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Avanço econômico aumenta chances de greves no segundo semestre

Sindicatos elevam a pressão por ganhos reais, incentivados pelo crescimento da economia e pela queda do desemprego

EXAME.com (EXAME.com)
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Da Redação

Publicado em 9 de outubro de 2008 às 11h06.

A greve dos bancários pode não ser a única deste segundo semestre. Os bons resultados da economia, a contínua queda do desemprego e os ganhos de produtividade das empresas estão incentivando as categorias com data-base neste período a buscar ganhos reais de salário. Para alcançar seus objetivos, não estão descartadas novas paralisações, como a que afetou o sistema financeiro durante 31 dias, até que o movimento fosse suspenso em 15 de outubro para que sindicatos e bancos retomassem as negociações.

"Esse é um semestre mais propenso a greves", afirma Clemente Ganz Lúcio, diretor técnico do Dieese. Um dos motivos é o bom resultado das negociações salariais das categorias com data-base no primeiro semestre. Conforme o departamento intersindical, 208 das 262 negociações conduzidas nesse período obtiveram reajustes iguais ou acima do Índice Nacional de Preços ao Consumidor (INPC) acumulado até a data-base. Foi o melhor resultado para um primeiro semestre desde 1996, quando o Dieese começou a fazer a pesquisa.

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O bom desempenho do país foi o que mais favoreceu os sindicatos entre janeiro e junho. O Produto Interno Bruto (PIB) cresceu 4,2% no primeiro semestre, e o desemprego na Grande São Paulo caiu de 19,1%, em junho, para 18,5% em julho. Conforme Lúcio, a inflação baixa do período também ajudou. O INPC acumulado nos 12 meses encerrados em junho foi de 4,99%, em 2004. No mesmo cálculo para junho de 2003, a inflação estava em 20,44%. "É evidente que as condições melhores levam a expectativas de ganhos maiores", diz Lúcio.

Projeção nacional

A grande maioria das negociações do primeiro semestre foi bem-sucedida sem precisar recorrer a greves. Para Lúcio, o que aumenta a possibilidade de paralisações até dezembro é a projeção nacional das categorias que entram em negociação agora. Entre elas, estão os petroleiros, que já sinalizaram com paralisações-relâmpago nas últimas semanas, os aeroviários, os eletricitários, os químicos e os metalúrgicos.

Para Flávio de Souza Gomes, diretor de Política Sindical da Central Única dos Trabalhadores de São Paulo (CUT-SP), mesmo com o cenário favorável, a greve é um recurso que poderá ser usado. "Só a recuperação econômica não facilita as negociações. Para conseguirmos a reposição salarial, às vezes é preciso recorrer a uma pressão maior", diz.

Mas, se depender das empresas, os sindicatos não conseguirão nada se partirem para a radicalização. "O que aconteceu com os bancários mostrou que esse caminho não dá certo", afirma Aref Farkouh, diretor de Comunicação e Marketing da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp). Com a adesão de 200 mil bancários em diversas cidades, incluindo 24 capitais, foi a maior greve do setor em abrangência. Não foi, porém, a mais longa. Em 1951, o setor parou durante 68 dias. Apesar dos números, o movimento recuou.

Depois de suspender a greve devido à gradual perda de adesão, a Confederação Nacional dos Bancários (CNB), ligada à CUT, voltou às negociações. Ontem (28/10), reuniu-se com a Federação Nacional dos Bancos (Fenaban). Na próxima segunda (1/11), realizará uma assembléia para discutir as propostas dos bancos.

Recuperação gradual

Segundo Farkouh, à medida em que o país consolide o crescimento econômico, o salário real dos trabalhadores crescerá naturalmente. "Os ganhos melhorarão devagar", diz. Foi o que aconteceu no primeiro semestre. Conforme o Dieese, 47,3% das 269 negociações desse período resultaram em reajustes acima do INPC. A maior parte delas (24%) conseguiu ganhos de até 1% acima do INPC. Outros 14%, de 1% a 2%. Apenas quatro categorias conquistaram porcentagens de 4% a 5% acima do INPC.

Mesmo entre as 54 categorias com reposição abaixo do INPC, a maioria delas (28) registrou defasagem menor ou igual a 1% - o que o Dieese atribuiu a erros de arredondamento da inflação acumulada no período pelos sindicatos.

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