BC quer concorrência no sistema bancário para baixar juros

Estimular a concorrência com os grandes bancos é uma das estratégias do Banco Central para diminuir os juros que atualmente são cobrados no país. Foi isso o que disse o diretor de Normas do BC, Sérgio Darcy, em entrevista coletiva concedida na última sexta-feira (6/6), em São Paulo. Devemos aprofundar o debate sobre o papel dos bancos pequenos e médios , disse Darcy. Com sua abrangência, podemos ter maior concorrência no sistema, que deve levar à queda dos juros. O diretor do BC havia acabado de participar de uma reunião com dirigentes da Associação Brasileira de Bancos (ABBC), uma entidade que reúne instituições financeiras de pequeno e médio porte.

O principal tema da reunião foi a participação dos bancos pequenos e médios no aumento do volume de crédito e na redução do spread (a diferença entre o custo de captação de dinheiro e os juros que os bancos cobram nos empréstimos). Apenas demos seqüência a um trabalho que já vínhamos fazendo , disse André Jafferian Neto, diretor do Banco Sofisa e presidente da ABBC. Os diversos fatores que tornam a taxa de juros mais alta no país, como o risco de crédito, a inadimplência, os custos dos bancos e o depósito compulsório, fizeram parte da pauta dos trabalhos. Estamos alinhados com o governo no sentido da capilarização do crédito e da redução do spread , disse Jafferian Neto.

O diretor do Banco Central ressaltou que o órgão já trabalha para diminuir os juros há anos. É preciso dar mais segurança de que o capital vai retornar , disse Darcy. Quanto menor o risco, maior o volume emprestado e menor o spread. Algumas das iniciativas não dependem, no entanto, do governo. O Congresso precisa fazer sua parte, votando por exemplo a Lei de Falências , diz Darcy. Os representantes dos bancos, por sua vez, procuraram deixar bem claro que a queda dos juros lhes interessa. Com juros menores, poderemos girar a carteira mais vezes , disse Leonardo Marcos Benvenuto, diretor da Exprinter Losan e presidente da Acrefi, a associação das financeiras.

Embora os pontos de vista pareçam convergentes, nada deve acontecer do dia para a noite, como o governo às vezes dá a impressão de querer. A bola está dividida com o Banco Central e o Congresso, mas não há prazo para dar resultado , disse Darcy. Em 2000 também havia uma expectativa muito boa para o país, mas daí veio a crise Argentina e acabou com tudo. A inadimplência, apontada como a grande vilã do juro alto, também só teria solução em longo prazo. A principal causa da falta de pagamento é a conjuntura macroeconômica , disse Benvenuto. Ela só vai diminuir quando o país voltar a crescer. Ou seja, está difícil.

Pelo menos um dos entraves para a ampliação do crédito, o depósito compulsório, pode ser superado em curto prazo. Esse é um instrumento de política monetária, utilizado para retirar dinheiro da economia quando há ameaça de inflação ascendente. Acredito que em breve o governo terá condições de reduzir o compulsório , disse Darcy. Depende apenas da melhoria do quadro econômico.

Na reunião da sexta-feira, os dirigentes da ABBC reivindicaram tratamento diferenciado por parte do Banco Central para aumentar a competitividade de seus associados. É fato que as taxas de juro pagas na captação por instituições menores são superiores às das grandes , diz um comunicado distribuído pela entidade aos jornalistas. O tratamento igual quanto ao compulsório de depósitos a prazo e o baixo valor de depósitos à vista acaba impedindo spreads menores.

Por exemplo, a entidade quer que seus filiados paguem suas contribuições para o Fundo Garantidor de Crédito não mais sobre o total de Certificados de Depósito Bancário (CDB) emitidos, mas sim somente sobre a parte garantida, ou seja, até 20 000 reais. Outra medida que o BC prometeu estudar, na área de redução de custos, é a diminuição de informações que os bancos têm de fornecer periodicamente ao órgão fiscalizador. Temos estruturas menores e somos mais ágeis , diz Jafferian Neto. Queremos continuar nos especializando e ocupar nossos espaços.