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Ano eleitoral atrapalhará o superávit primário, diz Bacha

Para o ex-presidente do BNDES, Edmar Bacha, governo dificilmente conterá a pressão pelo aumento de gastos

EXAME.com (EXAME.com)
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Da Redação

Publicado em 9 de outubro de 2008 às 10h37.

Apesar do mantra entoado pela equipe econômica de que manterá a austeridade fiscal a qualquer custo, o governo acabará se dobrando às pressões por aumento de gastos neste ano eleitoral e não repetirá a economia de quase 5% do PIB, registrada no ano passado. A previsão é do economista Edmar Bacha, ex-presidente do BNDES. Em 2005, o país obteve um superávit de 4,84% do PIB, equivalente a 93,5 bilhões de reais.

Segundo Bacha, a corrida eleitoral fará o governo acelerar os gastos, o que deverá trazer o superávit para perto da meta oficial de 4,25%, adotada voluntariamente pelo Brasil após o término do acordo com o Fundo Monetário Internacional, há um ano. "A redução do superávit primário é preocupante", afirmou, após participar de seminário sobre as perspectivas da economia brasileira, realizado pela consultoria Tendências na capital paulista.

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Um dos reflexos da flexibilização da política fiscal, para o economista, é a manutenção de um elevado patamar da relação dívida/PIB - um dos indicadores que, segundo os analistas, ainda impede que o país obtenha o grau de investimento conferido pela agências internacionais de risco. Apesar do forte superávit registrado em 2005, a dívida líquida mobiliária do governo federal fechou o ano equivalente a 50,5% do PIB.

Para Bacha, nenhuma evolução deve ser esperada em 2006. "Dada a disputa eleitoral , o governo não tem condições de assegurar uma redução da proporção da dívida sobre o PIB, por meio de um forte ajuste fiscal", disse. A nova configuração do governo, após a crise política e a saída de ministros para concorrer aos pleitos deste ano, também reforça essa avaliação. Bacha lembra que, em suas primeiras declarações, o novo ministro da Fazenda, Guido Mantega, não deu sinais de que está disposto a apertar a política fiscal neste ano. Sua colega da Casa Civil, a ministra Dilma Rousseff, também se opõe a medidas semelhantes.

Sem solavancos

Apesar do previsível afrouxamento fiscal, o país atravessará as eleições sem solavancos, desde que a polarização da disputa presidencial ocorra, como prevêem os analistas, entre o presidente Luiz Inácio Lula da Silva e seu adversário tucano, o ex-governador paulista Geraldo Alckmin. "Será uma eleição tranqüila", afirmou Bacha.

A avaliação é compartilhada por um membro do governo, o diretor de Política Econômica do Banco Central, Afonso Bevilaqua. Em sua apresentação, Bevilaqua repetiu, em linhas gerais, as conclusões do último relatório trimestral de inflação do Banco Central, publicado em março. "Este será um ano de inflação baixa e crescimento elevado", disse.

O crescimento se sustentará na progressiva redução das taxas de juros - mencionada por Bevilaqua como "flexibilização da política monetária" -, pela retomada dos investimentos produtivos, aumento da massa salarial por meio da redução do desemprego e da expansão da renda real, e pelo maior volume de crédito, entre outros. A agricultura, um dos setores mais prejudicados no ano passado devido à quebra da safra, deve retomar o fôlego e contribuir para o PIB também, segundo o diretor do BC. Assim como o presidente do BC já fez na semana passada, Bevilaqua também admitiu que os juros reais brasileiros "estão altos", mas destacou que a trajetória é de queda.

A taxa de expansão, contudo, não é consenso entre os economistas. Embora Bevilaqua afirme que o país crescerá 4% neste ano, os participantes do mesmo painel do seminário da Tendências foram unânimes em afirmar que a taxa será de 3,5%: o ex-ministro da Fazenda e sócio da Tendências Mailson da Nóbrega; o ex-presidente do BC Gustavo Loyola; e o economista Edmar Bacha. "Os dados do primeiro trimestre não indicam uma retomada tão forte do crescimento quanto o BC afirma", disse Bacha.

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