Apesar de Lagarde, economistas mulheres sofrem discriminação
A tão celebrada ascensão da advogada e política (e não economista) Christine Lagarde como primeira mulher a comandar o BCE é atípica
Ligia Tuon
Publicado em 27 de outubro de 2019 às 08h00.
Última atualização em 27 de outubro de 2019 às 08h00.
Hostilidade e discriminação aguardam mulheres que ousam invadir o universo predominantemente masculino de economia e política monetária, de acordo com estudos apresentados durante uma conferência do Banco Central Europeu na segunda-feira.
Pesquisas mostram que a tão celebrada ascensão da advogada e política (e não economista) Christine Lagarde como primeira mulher a comandar o BCE é atípica.
Em Frankfurt, um estudo apresentado por Alicia Modestino, da Northeastern University, codificou interações entre palestrantes e o público em centenas de seminários sobre economia. A pesquisa mostrou que o público consome mais tempo das palestrantes do sexo feminino e é mais propenso a colocar perguntas hostis.
”A cultura de seminários em economia é distintamente agressiva”, disse Modestino. “Este artigo é a primeira tentativa sistemática de quantificar se a cultura nos seminários provoca tratamento desigual.”
Um relatório do Banco da Espanha mostrou que trabalhos feitos somente por autoras e submetidos a conferências de economia têm 3,2% menos chance de aceitação do que artigos escritos apenas por homens, mesmo depois do ajuste para diversos fatores.
Essa diferença foi inteiramente atribuída a tomadores de decisão do sexo masculino, que favorecem trabalhos escritos por homens, segundo o estudo. Mulheres com esse poder de decisão avaliam de maneira semelhante artigos de autoria masculina e feminina.
O BCE está fazendo um esforço para corrigir o desequilíbrio entre os gêneros, implementando metas de cotas para posições gerenciais.
No entanto, as autoridades são nomeadas por governos, que não ajudam muito. Quando assumir o cargo, em 1º de novembro, Lagarde será a única mulher ocupando um dos 25 assentos no Conselho Geral do BCE.