Economia

Ata do Copom sinaliza novos aumentos de juros

Após divulgação dos motivos que levaram o Banco Central a aumentar a Selic em janeiro, economistas já descartam corte de juros no primeiro semestre

EXAME.com (EXAME.com)

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Da Redação

Publicado em 9 de outubro de 2008 às 10h57.

Os empresários e os consumidores podem se preparar para novos aumentos da taxa básica de juros (Selic). Além disso, não devem esperar por reduções antes do segundo semestre. Essas são as principais conclusões de economistas, após a divulgação, nesta quinta-feira (27/1), da ata da última reunião do Comitê de Política Monetária (Copom), quando a Selic foi elevada para 18,25% ao ano, sem viés (leia ainda reportagem de EXAME sobre as críticas das empresas à política monetária do Banco Central).

Segundo o documento, o Copom ainda está preocupado com alguns fatores que põem em risco o cumprimento da meta de inflação de 5,1% determinada para 2005. O primeiro é a generalização da expansão da atividade industrial, que deixou de se sustentar apenas nos setores ligados ao agronegócio e à exportação, para atingir também os segmentos dedicados ao mercado interno. Há o temor de que essa difusão do crescimento possa pressionar ainda mais ramos produtivos cuja capacidade instalada esteja no limite, o que geraria uma inflação de demanda.

Outra preocupação do BC é a resistência da inflação em descer a um patamar compatível com a meta deste ano. Na ata, a autoridade monetária lembrou que os núcleos da inflação (índices que desconsideram grupos cujas variações foram muito acima ou muito abaixo da média) aceleraram em dezembro. Em dezembro, o núcleo do Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA, o índice oficial de inflação, que baliza as metas do governo) subiu de 0,62%, em novembro, para 0,67%.

Além disso, o aumento de preços está se espalhando por um número maior de categorias de produtos. No mês passado, 68% dos itens pesquisados no IPCA tiveram alta, sendo que em novembro foram 67,6% e, em outubro, 66,4%. "A persistência dos núcleos em níveis elevados e o comportamento do índice de difusão revelam o processo de disseminação do movimento de alta de preços entre os diversos segmentos da economia", afirma a ata.

Selic em alta

A ata também fornece pistas sobre o que pode acontecer nos próximos meses. A primeira possibilidade é que o Banco Central opte por ajustes mais fortes da Selic. Essa alternativa já foi levantada em janeiro e pode ser aplicada no futuro, se a inflação ainda oferecer resistências. "O Copom já deixou o dedo no gatilho. Se o cenário continuar desfavorável, pode disparar um aumento maior", afirma Sandra Utsumi, economista-chefe do Banco Espírito Santo.

A única certeza, de acordo com Sandra, é que novos aumentos virão. No último trimestre de 2004, o mercado acreditava que o ciclo de ajustes da Selic terminaria em dezembro. A partir daí, os juros permaneceriam estáveis durante o primeiro trimestre de 2005, começando a cair a partir do meio do ano. Mas o ajuste de meio ponto percentual da Selic neste mês mudou as previsões dos economistas, que passaram a apostar em uma nova elevação em fevereiro.

A dúvida, agora, é qual será a intensidade do ajuste do próximo mês, e quantos outros serão feitos. O economista-chefe da Fator Corretora, Vladimir Caramaschi, aposta em 0,25 ponto percentual em fevereiro e manutenção da taxa a partir de março. Para Caramaschi, se os núcleos do IPCA recuarem neste mês, as expectativas de inflação do mercado começarão a convergir com as do BC, permitindo a interrupção do ajuste da Selic em março.

Já Sandra, do BES Investimento, avalia que a ata do Copom sinaliza um aumento mais forte, de 0,5 ponto percentual em fevereiro e de 0,25 a 0,50 ponto em março, o que elevaria a Selic para 19% ou 19,5% no início do segundo trimestre "É possível que apenas no segundo semestre, os juros voltem a cair", afirma Sandra.

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