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BC aponta mais investimentos estrangeiros na indústria

Altamir Lopes, chefe do Departamento Econômico do Banco Central, diz que os investimentos estrangeiros na indústria estão voltando aos patamares de 1995, quando 55% de todo capital aplicado no país era destinado ao setor. Leia abaixo entrevista exclusiva de Lopes à EXAME: Exame - Passada a febre das privatizações, qual é o perfil dos investimentos […]

EXAME.com (EXAME.com)
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Da Redação

Publicado em 9 de outubro de 2008 às 10h54.

Altamir Lopes, chefe do Departamento Econômico do Banco Central, diz que os investimentos estrangeiros na indústria estão voltando aos patamares de 1995, quando 55% de todo capital aplicado no país era destinado ao setor. Leia abaixo entrevista exclusiva de Lopes à EXAME:

Exame - Passada a febre das privatizações, qual é o perfil dos investimentos estrangeiros no Brasil?

Altamir Lopes - Durante um bom tempo os investimentos eram todos canalizados para indústria. Até 1995, 55% dos investimentos eram para indústria, 40% para o setor de serviços e o resto para a agricultura. Com a privatização, o quadro mudou muito. Como se privatizou basicamente serviços vinculados a energia, gás, telefone e abriu-se muito o setor de instituições financeiras, a maior parte do capital migrou para essas áreas. Com isso, o perfil dos investimentos mudou completamente. Essa relação de 55% para indústria em 1995 caiu para 23% em 96, 13% em 97, 12% em 98, 25% em 99 e 17% em 2000. No ano passado, o quadro começou a virar e 33% dos investimentos foram para a indústria. Em 2002, essa relação já está em 42%.

Exame - Por que a indústria voltou a interessar o investidor?

Lopes - Com a privatização, houve um grau de exposição muito grande da economia brasileira. No setor serviços, nem os brasileiros investiam. O investidor externo acabou descobrindo uma série de nichos pelos quais os brasileiros não se interessavam muito. A alimentação, por exemplo, é um alvo grande dos investidores, assim como lavanderias, casa de pão de queijo, bebidas. Há uma série de exemplos de nichos antes não percebidos que começaram a ser descobertos. A privatização na área de infra-estrutura foi importante porque, por meio dos investimentos feitos nessas áreas, que propiciaram a melhoria dos serviços, foi possível se viabilizar investimentos em outros setores. Foi a partir daí que começaram a ressurgir os investimentos na indústria. A indústria foi o passo seguinte ao desenvolvimento do setor de infra-estrutura. Muitas vezes nos criticaram porque o investimento para o setor de serviços não gera exportação. Mas nós sabíamos que o investimento em infra-estrutura básica ia acabar trazendo investimento para a indústria. E é isso que está se dando.

Exame - Que setores da indústria despertam maior interesse?

Lopes - Os investimentos estão ocorrendo em áreas vitais para a economia. Está havendo um crescimento muito forte dos investimentos para fabricação e montagem de veículos automotores -- que é uma indústria que tem uma cadeia produtiva que alavanca muito; produtos químicos e material eletrônico. São produtos intermediários muito vinculados à substituição de importações. No caso de veículos automotores, os investimentos estão voltando aos níveis de 1995. Também há um investimento muito forte em eletrônica e equipamentos de telecomunicações. Antes, as multinacionais instaladas aqui importavam todos os componentes montavam e exportavam. Agora já se vê sinais de investimentos direcionados a essa área que vão representar aumento das exportações mais para a frente. Está havendo uma substituição de importação, até por causa da taxa alta do dólar. O mesmo ocorre com produtos químicos, nafta e fertilizantes. Tudo passa a ser fabricado aqui. O investimento direto para esses setores vai representar aumento de produção. O setor de informática também tem recebido muitos recursos. Essa é uma indústria com um valor agregado muito grande. É de fato um crescimento razoável.

Exame - O que há de diferente nessa nova fase de investimentos para a indústria?

Lopes - Agora setores vitais da economia estão recebendo mais investimentos. Está havendo muita diversificação dos investimentos. Se antes basicamente a indústria automobilística recebia recursos, hoje o quadro está bem diversificado. Mudou também o valor dos investimentos, que está vindo de forma mais permanente. Durante a privatização, houve um período de concentração de investimentos de valores muito elevados. Agora os investimentos estão voltando a patamares bem mais baixos.

Exame - Como é essa pulverização?

Lopes -- O investimento direto em operações iguais ou inferiores a 10 milhões em dólares, em 1996, correspondia a 39,5% do total de investimentos, sem considerar os recursos das privatizações. Em 1997, esse patamar caiu para 29%; em 1998 para 27%; em 1999 para 17% e em 2000, para 15%. Porque começou a concentrar muito em valores altos. Em 2001 o quadro mudou, e a concentração de investimentos até 10 milhões de dólares subiu para 28% e, em 2002, já cresceu para 40%.

Exame - Houve também uma regionalização maior desses investimentos?

Lopes -- Infelizmente não temos dados por região.

Exame - Quais os setores que mais estão recebendo recursos na indústria?

Lopes -- Alguns setores que jamais imaginariam receber recursos estão recebendo. É o caso do petróleo, que é o grande receptor. Há uma destinação grande de dinheiro para produtos alimentícios e bebidas, produtos químicos, veículos automotores, máquinas e equipamentos, materiais elétricos, artigos de borracha e plástico, produtos de metal.

Exame - Qual é a perspectiva futura de fluxo de investimentos?

Lopes - A indústria de extração de petróleo vai receber muitos recursos. As empresas mostram também uma tendência razoável de intenção de investir na indústria de alimentos, automobilística (as montadoras estão com grandes projetos de investimento). Também se vê disposição de investimentos no setor de papel e celulose. Algumas empresas estão dando indicação ao Banco Central de que têm intenção de continuar a investir. Há boas perspectivas também para investimentos em material eletrônico (muitas empresas listadas já manifestaram interesse de investir) e na indústria química. A disposição para investimentos na área de serviços também continua muito forte. A área de correios e telecomunicações continua recebendo muitos recursos, assim como de eletricidade e água e intermediação financeira ( que já foi maior mas ainda há interesse). É um quadro muito promissor, diversificado, com uma participação razoável da indústria.

Exame - Que países estão investindo mais?

Lopes - Também há uma diversificação muito grande. Os Países Baixos, Ilhas Cayman investem muito. Essas empresas que participaram da privatização quase todas vêm de paraísos fiscais. Os recursos vêm de lá por causa das vantagens fiscais. Não é recurso de brasileiro que está retornando, são grandes empresas entrando com recursos no país via paraísos fiscais. No mês de março, o ingresso dos Países Baixos foi de 526 milhões de dólares. Só uma operação de telecomunicações de uma empresa italiana resultou na entrada de 300 milhões de dólares. Também entrou dinheiro no setor de bebidas e no setor financeiro.

Exame - Qual o impacto disso no nível de emprego?

Lopes - O emprego formal, medido pelo Ministério do Trabalho, está crescendo. O IBGE não pega o país inteiro, por isso o emprego formal do IBGE cresce menos. Está, de fato, havendo uma desconcentração da produção gerando mais emprego no interior. Há um dinamismo forte na produção de grãos. Esse setor prefere ter o trabalhador com carteira assinada do que o bóia-fria sem carteira.

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Altamir Lopes, chefe do Departamento Econômico do Banco Central, diz que os investimentos estrangeiros na indústria estão voltando aos patamares de 1995, quando 55% de todo capital aplicado no país era destinado ao setor. Leia abaixo entrevista exclusiva de Lopes à EXAME:

Exame - Passada a febre das privatizações, qual é o perfil dos investimentos estrangeiros no Brasil?

Altamir Lopes - Durante um bom tempo os investimentos eram todos canalizados para indústria. Até 1995, 55% dos investimentos eram para indústria, 40% para o setor de serviços e o resto para a agricultura. Com a privatização, o quadro mudou muito. Como se privatizou basicamente serviços vinculados a energia, gás, telefone e abriu-se muito o setor de instituições financeiras, a maior parte do capital migrou para essas áreas. Com isso, o perfil dos investimentos mudou completamente. Essa relação de 55% para indústria em 1995 caiu para 23% em 96, 13% em 97, 12% em 98, 25% em 99 e 17% em 2000. No ano passado, o quadro começou a virar e 33% dos investimentos foram para a indústria. Em 2002, essa relação já está em 42%.

Exame - Por que a indústria voltou a interessar o investidor?

Lopes - Com a privatização, houve um grau de exposição muito grande da economia brasileira. No setor serviços, nem os brasileiros investiam. O investidor externo acabou descobrindo uma série de nichos pelos quais os brasileiros não se interessavam muito. A alimentação, por exemplo, é um alvo grande dos investidores, assim como lavanderias, casa de pão de queijo, bebidas. Há uma série de exemplos de nichos antes não percebidos que começaram a ser descobertos. A privatização na área de infra-estrutura foi importante porque, por meio dos investimentos feitos nessas áreas, que propiciaram a melhoria dos serviços, foi possível se viabilizar investimentos em outros setores. Foi a partir daí que começaram a ressurgir os investimentos na indústria. A indústria foi o passo seguinte ao desenvolvimento do setor de infra-estrutura. Muitas vezes nos criticaram porque o investimento para o setor de serviços não gera exportação. Mas nós sabíamos que o investimento em infra-estrutura básica ia acabar trazendo investimento para a indústria. E é isso que está se dando.

Exame - Que setores da indústria despertam maior interesse?

Lopes - Os investimentos estão ocorrendo em áreas vitais para a economia. Está havendo um crescimento muito forte dos investimentos para fabricação e montagem de veículos automotores -- que é uma indústria que tem uma cadeia produtiva que alavanca muito; produtos químicos e material eletrônico. São produtos intermediários muito vinculados à substituição de importações. No caso de veículos automotores, os investimentos estão voltando aos níveis de 1995. Também há um investimento muito forte em eletrônica e equipamentos de telecomunicações. Antes, as multinacionais instaladas aqui importavam todos os componentes montavam e exportavam. Agora já se vê sinais de investimentos direcionados a essa área que vão representar aumento das exportações mais para a frente. Está havendo uma substituição de importação, até por causa da taxa alta do dólar. O mesmo ocorre com produtos químicos, nafta e fertilizantes. Tudo passa a ser fabricado aqui. O investimento direto para esses setores vai representar aumento de produção. O setor de informática também tem recebido muitos recursos. Essa é uma indústria com um valor agregado muito grande. É de fato um crescimento razoável.

Exame - O que há de diferente nessa nova fase de investimentos para a indústria?

Lopes - Agora setores vitais da economia estão recebendo mais investimentos. Está havendo muita diversificação dos investimentos. Se antes basicamente a indústria automobilística recebia recursos, hoje o quadro está bem diversificado. Mudou também o valor dos investimentos, que está vindo de forma mais permanente. Durante a privatização, houve um período de concentração de investimentos de valores muito elevados. Agora os investimentos estão voltando a patamares bem mais baixos.

Exame - Como é essa pulverização?

Lopes -- O investimento direto em operações iguais ou inferiores a 10 milhões em dólares, em 1996, correspondia a 39,5% do total de investimentos, sem considerar os recursos das privatizações. Em 1997, esse patamar caiu para 29%; em 1998 para 27%; em 1999 para 17% e em 2000, para 15%. Porque começou a concentrar muito em valores altos. Em 2001 o quadro mudou, e a concentração de investimentos até 10 milhões de dólares subiu para 28% e, em 2002, já cresceu para 40%.

Exame - Houve também uma regionalização maior desses investimentos?

Lopes -- Infelizmente não temos dados por região.

Exame - Quais os setores que mais estão recebendo recursos na indústria?

Lopes -- Alguns setores que jamais imaginariam receber recursos estão recebendo. É o caso do petróleo, que é o grande receptor. Há uma destinação grande de dinheiro para produtos alimentícios e bebidas, produtos químicos, veículos automotores, máquinas e equipamentos, materiais elétricos, artigos de borracha e plástico, produtos de metal.

Exame - Qual é a perspectiva futura de fluxo de investimentos?

Lopes - A indústria de extração de petróleo vai receber muitos recursos. As empresas mostram também uma tendência razoável de intenção de investir na indústria de alimentos, automobilística (as montadoras estão com grandes projetos de investimento). Também se vê disposição de investimentos no setor de papel e celulose. Algumas empresas estão dando indicação ao Banco Central de que têm intenção de continuar a investir. Há boas perspectivas também para investimentos em material eletrônico (muitas empresas listadas já manifestaram interesse de investir) e na indústria química. A disposição para investimentos na área de serviços também continua muito forte. A área de correios e telecomunicações continua recebendo muitos recursos, assim como de eletricidade e água e intermediação financeira ( que já foi maior mas ainda há interesse). É um quadro muito promissor, diversificado, com uma participação razoável da indústria.

Exame - Que países estão investindo mais?

Lopes - Também há uma diversificação muito grande. Os Países Baixos, Ilhas Cayman investem muito. Essas empresas que participaram da privatização quase todas vêm de paraísos fiscais. Os recursos vêm de lá por causa das vantagens fiscais. Não é recurso de brasileiro que está retornando, são grandes empresas entrando com recursos no país via paraísos fiscais. No mês de março, o ingresso dos Países Baixos foi de 526 milhões de dólares. Só uma operação de telecomunicações de uma empresa italiana resultou na entrada de 300 milhões de dólares. Também entrou dinheiro no setor de bebidas e no setor financeiro.

Exame - Qual o impacto disso no nível de emprego?

Lopes - O emprego formal, medido pelo Ministério do Trabalho, está crescendo. O IBGE não pega o país inteiro, por isso o emprego formal do IBGE cresce menos. Está, de fato, havendo uma desconcentração da produção gerando mais emprego no interior. Há um dinamismo forte na produção de grãos. Esse setor prefere ter o trabalhador com carteira assinada do que o bóia-fria sem carteira.

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