial continuasse a ser concedido em 2021 sem que fosse preciso obedecer à regra do teto de gastos, que limita o crescimento das despesas públicas à inflação do ano anterior.

O presidente do BC afirmou que o país está num ponto de inflexão importante em que, se mais dinheiro for gasto e houver um programa mais longo de auxílio, o custo em credibilidade é "muito maior do que o benefício da despesa em si".

Campos Neto disse que, para induzir o crescimento, é melhor gastar menos do que mais, uma vez que o país já está sendo penalizado pelo mercado em meio às incertezas fiscais.

Ele também chamou a atenção para a necessidade de melhor comunicação com os investidores para que o país atraia recursos diante de seu forte portfólio, que compreende projetos em infraestrutura e saneamento básico.

"O que precisamos é de credibilidade para assegurar que esse dinheiro venha para o Brasil, porque é isso que vai equilibrar a taxa de câmbio, é isso que vai nos fazer crescer com dinheiro privado", afirmou.

Ainda sobre o câmbio, Campos Neto reconheceu que houve recentemente uma desvalorização maior do real frente ao dólar em relação a seus pares, movimento que atribuiu a diversos fatores, incluindo a baixa taxa de juros num ambiente com muita liquidez, que tende a fazer com que mais agentes façam operações de "hedge" (proteção) com a moeda.

Ele também citou a maior negociação de minicontratos por operadores domésticos, a questão do "overhedge" após mudanças regulatórias e a fragilidade fiscal do país.

O real cai 28,1% ante o dólar em 2020, em termos nominais, pior desempenho entre as principais divisas.

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